segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

EM DISCUSSÃO O FUTURO DA UFAM


Em entrevista ao NCPAM, a professor Maria Izabel de Medeiros Valle, discutindo a Universidade Brasileira acredita que os dirigentes não conseguem superar o modelo tradicional em relação ”a implantação dos princípios empresariais”, que exige das instituições acadêmicas índices de produtividades, nos moldes que o mercado impõe. Quanto à presença da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) no interior do Estado, a professora Izabel Valle como é conhecida no movimento docente, diz que “tem sido tímido, muito tido”.

Relativo às eleições para Reitoria, que será no dia 02 de abril próximo, a professora Izabel reclama por um congresso universitário, que promova as discussões das teses em função de se construir coletivamente a universidade que queremos. “Acho que nós devemos pensar no processo eleitoral para o segundo semestre para valorizar a participação da comunidade”, enquanto instrumento de controle acadêmico.

A professora Izabel Valle é doutora em sociologia e antropologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi fundadora do curso de Ciências Sociais, juntamente com o coordenador do NCPAM, professor Ademir Ramos, fundou também a pós-graduação em Sociologia, onde exerce atualmente a vice-coordenadoria do programa. Foi eleita Presidente da Associação dos Docentes da UFAM para o exercício 1989-1991, sendo posteriormente eleita também para Direção do Instituto de Ciências Humanas e Letras da UFAM (2002 a 2006). Izabel Valle é professora efetiva da UFAM lotada no Departamento de Ciências Sociais, onde exerce sua prática política pedagógica com competência e determinação. Confira a entrevista participando das discussões e formulando propostas que possam contribuir para consolidação da UFAM como instrumento indutor do Desenvolvimento na Amazônia.

Professora nós queríamos saber se é verdade que a universidade brasileira realmente está na UTI?

Acho que essa pergunta é bastante instigante e provocadora também, como é seu estilo, mas o que eu penso é que a universidade brasileira, na verdade, teve toda uma perspectiva a partir do governo militar de aumentar a produtividade, quer dizer, essa idéia de aumentar a produtividade é uma coisa que vem desde a ditadura e que foi ao longo do tempo, se afirmando dentro da universidade de tal sorte que hoje, o que nós temos é a idéia que vigora com muita força, da implantação dos princípios administrativos e empresariais no âmbito da própria universidade. Isso obviamente tem gerado situações de conflito em função de que se passa a pensar o que é próprio da universidade, aumentando a competição em seu interior e ao mesmo tempo a universidade sofre em razão de que ela não detém as razões do trabalho necessários pra que essa competição efetivamente vigore nos termos das universidades européias e americanas.

Então, trata-se de uma discussão sobre modelo de gestão?

Sim, sobre o modelo de gestão. Eu penso que nós estamos vivendo uma crise bastante profunda que vai se refletir na sala de aula, nas condições de trabalho, na segurança e outros setores. Exatamente porque se passa a ter a universidade como uma instituição prestadora de serviço, enquanto tal, obviamente, como uma mercadoria, se passa a perceber o estudante como um cliente Ora, então a verdadeira função da universidade, enquanto formadora e produtora de conhecimento se dá simultaneamente numa luta para a implementação de princípios administrativos empresariais, objetivando, sobretudo a produtividade e, em alguns momentos a lucratividade também. Daí a explosão que se viu em determinados momentos dos cursos de especialização pagos, implantados na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), bem como outros cursos conveniados. A forma como foram implementados gerou uma cunha imensa entre os professores porque na verdade não se sabia lidar com aquele tipo de programas e, em face dos baixos salários, o que se via era na verdade uma disputa por quem haveria de ministrar as disciplinas para determinadas áreas.

Pois bem, diante dessas circunstancias, como explicar o nosso desenvolvimento em termos de UFAM, quer dizer, em termos regionais?

Eu penso que nós temos dado uma contribuição enorme em que pesem essas diretrizes porque nós fomos, assim como a universidade brasileira como um todo, avançando muito significativo no momento em que o movimento docente, organizado, local, nacionalmente; como também, os próprios servidores e estudantes engendraram toda uma luta no processo de democratização da instituição, promovendo as mudanças substantivas no seu interior, no sentido de buscar melhoria na graduação e fundar os cursos de pós-graduação. Veja como é recente a pós-graduação no Brasil e na Universidade Federal do Amazonas ela está em processo de construção porque também é muito recente. A universidade enquanto tal, pensada como articulação do ensino de graduação, de pós-graduação, juntamente coma pesquisa e a extensão é um fato muito recente na universidade brasileira, sobretudo na região norte, em função de que esses processos foram se dando muito lentamente mesmo. Avançamos em determinadas áreas, mas nós não avançamos em outras importantes também. Se nós formos pegar, por exemplo, a nossa regulamentação, ela ainda é oriunda do período militar. Nós pouco avançamos em termos da normatização. A universidade é uma burocracia pesada, ela é extremamente lenta, ela não responde as exigências da sociedade de uma forma mais imediata.

