O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF),
acolheu pedido de reconsideração formulado pela Coligação “Renovação e
Experiência” na Ação Cautelar (AC) 4342, e manteve a realização das eleições
suplementares para governador e vice-governador do Amazonas, que haviam sido
determinadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), marcadas para o dia 6 de
agosto.
Ademir
Ramos (*)
Não
há mal que dure para sempre. A máxima é verdadeira e nos faz pensar sobre a
credibilidade das estruturas de poder quanto às relações institucionais. Em
discussão, a Democracia como forma de governo assentada na legitimidade do voto
como expressão da soberania popular. Todavia, feito o diagnóstico da doença que
ameaça o corpo vivo da democracia inicia-se os procedimentos com firme de
propósito de restaurar a vitalidade das instituições reequilibrando suas forças
relativas aos poderes constitucionais. Na verdade, o que identificamos como
doença, não deixa de ser um novo reordenamento do campo político alinhado com a
força do capital deslocando para os tribunais o processo decisório, que
relativiza a soberania popular a favor dos interesses econômicos dominantes a
se manifestar no Brasil na prática da judicialização da política, sobretudo, a
partir da Constituição de 1988. Esta tensão se intensifica muito mais quando se
trata do processo eleitoral. Nesta circunstancia, o poderio econômico presente
nos tribunais volta-se mais para os meios do que para os fins, esta lida se faz
a peso de ouro por meio das bancas de advogados superespecializadas, quase
sempre formada por ex-ministros oriundos das instancias superiores da Justiça,
deslocando, para os tribunais o julgamento das urnas.
DE
ONDE VEM A GRANA: A regra é básica se estas bancas de advogados são contratadas
a peso de ouro resta-nos saber de onde vem a grana que move esta força nos
tribunais afrontando a vontade popular. Com o Mensalão e a Operação Lava Jato
em curso fica mais fácil responder a origem do dinheiro transferido do
orçamento público e de empresas de economia mista para as construtoras ou
empresas privadas que repassam em forma de propina para parlamentares,
governadores e demais agentes públicos alimentando o circulo vicioso da
corrupção na política. É sabido que
neste campo não tem santo, o que aumenta ainda mais o dever dos tribunais
especializados, do ministério público, da imprensa e dos instrumentos de
controle social quanto à aplicação da política fiscal e os gastos orçamentários
do governo tanto no Planalto como na Planície. No Amazonas, a crise nos fere
profundamente ameaçando a receita do Estado e o fluxo das contas públicas. Não
bastasse a verticalização da crise política, econômica e moral advinda de
Brasília, o povo do Amazonas é golpeado também pelo desgoverno de seus
mandatários vivendo num estado sem fé, sem lei e sem rei.
O
QUE FAZER: Combater a corrupção na política punindo exemplarmente os corruptos
mandando pra cadeia os criminosos e, simultaneamente, restituir para os cofres
públicos o montante que fora roubado. Para este fim deve-se manifestar todo apoio
aos agentes da operação Lava Jato e aos demais instrumentos de controle interno
e externo devendo ser institucionalizado em todos os poderes da República.
Promover campanhas públicas mostrando que a corrupção nos poderes constituídos
é uma das principais razões da precarização das políticas públicas, da instabilidade
institucional e do enfraquecimento da democracia. Resgatar de imediato a todo
custo o valor do voto como plataforma de sustentação dos Poderes Republicanos de
forma clara e objetiva, como bem afirma o douto professor Lenio Luiz Streck, em
sua obra - Verdade e Consenso: “O Constitucionalismo (Contemporâneo) deve
significar uma ruptura como o positivismo”. Em suma, todo o poder emana do povo,
deixando claro que eleição se ganha nas urnas e não nos tribunais a peso de
ouro ajuizado pelo arbítrio de um magistrado e pela arrogância de um candidato
corrupto contrariando o julgamento popular das ruas a favor do Estado
Democrático de Direito.
(*)
É professor, antropólogo, coordenador do NCPAM/UFAM e do projeto jaraqui.
E-mail: ademiramos@hotmail.com
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