sexta-feira, 28 de julho de 2017



JOVENS E VELHOS NUMA CONJUNTURA GOVERNAMENTAL


Ademir Ramos (*)
A questão em pauta remete-nos aos tempos primórdios às vezes reduzida ao conflito de geração para explicar o desenvolvimento cognitivo da pessoa na sua totalidade. Este processo muitas vezes não foi bem compreendido pelos pensadores visto que alguns interpretavam os fatos de forma linear como se fossem desconectados da sociedade, da cultura, das relações sociais. Desta forma, procuravam ler os conflitos de forma antagônicos excluindo as relações dialógicas entre jovens e velhos como se um fosse à negação do outro. Esta visão pouco ou nada ajuda explicar o desenvolvimento humano porque fragmenta a compreensão da formação da pessoa. O fato é que o jovem de hoje será o velho de amanhã e se não souber ler os momentos numa perspectiva cumulativa e história de sua trajetória tanto o jovem quanto o velho estarão fadados à solidão da própria existência embrutecidos pela exploração do trabalho submetido ao domínio político de determinada forma de governo autoritário a expropriar a liberdade e a consciência destes atores no curso da história.  A discussão ganha folego quando contextualizamos estas relações no campo da política enquanto formação socioeconômica considerando que o processo de aprendizado requer saber, conhecimento, ciência e domínio de tecnologia focado num determinado processo de trabalho orientado por políticas sociais, distributivas aptas a promover a dignidade e a justiça social.   
    
O TEMPO É IMPLACÁVEL: Esta é uma das verdades que persegue a todos, em particular os explorados, os povos subordinados a viverem sob o jugo dos necolonizadores, que dominam geopoliticamente territórios e continentes pela força do capital a acumular riqueza e poder. Nesta divisão internacional do trabalho, como novo reordenamento da geopolítica globalizante, a nossa Amazônia, historicamente, tem servido de reserva para o Brasil e o mundo enquanto seu povo saqueado vive na perversa desigualdade social acantonado em cidades bravias morando em sua maioria em casebres insalubres excluídos socialmente a se beneficiar de políticas públicas de péssima qualidade assim formuladas por governantes e políticos corruptos, medíocres, que vivem a custa da miséria desta gente. Não bastasse tudo isto, a conjuntura política nacional tem sido gestada por organização criminosa alimentada pela corrupção e cooptação, transformando alguns partidos políticos em facções criminosas afrontando as instituições democráticas e o Estado Democrático de Direito.

O DESAFIO DE UM GOVERNANTE: Neste cenário a discussão e o debate não se reduzem em conflitos de geração, mas, sobretudo, no embate entre capital e trabalho, ricos e pobres, colonizador e colonizado, explorador e explorados, a merecer dos intelectuais da política toda atenção necessária para analisar estas relações de poder e, em particular, o compromisso dos governantes e parlamentares que se apresentam como mediadores deste povo a pactuar com esta política da miséria ou quem sabe promova sonho e esperança criando condições para o processo libertário, a despertar nos corações e mentes dos jovens e velhos o sopro da liberdade, da prosperidade e da justiça distributiva em respeito à efetiva política dos Direitos Sociais. Nestas condições faz-se necessário investir no processo democrático não para compartilhar a miséria política, social e moral, mas para resgatar a autoestima dos jovens e velhos que na qualidade de explorados sentem-se humilhados e desprovidos de seus Direitos Fundamentais a viverem excluídos da política e da sociedade. Se assim for, o governante tem o dever de catalisar as forças sociais e reaparelhar o Estado, definindo com clareza o que fazer e como fazer focado nas questões sociais que afligem o povo em sua alma, devendo tal governante se apropriar da natureza da juventude chamando para si o poder de reflexão sobre a prática coletiva direcionando seus atos para o bem-estar da sociedade compartilhando poder, riqueza, educação, cultura, ciência e saber sob o taco da vontade popular.

(*) É professor, antropólogo, coordenador do NCPAM/UFAM e do projeto Jaraqui. E-mail: ademiramos@hotmail.com                              

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