Os noticiários dão conta dos prejuízos materiais na tão sofrida zona rural de Manaus e que advém da cheia dos rios amazônicos. Fiquei impressionada com as plantações de malva no Careiro da Várzea a um passo do rio Solimões que sobe a olhos nunca vistos. O Amazonas sendo o maior produtor do Brasil nessa fibra natural corre o risco de ficar sem comprador mesmo com o preço a R$ 1,70, bem abaixo dos R$ 2,20 o quilo vendido no ano passado.
O trabalho de colheita da malva que deveria ser feito no final de março está sendo antecipado tendo em vista a preocupação com a cheia do rio que avança muito rapidamente. É uma tarefa manual feita dentro dágua, com toda a família do produtor se unindo para adiantar o serviço de colheita. Caso contrário a safra de 2012 estimada antes em 14 mil toneladas cai para 9 mil segundo o Idam (Instituto de Desenvolvimento Florestal Sustentável do Amazonas) e tem grandes chances de não ter para quem vender. A preocupação do produtor é grande quanto a isso pois mesmo com esse trabalho insano e o preço tão baixo fica a insegurança quanto a uma política governamental que garanta essa comercialização. Calcula-se para este ano um prejuízo de 35% na safra.
As fibras de juta e malva são utilizadas na sacaria de café, cacau e outros produtos da indústria nacional. É uma boa alternativa para as sacolas plásticas que tanto mau causam ao meio ambiente. Mesmo assim não se tem uma política governamental para tornar viável essa atividade rural tão importante para o Amazonas. É preciso correr atrás da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) para não sofrer tanto as agruras de um “mercado incerto” quando deveria ser o contrário. Quando a natureza vem com tudo como nesse caso, o Estado já deveria ter um planejamento estratégico para evitar os transtornos e prejuízos da safra.
Mesmo sendo uma atividade aquática o coletor não teme o jacaré e a piranha. O grande problema são as pequenas formigas que fazem uma espécie de jangada para não afundar e importunar melhor o intruso. A eficiência é tanta e em condições tão adversas que deveríamos olhar para esses bichinhos e aprender com eles nesse quesito.
(*) É escritora, jornalista e articulista do NCPAM/UFAM.
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