O
PADRE VIGÁRIO
Ademir
Ramos (*)
No
universo dos eclesiásticos a todo o momento topamos com figuras emblemáticas a
exalar bondade, sabedoria e maledicência. Uns mais que os outros. Nas aldeias
da Amazônia, estes homens, pelo ofício que exercem transformaram-se em verdadeiros
mandatários às vezes piores, bota pior nisso, do que os ordinários da política
partidária local. O Padre da vigarice pode também encarnar o poder temporal
candidatando-se ao cargo executivo municipal das aldeias referenciado nas obras
missionárias e na legião de beatos e beatas que projetam nele a virtude encarnada
do justo paladino a vagar pela terra da promissão, fazendo-se de justo para
enganar a todos.
Quando
perguntado o que fez para conseguir a Graça do povo. O Padre eleito fala de
suas virtudes e de suas obras apontando para a catedral da cidade, onde ele
exerceu a vigarice da construção civil, ludibriando a boa fé de homens e
mulheres de boa vontade. Do poder espiritual ao poder temporal a pontificação é
feita pelo medonho comportamento do apadrinhamento oligárquico ancorado num
determinado partido que lhe sirva de nave para alçar voo em direção ao controle
do orçamento municipal.
Com
a chave do cofre, o Padre vigário ignora o pastoreio dos doutos da Igreja e
como Diocesano rasga as vestes da tradição e resolve desencantar-se nas festas
populares buscando tornar-se o rei momo da simpatia e da alegria. O povo da
aldeia ressabiado olha e finge que não vê a façanha daquele batinudo com pinta de
político profissional, carregando criancinha e dando tapinha nas costas do povo
sob a mira dos seguranças brutamontes.
E
a vigarice ganha nome nas práticas arrogantes do ordinário, a começar pelo controle
dos meios de comunicação, da máquina municipal e da folha de pagamento,
destinando aos seus os melhores patrimônios móveis e imóveis resultante de um a três terços recolhidos na seara da corrupção, afrontando os meganhas da política regional. No presente acena para um e outro, prometendo
votos e os meios necessários para se afirmar nesse universo, visando ampliar
suas relações de poder e quem sabe calçar junto aos tribunais a defesa e as
garantias para se safar ileso do julgamento de suas contas. Pois, segundo ele
é, é dando que se recebe. E por falar em diretrizes políticas, o Padre Vigário
ao contrário das práticas dialógicas, instituiu em sua gestão um governo
centralizador e, quando reunido com os seus contratados faz questão de afirmar,
olhando nos olhos, que: “quem manda aqui sou eu” e saiba mais: “eu sou o
começo, meio e fim”, amedrontando a todos.
O
povo nas ruas da aldeia saqueada, desamparado e ludibriado pela vigarice do Padre
Prefeito, recorre aos santos de casa na tentativa de suprir suas necessidades básicas,
batendo a porta dos políticos responsáveis em busca de ajuda humanitária. Os
fornecedores descontentes reclamam também da falta de pagamento, os servidos
vivem no torniquete, endividados. O mal-estar é geral e o Padre continua
viajando, fazendo caixa para sustentar seus vícios e a sua vaidade que é proporcional
ao seu ego, o que não é maior do que a esperança do povo que guarda na memória
lembranças das lutas sociais contra aventureiros e filhos desnaturados e para
afastar os seus males passa a cantar: caramuri, caramuri, leva o padre daqui.
Vade retro, satanás!!!
(*)
É professor, antropólogo e coordenador do NCPAM e do Projeto Jaraqui.
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