E nessa situação, como é que podemos definir o processo eleitoral? Representa um avanço quanto à gestão ou é uma prática demagógica que favorece e fortalece cada vez mais o corporativismo?

Eu tenho pensado muito nesse processo eleitoral dentro da universidade brasileira. Penso que nós avançamos muito quando nós dissemos: “nós queremos eleger os nossos dirigentes!”. Mas pouco se avançou quanto à cobrança dos nossos dirigentes referente aquilo que deveria pautar a política institucional. Então nós avançamos pouco, em termos propriamente ditos, da participação da comunidade, nos fóruns e nos processos decisórios. A comunidade, por sua vez, só é chamada no momento da eleição e no caso da nossa universidade eu acho que é um problema ainda maior porque essas eleições ocorrendo no primeiro semestre dão muito pouca margem de tempo para que se possa refletir e estar em contato com os candidatos. Veja, a nossa eleição é em abril, nosso período começa em março. Nesse sentido qual é o avanço efetivo que a comunidade pode ter em termos de participação, de cobrança na gestão e de participação no processo decisório. É muito pequeno, muito pequeno. Eu tenho criticado isso, acho que nós deveríamos começar a pensar no processo eleitoral para o segundo semestre, não obviamente nessa eleição de 2009, porque o quadro já está posto.

Nesse contexto, como se explica o papel das organizações representativas, dos estudantes, dos servidores e dos professores?

De uma maneira geral nós temos visto o enfraquecimento das nossas entidades representativas. Elas tiveram um papel extremamente importante na direção do movimento, na crítica, mas de alguns anos pra cá, elas foram incorporadas a própria prática institucional. Então você veja que há inclusive ex-dirigentes de associações que são objetos de medalhas. Na verdade, quem deveria reconhecer o seu papel era o movimento e não a instituição dirigente, que passa a reconhecer e a atribuir medalha, ou seja, é claramente um sinal de cooptação de nossas lideranças. Tudo está se resumindo hoje a uma definição dentro do Conselho Universitário e nesse sentido ode ter ade do a de mproblema çcultura em todo o Brasil. cho que deu uma boa contribuiç vamos dizer assim, sobra pouca margem para uma oposição efetiva e para a formulação de novas propostas em direção as próprias eleições. Nós não temos, por exemplo, um congresso universitário, que poderia e deveria preceder as eleições no sentido da comunidade apontar quais seriam as suas expectativas com relação às próximas eleições. Foram cooptados e o movimento esvaziado. Do ponto de vista político, creio que nós não avançamos. Principalmente, em se tratando da influência da comunidade organizada sobre a política institucional. Nesse ponto nós estamos devendo.

O Amazonas é um grande território, temos que ocupá-lo, desenvolve-lo. Qual tem sido o papel da nossa universidade nesse processo de interiorização? Como tem sido essa interlocução com as instituições públicas e privadas?

Sem dúvida, eu creio, vamos dizer assim, que os dirigentes têm o dever de promover as parcerias e as articulações Interinstitucionais. É fundamental, que a Universidade Federal do Amazonas tenha um papel extremamente importante, porque veja, em toda a região aqui do Amazonas, é a única Universidade Federal, num Estado da nossa dimensão. Em vez de se implantar várias Universidades Federais, qual foi a opção do governo brasileiro que atual gestão da UFAM obedeceu: expandir via campi ao invés de buscar a criação de novas Universidade Federais à exemplo de outros Estados infinitamente menores que o nosso e que hoje tem diversas Universidades Federais em seu território. Aqui nós só temos uma Universidade Federal e a estratégia adotada foi via campi vinculados a essa estrutura central de Manaus, num Estado que tem a dimensão de um país, pela sua grandiosidade. Então veja, hoje, quem cumpre, no meu entendimento, o melhor papel em termos de interiorização, da educação voltada à preparação do corpo docente e outras demandas, é a Universidade Estadual do Amazonas porque tem muito mais agilidade, tem muito mais recursos e meios.

