domingo, 31 de janeiro de 2021

CONTRA E A FAVOR DO PREFEITO DE MANAUS

 


“O prefeito David Almeida cedeu à vontade e interesses de seus patrocinadores e apoiadores perdendo a visão estratégica quanto à unidade das ações talvez pelo personalismo ou quem sabe por falta de interlocutores de confiança neste processo decisório”.                  

Ademir Ramos (*)

A situação requer que faça uma análise estruturante para compreender e explicar o que trava o governo do prefeito David Almeida (Avante) frente à prefeitura da capital do Amazonas, inviabilizando seu avanço e a eficácia de suas ações relativas às políticas públicas, sobretudo, em atenção à saúde pública quanto à campanha de imunização no município.

As críticas e processos denunciam que o prefeito David Almeida agiu com irresponsabilidade no cumprimento do seu dever na execução da campanha de vacinação contra a covid-19, favorecendo seus apaniguados e por isso sendo chamado de fura-fila. Embora o prefeito negue estas acusações, o caso foi parar na justiça com pedido de prisão feito pelo ministério público estadual.

VAMOS AOS FATOS: A eleição do prefeito David Almeida resulta de articulação direta do governador do Amazonas Wilson Lima (PSC), alinhado com o ex-deputado federal Pauderney Avelino (DEM), então secretario do governo do Amazonas, em São Paulo, que indicou ou referendou o nome do vice Marcos Rotta (DEM), na chapa de David Almeida. Pauderney Avelino, figura carimbada do DEM, com transito junto ao governo Bolsonaro e na Câmara Federal, foi exonerado da secretaria de governo e passou a fazer o meio de campo da candidatura do David Almeida, agregando capital para dar explosão à campanha contra o adversário ou inimigo comum que era Amazonino Mendes (Podemos).

ESCOLHA DO SECRETARIADO: Eleito pelos manauaras num pleito disputadíssimo, o prefeito David Almeida, de imediato mostrando ativismo político dos iniciantes, com justa razão chamou para si a responsabilidade de nomear o secretariado e demais agentes diretos e indiretos, não mais pautado pelo projeto político que defendera no curso de sua campanha e muito menos seguido por definições de prioridades tal como saúde, trabalho e renda; ao contrário agiu loteando as secretarias e funções para atender patrocinadores e apoiadores afetivos e afins juntando alho com bugalho na pretensão juvenil de sustentar a unidade operacional de seu governo. Sob pressão, o prefeito David Almeida cedeu à vontade e interesses de seus patrocinadores e apoiadores perdendo a visão estratégica quanto à unidade das ações talvez pelo personalismo ou quem sabe por falta de interlocutores de confiança neste processo decisório.                   

CONJUNTURAL: O prefeito David Almeida, neste primeiro janeiro de 2021, tem tropeçado na própria perna, em outras palavras, se deixou amarrar e agora parece com aquele mágico preso no fundo do mar que luta contra o tempo para se desatar das correntes. No caso do prefeito, ele pode se transformar em “boi de piranha”, servindo de isca para alimentar políticos vorazes que estão contrariados em seus interesses querendo de toda forma empurrá-lo de ladeira abaixo. O prefeito é um criador de cobras e o pior de tudo não aprendeu a domá-las por esta razão corre severo risco de cair na vala comum da política. O bom senso nos ensina que ainda é cedo para qualquer avaliação finalística. No entanto, neste momento comporta-se como um lutador parado no ringue apanhando de todos os lados, isolado no seu próprio canto porque as cobras que ele nomeou rastejam em direção contrária e tudo farão para fraquejar. No momento agora responde somente aos problemas que ele e seus agentes engendraram no executivo municipal, mas se não reorganizar suas ações, em breve terá problemas com a própria câmara municipal quando as demandas populares vieram à baila na perspectiva das eleições do próximo ano. Contudo, sabe-se também que nas crises as lideranças políticas são testadas quem sabe se para o prefeito de Manaus não é uma boa oportunidade para mostrar sua liderança resolutiva, o certo é que não se faz omelete sem quebrar os ovos, eis o paradoxo.                     

(*) É professor, antropólogo, coordenador do projeto jaraqui e do NCPAM do Dpto. de Ciências Sociais da UFAM. E-mail: ademiramos@hotmail.com

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