domingo, 9 de julho de 2017



O VELHO E SEU STATUS NO CONTEXTO POLÍTICO: CASO AMAZONINO MENDES


Ademir Ramos (*)

Fui provocado por diversas vezes a recorrer às leituras especializadas pra dar explicação sobre o velho e seu status no contexto de desenvolvimento social, político e econômico. Principalmente, quando veio à tona que o ex-governador Amazonino Mendes, com 77 anos, seria candidato ao governo do Estado, logo após a cassação do governador José Melo. Para quem estuda a matéria, o momento político é um excelente recorte para examinar o preconceito, a discriminação e o destrato com o velho e sua condição existencial. O que nos assusta são os argumentos carregados de ódio e vingança visando unicamente excluir “o velho” das disputas eleitorais, negando sua biografia e sua história no campo das políticas públicas. De forma irônica, mas, muito consciente do seu status, Amazonino Mendes respondeu dizendo que é candidato ao governo e não a maratona de São Silvestre. Da mesma forma que não se deve excluir um determinado candidato por ser velho, não se deve também negar ao jovem a oportunidade de concorrer e perseguir seus sonhos na política.

ANIMAL POLÍTICO: O fato é que tanto o velho quanto o jovem são animais políticos e sua construção se faz no curso da história tal como um caminhante que vislumbra uma longa estrada ao percorrê-la chegará ao fim insatisfeito por não dar conta de todos os problemas que lhe foram postos. Ademais, saibamos que entre a receita e o bola, a vontade e o fazer, há uma grande diferença que só supera-se pela experiência reflexiva de forma dialógica entre gerações, combatendo toda e qualquer forma de preconceito, considerando ainda que o velho tanto na família como na política são sujeitos produtivos capazes de pensar, amar e sonhar. Contudo, na lógica do capital o processo de trabalho desvalorizou o saber da experiência, a memoria e as lembranças como produto, condenando a pessoa ao silencio e ao abandono, excluindo socialmente do processo de produção.  Desta feita, o velho por ser improdutivo é descartável. O grande dilema é que sua substituição não se encontra feita, é preciso investir, criar, construir, não está disponível no mercado. No campo da política, o saber e o fazer quando compreendido de forma reflexiva é capaz de recriar o mundo e dar novas respostas para superação dos problemas recorrentes, resgatando do anonimato o velho, não pela sua natureza, mas, sobretudo, por sua competência e habilidades conectadas socialmente com os seus, no mundo material e simbólico. Assim sendo, o diálogo impera mediado pelo respeito e pelo conhecimento capaz de mover a pedra do caminho não pela força, mas pelo conhecimento acumulado convertido em ciência, tecnologia e inovação gestado de forma compartilhado impulsionado por valores republicanos sob a ordem dos instrumentos de controle social, como bem requer a prática da Democracia Participativa.

EXPERIÊNCIA: Esta é uma forma de saber construída a partir de uma prática reflexiva, não nos é dada, é uma construção orientada pela práxis, que nos faz pensar e redimensionar nossas ações. A repetição e a mesmice acabam sendo a negação deste saber por não ser contextualizada tornando-se prisioneiras de narrativas mágicas afrontando a racionalidade histórica e a dinâmica das culturas. Deste modo, deixamos de ser objeto da natureza e passamos a intervir como protagonista na política e na ciência sempre aprendendo e ensinando, isto vale tanto para o jovem quanto para o velho. Contudo, se ambos não forem abertos ao diálogo e aos novos aprendizados todos estarão condenados ao atraso. Por esta razão, encaramos como preconceito e ignorância os discursos de alguns iluminados contra a participação do Amazonino no pleito eleitoral na certeza que o povo saberá avaliar nas urnas, confirmando o melhor para o Amazonas.

(*) É professor, antropólogo, coordenador do NCPAM/UFAM e do projeto Jaraqui. E-mail: ademiramos@hotmail.com

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