Então, o futuro da UFAM a senhora não vê com muitas luzes?

Em termos, vamos dizer assim, relativo à sua presença no interior dificilmente nós iremos conseguir ir mais do que já fomos. É tímido, é muito tímido. Vejo que o futuro da Universidade Federal do Amazonas deveria apostar, efetivamente, no que seria o seu diferencial, porque temos hoje no Amazonas mais de vinte instituições de ensino superior criadas num período muito curto de dez a quinze anos no máximo, o diferencial da UFAM além da graduação dos cursos, estaria na ampliação de novos cursos tais como dança e música, no campo das artes, onde somos muito deficientes. Avançar também em áreas estratégicas com curso de graduação e apostar, sobretudo, na pós-graduação, na pesquisa porque as outras instituições estão muito aquém daquilo que a UFAM tem de melhor. Agora a nossa universidade deveria, no meu entendimento, ter uma política de graduação bastante sólida, criando, portanto, no seu interior todo um projeto para que o estudante se prepare para a pós-graduação e pesquisa, possibilitando que esses profissionais possam prestar serviços nas demais instituições e na própria UFAM.

Quanto ao desenvolvimento regional, a universidade continua de costas para esse desafio?

Eu penso que pouco se discuti o desenvolvimento regional e isso, no meu entendimento, tem haver com a fragilidade da pós-graduação e da pesquisa. Então, quando você observa outros grandes centros, como é feito esta articulação, percebemos que há institutos extremamente vinculados com essa preocupação de articulação com setores da sociedade, objetivando a promoção do desenvolvimento regional, por exemplo, relativos à moradia, saneamento e outros. A coordenação de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da UFRJ (COPE) é um grande exemplo disso, há projetos vinculados a saneamentos e outras demandas sociais. Nós aqui ainda não temos esses meios. Qual é a nossa articulação com o interior do Estado? Muito pouca. Qual é a nossa articulação com o Pólo Industrial de Manaus? Quase nenhuma. Qual é a nossa articulação com os trabalhadores que precisam de educação? Quase nenhuma. O quê nós oferecemos concretamente? Acho que nós precisaríamos dar um salto pensando além de nós. Hoje se pretende que a UFAM tenha cem anos. Mas, que cem anos são esses? O que é que nós acumulamos nesses cem anos? Houve um interregno muito grande, quase sessenta anos entre a criação da UFAM e a universidade de Manaus. Ora! Então nós temos hoje mais tempo como UFAM do que cem anos propriamente dito. O que quero dizer com isso: que se nós temos cem anos nós estamos devendo muito a sociedade do Amazonas.

As aulas estão começando em março, qual a sua mensagem, como educadora e pesquisadora aos alunos que estão ingressando na UFAM e em particular aos alunos do Curso de Ciências Sociais?

Creio que eles ingressam numa universidade que tem de mais relevante é o seu quadro docente e a sua estrutura física em termos de espaço, creio também que esses estudantes têm de aproveitar o máximo da sua estada aqui para aprender, em que pese toda dificuldade, como a ausência de bibliografia, que tem sido uma coisa extremamente reclamada por todos nós, ausências de uma convivência acadêmica mais profunda. Em que pese tudo isso, eu creio que eles estão entrando numa universidade que tem no seu quadro docente, aquilo que melhor pode expressar em termos de conhecimento e de possibilidade de relações propriamente acadêmicas. Então eu quero que todos os estudantes, professores e os técnicos tenham como perspectiva sempre a melhoria da Universidade Federal do Amazonas porque como instituição de ensino superior ela tem uma função extremamente importante que é formar, sobretudo para a cidadania, profissionais capazes de uma atuação responsável e conseqüente no âmbito da sociedade. . .

Foto: Elaine Alves.

RAIZES E SUPERAÇÃO DA CRISE

Os muros dos campos de concentração da renda são altos demais para permitir a entrada da multidão de excluídos. Mas são demasiadamente frágeis para impedir o risco de implosão. Há que buscar uma alternativa ao atual modelo de civilização. E essa alternativa passa, necessariamente, por mudança de valores, e não apenas de mecanismos econômicos.

