domingo, 6 de julho de 2008

MIRANTE DO COTIDIANO - DA SEDUÇÃO



Ademir Ramos*

"O mundo está nu, o reino está nu, as coisas estão claras" - Baudrillard

As manifestações expressam desejos, que explodem do corpo como chamas a contagiar o outro sob o triunfo da sedução. No mundo contemporâneo, o corpo tem sido um dos temas de maior visibilidade no campo das ciências do homem. Em “História do Corpo”, Jorge Crespo (1990) reconhece que a importância dada ao corpo, no nosso tempo “contrapõe-se ao ofuscamento a que estava submetido no passado, fenômeno verificado na seqüência de uma assinalável inversão de valores, traduzidas na passagem das idéias da acumulação e poupança a preocupações de consumo e dispêndio de energias”.

O espetáculo do corpo é traduzido em linguagem difusa, desnudando o objeto do rito e imprimindo no corpo formas cultural, estética e política como objeto de consumo capaz de satisfação ou indigestão do protagonista das relações. Nesse cenário aparente Braudrillard (1979) reaparece encenando o poder “Da Sedução”.

Para ele, “hoje nada é menos seguro do que o sexo, por trás da liberação de seus discursos. Hoje nada é menos seguro do que o desejo, por trás da proliferação de suas figuras”. Assim, “o princípio da incerteza estendeu-se tanto à razão sexual quanto à razão política e à razão econômica”, sintetiza Baudrillard.

Dessa feita, os postulados e conceitos são demolidos exigindo resposta dos pensantes, capazes de edificar novas teorias e práticas, não sendo apenas o consumo das indeterminações, mediados por valores de troca, que impulsionam o cultuo das aparências no fetiche do desejo de acumular e poupar tanto aqui como nos céus.

Quando não, buscam ancorar desejo e impulso; vontade e poder, rasgando a máscara em cena, como bem fez Goetz, personagem de Sartre (1973) da novela “O Diabo e bom Deus”, em anunciar o novo começar: “O crime. Os homens de hoje nascem criminosos – e é preciso que eu reivindique minha parte em seus crimes, se desejo minha parte em seu amor e em suas virtudes. Eu sonhei com o amor puro: ingenuidade. Amar-se é odiar o mesmo inimigo: desposarei, então, vosso ódio. Eu queria o Bem; tolice. Nesta terra e nestes tempos, o Bem e o Mal são inseparáveis: aceito ser mau, para tornar-me bom”.

A sentença é de uma atualidade significante, principalmente, em se tratando da corrupção na política. Mas, segundo Baudrillard, acontece o mesmo com o social, que hoje reina também na sua forma pura, vale dizer, obscena e vazia acontece o mesmo com a sedução, que na sua forma atual perdeu o aleatório, o suspense, o sortilégio, para se revestir da forma de uma obscenidade leve e indiferenciada.


* Coordenador Geral do NCPAM, antropólogo e professor da UFAM.

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