JOVENS E VELHOS NUMA
CONJUNTURA GOVERNAMENTAL
Ademir Ramos (*)
A questão em pauta remete-nos aos tempos
primórdios às vezes reduzida ao conflito de geração para explicar o
desenvolvimento cognitivo da pessoa na sua totalidade. Este processo muitas
vezes não foi bem compreendido pelos pensadores visto que alguns interpretavam
os fatos de forma linear como se fossem desconectados da sociedade, da cultura,
das relações sociais. Desta forma, procuravam ler os conflitos de forma
antagônicos excluindo as relações dialógicas entre jovens e velhos como se um
fosse à negação do outro. Esta visão pouco ou nada ajuda explicar o
desenvolvimento humano porque fragmenta a compreensão da formação da pessoa. O
fato é que o jovem de hoje será o velho de amanhã e se não souber ler os
momentos numa perspectiva cumulativa e história de sua trajetória tanto o jovem
quanto o velho estarão fadados à solidão da própria existência embrutecidos
pela exploração do trabalho submetido ao domínio político de determinada forma
de governo autoritário a expropriar a liberdade e a consciência destes atores
no curso da história. A discussão ganha
folego quando contextualizamos estas relações no campo da política enquanto
formação socioeconômica considerando que o processo de aprendizado requer
saber, conhecimento, ciência e domínio de tecnologia focado num determinado
processo de trabalho orientado por políticas sociais, distributivas aptas a
promover a dignidade e a justiça social.
O TEMPO É IMPLACÁVEL: Esta é uma das verdades que persegue
a todos, em particular os explorados, os povos subordinados a viverem sob o
jugo dos necolonizadores, que dominam geopoliticamente territórios e
continentes pela força do capital a acumular riqueza e poder. Nesta divisão
internacional do trabalho, como novo reordenamento da geopolítica globalizante,
a nossa Amazônia, historicamente, tem servido de reserva para o Brasil e o
mundo enquanto seu povo saqueado vive na perversa desigualdade social
acantonado em cidades bravias morando em sua maioria em casebres insalubres
excluídos socialmente a se beneficiar de políticas públicas de péssima
qualidade assim formuladas por governantes e políticos corruptos, medíocres,
que vivem a custa da miséria desta gente. Não bastasse tudo isto, a conjuntura
política nacional tem sido gestada por organização criminosa alimentada pela
corrupção e cooptação, transformando alguns partidos políticos em facções
criminosas afrontando as instituições democráticas e o Estado Democrático de
Direito.
O DESAFIO DE UM
GOVERNANTE: Neste
cenário a discussão e o debate não se reduzem em conflitos de geração, mas,
sobretudo, no embate entre capital e trabalho, ricos e pobres, colonizador e
colonizado, explorador e explorados, a merecer dos intelectuais da política
toda atenção necessária para analisar estas relações de poder e, em particular,
o compromisso dos governantes e parlamentares que se apresentam como mediadores
deste povo a pactuar com esta política da miséria ou quem sabe promova sonho e esperança
criando condições para o processo libertário, a despertar nos corações e mentes
dos jovens e velhos o sopro da liberdade, da prosperidade e da justiça
distributiva em respeito à efetiva política dos Direitos Sociais. Nestas
condições faz-se necessário investir no processo democrático não para
compartilhar a miséria política, social e moral, mas para resgatar a autoestima
dos jovens e velhos que na qualidade de explorados sentem-se humilhados e
desprovidos de seus Direitos Fundamentais a viverem excluídos da política e da
sociedade. Se assim for, o governante tem o dever de catalisar as forças
sociais e reaparelhar o Estado, definindo com clareza o que fazer e como fazer
focado nas questões sociais que afligem o povo em sua alma, devendo tal governante
se apropriar da natureza da juventude chamando para si o poder de reflexão
sobre a prática coletiva direcionando seus atos para o bem-estar da sociedade
compartilhando poder, riqueza, educação, cultura, ciência e saber sob o taco da
vontade popular.
(*) É professor, antropólogo, coordenador do NCPAM/UFAM e do
projeto Jaraqui. E-mail: ademiramos@hotmail.com
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