*Frei Betto

Ao priorizar a acumulação do capital em detrimento dos direitos humanos e do equilíbrio ecológico, o capitalismo instaura no planeta uma brutal desigualdade social, além de promover a devastação ambiental. Hoje, 80% da produção industrial do mundo são absorvidos por apenas 20% da população que vive nos países ricos do hemisfério Norte. Os EUA, que abrigam apenas 5% da população mundial, consomem 30% dos recursos do planeta!

O padrão de consumo da sociedade capitalista é insustentável e tem um papel decisivo no processo de mudança climática. Boa parte desse consumo é reservada às práticas ostentatórias de uma reduzida oligarquia. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, a soma da renda das 500 pessoas mais ricas do mundo supera a de 416 milhões mais pobres. Um multimilionário ganha mais do que 1 milhão de pessoas!

Segundo a revista Forbes, que se dedica a radiografar os donos do mundo, essa gente costuma pagar US$ 160 mil por um casaco de pele; US$ 3.480 por 12 camisas da loja londrina Turnbull & Asser; ou US$ 241 mil numa única noite num cabaré de strip-tease, como fez Robert McCormick, presidente da Savvis, empresa que monitora os computadores da bolsa de Nova York. Pode também comprar o carro mais caro do mundo, o Bentley 728, que custa US$ 1,2 milhão.

Os muros dos campos de concentração da renda são altos demais para permitir a entrada da multidão de excluídos. Mas são demasiadamente frágeis para impedir o risco de implosão. Há que buscar uma alternativa ao atual modelo de civilização. E essa alternativa passa, necessariamente, por mudança de valores, e não apenas de mecanismos econômicos.

Se o mundo roda em torno da economia e a economia gira em torno do mercado, isso significa que este, revestido de caráter idolátrico, paira acima dos direitos das pessoas e dos recursos da Terra. Apresenta-se como um bem absoluto. Decide a vida e a morte da natureza e da humanidade. Assim, os fins – a defesa da vida no nosso planeta e a promoção da felicidade humana – ficam subordinados à acumulação privada das riquezas. Não importa que a riqueza de uns poucos signifique a pobreza de muitos. Os cifrões de contas bancárias são o paradigma do mercado e não a dignidade das pessoas.

O princípio supremo da cidadania mundial é o direito de todos à vida e, como enfatiza Jesus, "vida em plenitude" (João 10, 10). Como tornar isso viável? Qualquer alternativa deverá fugir dos extremos que penalizaram parcela significativa da humanidade no século XX: o livre mercado e a planificação burocrática centralizada.

Nem um nem outro subordinam a economia aos direitos do cidadão. O mercado afunila oportunidades, concentrando a riqueza em mãos de poucos, e agrava o estado de injustiça. A planificação burocrática, embora exercida em nome do povo, de fato o exclui das decisões e muitas vezes restringe o exercício da liberdade. Ambos são incompatíveis com o meio ambiente e conduzem ao dramático processo atual de aquecimento global.

Para superar esses impasses, urge que a lógica econômica abandone o paradigma da acumulação privada, para recuperar o do bem comum e do respeito à natureza, de modo que a cidadania se sobreponha ao consumismo e os direitos sociais da maioria aos privilégios ostentatórios da minoria.

O Fórum Social Mundial é uma luz que se acende no fim do túnel, resgatando a esperança de tantos militantes da utopia que lutam contra um sistema que imprime ao pão valor de troca, como mercadoria, e não valor de uso, como bem indispensável à nossa sobrevivência.

Repensar o socialismo supõe não identificá-lo com o regime derrubado pelo Muro de Berlim, assim como a história da Igreja não se resume à Inquisição. Se somos cristãos, é porque o Evangelho de Jesus encerra determinados valores, como a natureza sagrada de toda pessoa, que servem inclusive de juízo condenatório ao que representou a Inquisição.

Uma proposta alternativa de sociedade deve partir de práticas concretas, nas quais economia política e ecologia se coadunam. Uma das razões da brutal desigualdade social imperante no Brasil (75,4% da riqueza nacional em mãos de apenas 10% da população, segundo dado do Ipea, maio de 2008) é a esquizofrenia neoliberal que divorciou a economia da política, e a política do social e do ecológico.

A consolidação da democracia e a defesa dos ecossistemas no nosso país e no mundo dependem, agora, da capacidade de se enfrentar a questão prioritária: erradicar as desigualdades sociais. Preservação ambiental e superação da miséria são inseparáveis.

*Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Marcelo Barros, de "O amor fecunda o Universo – ecologia e espiritualidade" (Agir), entre outros livros.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O SILÊNCIO DOS GOVERNANTES

O governo do Estado do Amazonas e o governo Federal por meio do Ministério do Transporte e da Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA) silenciaram frente às denuncias feitas pelas comunidades do Lago do Aleixo, com aval dos cientistas e militantes da causa ambientalista. A atitude dos governantes requer investigação criteriosa para se saber o que tramam contra o povo do Amazonas em relação à pretensa construção do Porto das Lajes, nas vizinhanças do Encontro das Águas.

A semana que passou embalado pela jogada do projeto da Copa do mundo de 2014, o ministro do transporte, Alfredo Nascimento esteve em Manaus, na sexta-feira (6), quando assinou convênio com o governador Eduardo Braga, no valor de 72 milhões de reais para asfaltar 100 quilômetros da BR-317, ligando o Amazonas ao Estado do Acre.

Na oportunidade, os governantes falaram sobre a logística estruturante do Pólo Industrial de Manaus. Segundo eles “a estrada BR-317, que é um prolongamento da BR-319, será uma importante via de escoamento da produção do Pólo Industrial de Manaus para países panamericanos e do pacto amazônico – Equador, Chile, Colômbia, Paraguai, Peru e Bolívia -, permitindo, por meio dos portos destes países, um acesso mais rápido ao Oceano Pacífico”.

Para o governador Eduardo Braga, o projeto integra “um macroprojeto desenvolvido pelo Ministério dos Transportes, que visa integrar a estrada a um porto a ser construído no Município de Boca do Acre. O porto vai se interligar a Manaus por meio da hidrovia da Bacia do Purus”. Mas, quanto ao Porto das Lajes? – nada, nadica de nada. O silêncio é a única resposta do governador, embora o Governo do Estado do Amazonas já tenha publicado em seu Portal, clique aqui, notícia alvissareira a respeito: “Porto da Lajes terá audiência pública em novembro”.

Ainda mais, o ministro do transporte disse também que “a BR-317 é o elo entre Manaus e o Oceano Pacífico e que por meio da construção da rodovia peruana será possível unir o Porto de Santos ao Pacífico, por meio da chamada Transoceânica e nos integrarmos através da BR-317”. Em março, o ministro falou que voltaria a Manaus para assinatura de convênios com as prefeituras, visando à construção de 21 portos no interior do Estado.

Sobre a realização das obras da BR-319 (Manaus/Porto Velho), que depende da autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA), Alfredo Nascimento disse que ficou “em silêncio para evitar polêmica”. Ora, que o ministro silencie até se compreende, mas o governador Eduardo Braga deve esclarecimento ao povo do Amazonas sobre as razões aduzidas que levaram a defender a construção do Complexo Portuário das Lajes, como um dos pontos estruturantes da logística de exportação do Estado, junto aos empresários europeus suspeitos de envolvimento com a máfia, conforme noticiou a imprensa italiana.

Da mesma forma, a SUFRAMA deve satisfação também a sociedade civil amazonense porque, segundo declarou José Alberto Machado, representante da entidade, em Audiência Pública, datada do dia 19 de novembro passado, a entidade “buscou empreendedores para a solução dessas questões”, querendo dizer que, transporte e armazenamento são “os mais graves problemas do Pólo Industrial de Manaus”. No entanto, não justifica relativo à baixaria em curso nas comunidades, tentando “ganhar pela boca os moradores”, como bem definiu um dos lideres, para se conseguir em troca o aceite das organizações comunitárias da Colônia Antonio Aleixo, em favor da construção do Porto das Lajes, o que ameaça diretamente a beleza monumental do Encontro das Águas. O banzeiro continua.

CONTRA O PORTO DAS LAJES, EM DEFESA DO ENCONTRO DAS ÁGUAS

O NCPAM integra as forças do Movimento contra a construção do Porto das Lajes, formado por ambientalistas, religiosos, sindicalistas, professores, médicos, agentes comunitários, produtores culturais, jornalistas, comunicadores de rádio e televisão, donas de casa, estudantes, entre outras representações organizadas da sociedade civil manauara, que se identificam como Amigos de Manaus, manifestando-se contra a Construção do Porto das Lajes nas confluências do Encontro das Águas, cartão postal de nossa cidade. Leia o manifesto e participe desta Rede em Defesa da Nossa Amazônia, passando adiante esta mensagem e manifestando o seu apoio:

O Encontro das Águas dos Rios Negro e Solimões é uma das maravilhas naturais da Amazônia, do Brasil e do mundo. Este ícone é reconhecido como patrimônio local da humanidade, devendo ser preservado para que os povos da Amazônia no presente e no futuro desfrutem das riquezas naturais e humanas dessa paisagem. Este patrimônio é protegido pela Constituição Federal e pela Constituição do Estado do Amazonas por ser um Bem cultural paisagístico e simbólico, representativo da Amazônia e de seus povos.

