sexta-feira, 23 de março de 2012

PARA ONDE CAMINHA A CIDADE DE MANAUS?

Ellza Souza (*)

Ao andar nas ruas do centro da cidade, olhe acima do seu umbigo e observe a decadência do patrimônio histórico da cidade. É degradante receber turistas de países que cuidam da sua história sem nada a oferecer. Os grandes navios chegam iludidos com a propaganda feita fora do país e devem tomar um susto danado com tanta enganação. Já começa pelo porto, antes rodway, totalmente descaracterizado. O lugar que já foi palco de passeio das famílias manauaras agora é um local sujo, feio, barulhento, onde a única coisa que se salva é o esplêndido rio Negro. De uma arquitetura inglesa e bem construída se transformou em algo sem estilo e sem história nenhuma. Na saída do porto o comitê de recepção (ou será decepção) é uma enxurrada de barracas sujas espalhadas em todo o berço histórico, desorganizadas, que vendem todo tipo de quinquilharias piratas.

Qualquer cidade do mundo tem um mercado a oferecer seus produtos regionais. Aqui já se vão cinco anos para a reforma do nosso tão precioso “Adolpho Lisboa” e nada. E o pior que, como ele, são muitos os prédios fechados para reforma e que não são de fato reformados. Parece que o trabalho de revitalização está paralisado sabe-se lá porque cargas dágua. A Biblioteca Pública (onde andará o seu acervo?) demorou tanto a reabrir que quando ia ser feito isso, desabou algo por lá e precisou de prorrogação a tão demorada reforma. Na área do rodway tinha um interessante Museu do Porto mas ninguém lembra dele e muito menos do seu acervo. Aí ficam inventando museus a serem criados se não cuidam nem do que já existe e que de fato contam a nossa história.

A Santa Casa de Misericórdia, onde nasceu toda a classe influente da cidade, está em decomposição. Parece que ninguém mais tem piedade desse local. Vale mais a derrubada, senão com a marreta mas pelo tempo de abandono e a construção de um prediozinho medíocre. Acreditem se quiserem olhem para o alto e vejam o estado do nosso propalado Teatro Amazonas. A bela cúpula está ruindo de sujeira e ferrugem. Não há manutenção nenhuma. Não há limpeza dentro e fora de tão imponente monumento. Só uma vassourada de vez em quando, talvez. Mais vale daqui um tempo fechar totalmente para uma providencial reforma.

As ruas da cidade estão um horror de lixo e bagunça. Os ambulantes urinam por todo lado pois o mau cheiro denuncia isso e se esparramam nas estreitas calçadas como donos do pedaço. A culpa não é deles mas da falta de competência da autoridade que deveria administrar a outrora cidade sorriso. Se encontro uma cidade sem comando e sem regras vou, é claro, montar o meu negócio na principal rua da cidade, do meu jeito e sem custo social nenhum. O prejuízo é para a sociedade organizada que também é outra, que não se manifesta nem nada e assim vamos nos transformando numa cidade sem leis como nos bons e velhos faroestes. Só que no nosso caso não é cinema mas a pura realidade.

(*) É escritora, jornalista e articulista do NCPAM/UFAM.

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