O
VELHO E SEU STATUS NO CONTEXTO POLÍTICO: CASO AMAZONINO MENDES
Ademir
Ramos (*)
Fui
provocado por diversas vezes a recorrer às leituras especializadas pra dar
explicação sobre o velho e seu status no contexto de desenvolvimento social,
político e econômico. Principalmente, quando veio à tona que o ex-governador Amazonino
Mendes, com 77 anos, seria candidato ao governo do Estado, logo após a cassação
do governador José Melo. Para quem estuda a matéria, o momento político é um
excelente recorte para examinar o preconceito, a discriminação e o destrato com
o velho e sua condição existencial. O que nos assusta são os argumentos
carregados de ódio e vingança visando unicamente excluir “o velho” das disputas
eleitorais, negando sua biografia e sua história no campo das políticas públicas.
De forma irônica, mas, muito consciente do seu status, Amazonino Mendes
respondeu dizendo que é candidato ao governo e não a maratona de São Silvestre.
Da mesma forma que não se deve excluir um determinado candidato por ser velho,
não se deve também negar ao jovem a oportunidade de concorrer e perseguir seus
sonhos na política.
ANIMAL
POLÍTICO: O fato é que tanto o velho quanto o jovem são animais políticos e sua
construção se faz no curso da história tal como um caminhante que vislumbra uma
longa estrada ao percorrê-la chegará ao fim insatisfeito por não dar conta de
todos os problemas que lhe foram postos. Ademais, saibamos que entre a receita
e o bola, a vontade e o fazer, há uma grande diferença que só supera-se pela
experiência reflexiva de forma dialógica entre gerações, combatendo toda e
qualquer forma de preconceito, considerando ainda que o velho tanto na família
como na política são sujeitos produtivos capazes de pensar, amar e sonhar.
Contudo, na lógica do capital o processo de trabalho desvalorizou o saber da
experiência, a memoria e as lembranças como produto, condenando a pessoa ao silencio
e ao abandono, excluindo socialmente do processo de produção. Desta feita, o velho por ser improdutivo é
descartável. O grande dilema é que sua substituição não se encontra feita, é
preciso investir, criar, construir, não está disponível no mercado. No campo da
política, o saber e o fazer quando compreendido de forma reflexiva é capaz de
recriar o mundo e dar novas respostas para superação dos problemas recorrentes,
resgatando do anonimato o velho, não pela sua natureza, mas, sobretudo, por sua
competência e habilidades conectadas socialmente com os seus, no mundo material
e simbólico. Assim sendo, o diálogo impera mediado pelo respeito e pelo
conhecimento capaz de mover a pedra do caminho não pela força, mas pelo
conhecimento acumulado convertido em ciência, tecnologia e inovação gestado de
forma compartilhado impulsionado por valores republicanos sob a ordem dos instrumentos
de controle social, como bem requer a prática da Democracia Participativa.
EXPERIÊNCIA:
Esta é uma forma de saber construída a partir de uma prática reflexiva, não nos
é dada, é uma construção orientada pela práxis, que nos faz pensar e
redimensionar nossas ações. A repetição e a mesmice acabam sendo a negação
deste saber por não ser contextualizada tornando-se prisioneiras de narrativas
mágicas afrontando a racionalidade histórica e a dinâmica das culturas. Deste
modo, deixamos de ser objeto da natureza e passamos a intervir como protagonista
na política e na ciência sempre aprendendo e ensinando, isto vale tanto para o
jovem quanto para o velho. Contudo, se ambos não forem abertos ao diálogo e aos
novos aprendizados todos estarão condenados ao atraso. Por esta razão,
encaramos como preconceito e ignorância os discursos de alguns iluminados
contra a participação do Amazonino no pleito eleitoral na certeza que o povo saberá
avaliar nas urnas, confirmando o melhor para o Amazonas.
(*)
É professor, antropólogo, coordenador do NCPAM/UFAM e do projeto Jaraqui.
E-mail: ademiramos@hotmail.com
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