Espetáculo da natureza, que despertou nos colonizadores atitudes de espanto e admiração, merecendo de Frei Gaspar de Carvajal (1542), a seguinte exclamação: “vimos a boca de outro grande rio que entrava pelo que navegávamos, pela margem esquerda, cuja água era negra como tinta e, por isso, o denominamos rio Negro. Suas águas corriam tanto e com tanta ferocidade que por mais de vinte léguas faziam uma faixa na outra água, sem com ela misturar-se”.

Este símbolo de Manaus está sendo ameaçado pelo terminal portuário Porto das Lajes que está na iminência de ser construído na confluência do Encontro das Águas do Rio Negro com Solimões, à margem esquerda do Rio Amazonas, na foz do Lago do Aleixo, nas vizinhanças da Reserva Particular de Patrimônio Natural Nossa Senhora das Lajes, do Pólo Industrial de Manaus e das comunidades do Bairro Colônia Antonio Aleixo. Nesta área, pretende-se construir o mirante do Encontro das Águas, projeto da Prefeitura assinado por Oscar Niemeyer e implantar também o Programa Água para Manaus, que visa à captação e tratamento de água para abastecimento de 500 mil pessoas, com recursos do Governo Federal.

No entanto, em Audiência Pública realizada no dia 19 de novembro passado, os comunitários da Colônia Antonio Aleixo, os Amigos de Manaus e o Ministério Público Estadual manifestaram-se contrários a construção do Porto das Lajes devido à degradação paisagística, ao desmatamento, a poluição e impacto na fauna aquática e a depauperação dos recursos naturais e culturais de uso comunitário do Lago do Aleixo, que o empreendimento acarretará. O órgão ambiental responsável pelo licenciamento deverá solicitar a escolha de uma área de menor importância paisagística e já degradada. Deverá também exigir estudos de impacto ambiental (EIA/RIMA) de melhor qualidade técnico-científica do que o já apresentado pelo empreendedor ao IPAAM, que respeite a legislação ambiental e a comunidade do entorno, sendo capaz de identificar os impactos ambientais e sociais do empreendimento. O EIA/RIMA deverá propor claramente medidas concretas de mitigação e compensação de todos os impactos ambientais e sociais negativos

O mega-projeto do terminal portuário irá construir um pátio com mais de 100 mil metros quadrados de área, com capacidade para atender 250 mil unidades de contêiner, prejudicando a qualidade de vida futura de Manaus, pois irá degradar nosso principal ponto turístico, destruindo também, uma bela área de lazer da população e afetando a qualidade da água no ponto de captação a ser construído, além de destruir o recurso pesqueiro da Comunidade da Colônia Antônio Aleixo e da circunvizinhança.

Nós representantes da Sociedade Civil, Amigos de Manaus, manifestamos nossa indignação frente ao descaso dos governantes, que permitem a degradação de nossos recursos naturais e culturais, sem compromisso com responsabilidade social e ambiental. Para tanto, exigimos que o Encontro das Águas seja transformado em Parque de Preservação Paisagístico, lazer e uso sustentável dos recursos naturais, garantindo esse Patrimônio às futuras gerações.

Manaus, 17 de dezembro de 2008.

Amigos de Manaus/ Associação, Cultural, Ambienta e Tecnológica/WOMARÃ/ Fórum Permanente de Defesa da Amazônia/ Associação de moradores da Colônia Antonio Aleixo/ Comissão de Direitos Humanos da Arquidiocese de Manaus/ Núcleo de Cultura Política do Amazonas – NCPAM/UFAM/ Sindicato dos Jornalistas do Amazonas/ Centro Social e Educacional do Lago do Aleixo/ Associação Jesus Gonçalves/ Associação Beneficente dos Locutores Autônomos de Manaus.

