sábado, 19 de abril de 2014

O PADRE VIGÁRIO


Ademir Ramos (*)

No universo dos eclesiásticos a todo o momento topamos com figuras emblemáticas a exalar bondade, sabedoria e maledicência. Uns mais que os outros. Nas aldeias da Amazônia, estes homens, pelo ofício que exercem transformaram-se em verdadeiros mandatários às vezes piores, bota pior nisso, do que os ordinários da política partidária local. O Padre da vigarice pode também encarnar o poder temporal candidatando-se ao cargo executivo municipal das aldeias referenciado nas obras missionárias e na legião de beatos e beatas que projetam nele a virtude encarnada do justo paladino a vagar pela terra da promissão, fazendo-se de justo para enganar a todos.

Quando perguntado o que fez para conseguir a Graça do povo. O Padre eleito fala de suas virtudes e de suas obras apontando para a catedral da cidade, onde ele exerceu a vigarice da construção civil, ludibriando a boa fé de homens e mulheres de boa vontade. Do poder espiritual ao poder temporal a pontificação é feita pelo medonho comportamento do apadrinhamento oligárquico ancorado num determinado partido que lhe sirva de nave para alçar voo em direção ao controle do orçamento municipal.

Com a chave do cofre, o Padre vigário ignora o pastoreio dos doutos da Igreja e como Diocesano rasga as vestes da tradição e resolve desencantar-se nas festas populares buscando tornar-se o rei momo da simpatia e da alegria. O povo da aldeia ressabiado olha e finge que não vê a façanha daquele batinudo com pinta de político profissional, carregando criancinha e dando tapinha nas costas do povo sob a mira dos seguranças brutamontes.

E a vigarice ganha nome nas práticas arrogantes do ordinário, a começar pelo controle dos meios de comunicação, da máquina municipal e da folha de pagamento, destinando aos seus os melhores patrimônios móveis e imóveis resultante de um a três terços recolhidos na seara da corrupção, afrontando os meganhas da política regional. No presente acena para um e outro, prometendo votos e os meios necessários para se afirmar nesse universo, visando ampliar suas relações de poder e quem sabe calçar junto aos tribunais a defesa e as garantias para se safar ileso do julgamento de suas contas. Pois, segundo ele é, é dando que se recebe. E por falar em diretrizes políticas, o Padre Vigário ao contrário das práticas dialógicas, instituiu em sua gestão um governo centralizador e, quando reunido com os seus contratados faz questão de afirmar, olhando nos olhos, que: “quem manda aqui sou eu” e saiba mais: “eu sou o começo, meio e fim”, amedrontando a todos.

O povo nas ruas da aldeia saqueada, desamparado e ludibriado pela vigarice do Padre Prefeito, recorre aos santos de casa na tentativa de suprir suas necessidades básicas, batendo a porta dos políticos responsáveis em busca de ajuda humanitária. Os fornecedores descontentes reclamam também da falta de pagamento, os servidos vivem no torniquete, endividados. O mal-estar é geral e o Padre continua viajando, fazendo caixa para sustentar seus vícios e a sua vaidade que é proporcional ao seu ego, o que não é maior do que a esperança do povo que guarda na memória lembranças das lutas sociais contra aventureiros e filhos desnaturados e para afastar os seus males passa a cantar: caramuri, caramuri, leva o padre daqui. Vade retro, satanás!!!


(*) É professor, antropólogo e coordenador do NCPAM e do Projeto Jaraqui.

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