Foto/ NCPAM

EXTREMA DIREITA AVANÇA EM ISRAEL

Os conservadores e a direita radical nunca foram tão fortes desde que Menahem Begin conseguiu em 1977 a primeira vitória do Likud. Os deputados conquistados pelos partidos da direita e a ultra-direita, os que representam o voto dos colonos, e dos ultra-ortodoxos chegaram ao seu nível mais alto, beirando os 65. Antes eram 53. O Kadima de Tsipi Livni venceu as eleições, mas apenas pela margem mínima de um deputado. Resultado: tanto ela quanto Benjamin Netanyahu, do Likud, que ficou em segundo lugar, cantaram vitória.

O Kadima de Tsipi Livni venceu as eleições israelenses, mas apenas pela margem mínima de um deputado. Resultado: tanto ela quanto Benjamin Netanyahu, do Likud, que ficou em segundo lugar, cantaram vitória. Ambos já se lançaram na corrida para tentar garantir uma coligação maioritária. O fiel da balança é o partido ultra-direitista Israel Beiteinou, de Avigdor Lieberman.

Faltando apenas contar os votos dos israelenses no exterior, o Kadima obteve 28 lugares no Parlamento de Israel, perdendo um deputado. O Likud, de Benjamin Netanyahu foi o partido que mais avançou, passando de 19 para os 27 lugares. No terceiro posto ficou o Israel Beiteinou, que subiu de 11 para 15 deputados, relegando para o quarto posto o Partido Trabalhista do ministro da Defesa, Ehud Barak, que elegeu 13 deputados, perdendo seis. O ultra-ortodoxo Shas perdeu um deputado, elegendo 11.

Tzipi Livni declarou-se vitoriosa e exigiu o respeito pela vontade popular. "O povo escolheu o Kadima", proclamou Livni, defendendo que "agora é necessário respeitar a escolha dos eleitores, respeitar a decisão das urnas, e formar um governo de União Nacional sobre a nossa direcção". Mas, a menos que consiga chegar a um acordo com o Likud ou com Lieberman, as hipóteses de Livni conseguir o apoio de 61 deputados parecem inexistentes.

Consciente de que está melhor colocado na corrida para formar governo, Benjamin Netanyahu fez igualmente um discurso de vitória, apesar de ter ficado em 2º lugar. "O povo exprimiu-se claramente, o campo nacional, dirigido pelo Likud, regista um claro avanço", afirmou.

Já Avigdor Lieberman deixou em aberto as suas opções, mostrando-se disposto a negociar com Livni e com Netanyahu, apesar de reconhecer que pende para o lado do Likud: "Nós sempre quisemos um governo nacional, um governo de direita e espero que o consigamos", disse.

Lieberman defende que o próximo governo israelense tem de "derrotar o Hamas" e rejeitar qualquer negociação de tréguas.

Os conservadores e a direita radical nunca foram tão fortes desde que Menahem Begin conseguiu em 1977 a primeira vitória do Likud. Os deputados conquistados pelos partidos da direita e a ultra-direita, os que representam o voto dos colonos, e dos ultra-ortodoxos chegaram ao seu nível mais alto, beirando os 65. Antes eram 53.

O afundamento do Partido Trabalhista, o fundador do Estado de Israel, com apenas 13 deputados, adquire dimensão histórica, comenta o diário espanhol El País.

Logo depois da publicação dos resultados oficiais, dentro de uma semana, o presidente Shimon Peres deverá ouvir todos os partidos e decidir se nomeará a líder do maior partido, Tzipi Livni, ou o líder do maior bloco, Benjamin Netanyahu, para formar o novo governo. Quem quer que seja nomeado disporá de seis semanas para concluir a tarefa.

Fotos: Haaretz

Publicado em Carta Maior

CONTRIBUA PARA O FUNDO EDITORIAL DO NCPAM

A política nunca foi um céu de brigadeiro. No entanto, sem ela estaríamos todos no inferno a mercê de toda forma de violência e arbítrio. Sabedores desse fato relevante é que os alunos e professores do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas, de ciência política e áreas afins, resolveram se organizar e participar efetivamente da política de forma empreendedora, criando o Núcleo de Cultura Política do Amazonas – NCPAM – para dar visibilidade à vontade coletiva, formulando e discutindo propostas numa perspectiva afirmativa capaz de agregar homens e idéias, juntando pedra e argamassa, para edificar novas concepções adequadas, bem como estratégias eficazes de promoções de políticas de desenvolvimento humano.

Esta responsabilidade torna-se maior quando lembramos a todos (as) o lugar de onde falamos e pensamos tais propostas. Pois a Amazônia, além ser uma marca renomada, quer ser também protagonista de políticas empreendedoras, incentivando as corporações empresariais a investirem de forma responsável nesse território potencializado gerando emprego, renda e capital intelectual.

Ademais, a atmosfera social vivenciada requer dos governantes um maior compromisso com a gestão das políticas públicas, reconhecendo o valor das representações dos movimentos populares nos fóruns de deliberação do Estado. Esta forma de gestão reclamada pela sociedade organizada pauta-se na cultura participativa e, sobretudo, na transparência como valor fundamental da democracia direta.

Para tanto, recorremos aos homens e mulheres de visão, buscando fortalecer o NCPAM como um laboratório e observatório da política, centrado, estrategicamente, no estudo e pesquisa sobre a Amazônia, contribuindo diretamente para que possamos cumprir com os nossos objetivos, principalmente, em se tratando da criação do Fundo Editorial de Política Cultural do Amazonas – FEPCA – com produtos em vários formatos de mídia, visando ampliar cada vez mais o nosso campo de força a favor de políticas públicas eficazes e empreendimentos corporativos sustentáveis à luz da matriz da responsabilidade social e ambiental. Manifeste seu apoio cultural, comunicando-se com nossa direção: ademiramos@hotmail.com

ACREANOS E BOLIVIANOS: VÍTIMAS DA CORRUPÇÃO

Somos todos índios lutando por liberdade - É preciso entender que hoje, do Alaska à Patagônia, em particular na América do Sul vivemos uma situação especial na história do continente. Está claro que, pela sua ação, os povos já não aceitam mais as políticas impostas pelos Estados dominadores.

*Roberto Monteiro de Oliveira

Faces de uma mesma moeda - Quanto aos nossos bravos irmãos bolivianos vítimas de governantes corruptos, cujo exemplo maior foi Antenor Patiño que preferia viver na França, hoje com Evo Morales buscam na comercialização vantajosa do gás e do petróleo; na nacionalização das minas e da reforma agrária um atalho para o desenvolvimento.

É necessário de fato destacar a valentia de nossos irmãos bolivianos, povo das florestas e das montanhas andinas pela bravura nos combates inglórios conduzidos por elites perversas que ainda hoje teimam em fomentar a inimizade entre povos irmãos vítimas do mesmo processo histórico e geográfico de expropriação dos nossos recursos naturais perpetrado pelos Estados europeus no passado, e, atualmente pelas multinacionais.

Mas é necessário também resolver o problema do altiplano de La Paz versus terras baixas de Santa Cruz de La Sierra. Oxalá Evo Morales não decepcione o povo boliviano e nem seja surpreendido por golpes como o acontecido a Victor Paz Estensoro.

Não é possível que Bolívia e Acre continuem órfãos de seus próprios governos. Á atual conjuntura exige que se estabeleçam alianças políticas sólidas, em torno de projetos concretos de desenvolvimento regional e de mútua cooperação, sem bravatas, como forma de superar a solidão a que estaria condenada a Bolívia conforme o escritor Augusto Céspedes.

Somos todos índios lutando por liberdade - É preciso entender que hoje, do Alaska à Patagônia, em particular na América do Sul vivemos uma situação especial na história do continente. Está claro que, pela sua ação, os povos já não aceitam mais as políticas impostas pelos Estados dominadores.

De uma maneira ou de outra, o que esses povos dizem, pelas formas que encontram, é que exige um futuro digno para seus filhos, um futuro para as Nações.

É preciso entender os sinais dos novos tempos quando o Presidente Bush é derrotado nas eleições – depois de enormes manifestações contra a guerra no Iraque, da mobilização massiva e inédita dos trabalhadores latinos imigrantes, e da reação à tragédia anunciada que representou o furacão Katrina para os negros; quando a vontade de soberania dos povos é o que se impõe nas eleições e fora delas, levando os governantes: na Venezuela, defender o petróleo, fazer a reforma agrária e desapropriar empresas ocupadas; no Equador, se comprometer a revogar o Tratado de Livre Comércio e desmantelar a Base dos EUA em Manta e, no México, rechaçar a fraude eleitoral e as privatizações, convocando o povo a resistir para impor sua vontade.

Quando o povo quer ninguém domina. Os acreanos nos deram um belíssimo exemplo da luta de um povo pela sua identidade nacional e pela sua autodeterminação.

*Geógrafo do Núcleo de Estudos Amazônicos (NEAZ) da Universidade de Brasília.