terça-feira, 3 de junho de 2008

A ESPERANÇA DE TRANSFORMAR


* Luciana Soares Véras


Caminhando pelas ruas do centro da cidade vemos tantos olhares tristes, desesperanças em pequenos rostos agredidos pela vida – crianças de rua - que dormem nas praças, nos cantos, nos bancos, cheirando cola, sonhando com uma vida melhor. Onde estarão seus pais? Serão domésticas, pedreiros, aventureiros da vida, do morro, da zona leste... Enquanto muitos garantem um pedaço de pão pela limpeza do pára-brisa, outros reclamam pelo brinquedo do ano passado, pela roupa fora de moda, pela falta do computador.
O que fazer para mudar? Muitos pensam: vou deixar tudo como está, pra que me preocupar! Importante é o meu, o eu e já. Nestes termos, os imediatismos do sistema político tem sido, um fator de grande contribuição para este quadro de deteriorização humana, mas tudo é aparente, e por isso os olhos já não os vêem mais, como se fizessem parte de uma paisagem.

E ainda temos outro, como a cultura do ter: sou porque possuo isso ou aquilo, entre outros vários que poderíamos citar como a educação, da ‘educação’ que para eu ter ou ser doutor é preciso estudar. Todo esse quadro é conseqüência do enraizamento do passado, onde a era da “Belle époque” fixou nas mentes que estudo é pra gente rica, e não pra gente pobre.

Ainda que vozes clamem no deserto como a de Paulo Freire: “... O esforço de reformulação de nosso agir educativo, no sentido da autêntica democracia”, são como chuva numa floresta incendiada, não são o suficiente para apagar o fogo, mas já é um grande passo para a democracia. Termo esse tão usado, mas tão pouco difundido, nas mentes daqueles que realmente precisam saber. Nos nossos dias, é comum vê-los, quase nus, roubando, matando, contudo ainda pode ser feito alguma coisa – esclarecê-los.

A educação precisa estar para todos, mas num objetivo de formar mentes criativas, inovadoras, e não uma educação de palavras ocas do verbalismo inteligente, que ressoa por qualquer lugar, é bonita de se ouvir, mas de pouca eficácia, excludente. Precisa ser envolvente, de fácil acesso, que roube essas mentes que estão tão voltadas para o crime, para o tormento da fome, e como dizia Marx: “o homem só alcança uma consciência social quando suas necessidades básicas são supridas”. Então comer será prioridade maior que educação? Não, os dois andam juntos.

Então para transformar o quadro desolador da humanidade, não podemos mais aceitar a política do ‘pão e circo’ para todos, mas a política social da educação para a formação básica de uma maioria faminta que não só de pão, mas de toda palavra vinda dos livros. Há ainda a necessidade de uma Revolução da “conscientização do patrão, que para não ser assaltado no sinal, precisa estender a mão, dando uma oportunidade para aquele que, impunha a arma, de ser alguém numa sociedade civilizadamente democrática. Logo, sem dúvida a conscientização, daqueles que não querem seus filhos cheirando droga num canto de esquina, ou nas capas dos jornais policiais” (Cristóvão Buarque).

Mas que ainda há esperanças de mudar a herança da barbárie de um país a caminho do desenvolvimento ou será subdesenvolvido? Tem diferença? Vamos ao que importa: Contribui para que surjam novos cidadãos conscientes, e não perpetuar o legado da miséria e da ignorância, mas fazer valer o que tanto se lutou na década de 80 – a Constituição Federal; para um Brasil, onde todos poderão ter enfim, orgulho de sermos chamados ‘filhos desta pátria gentil, pátria amada Brasil’.


* Discente de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas.
Foto: Roberto Delduque

2 comentários:

Anônimo disse...

educação no pais e o de menos, você descobriu a polvora!

Anônimo disse...

Muito boa a intenção da escritora na abordagem de um tema tão latente em nossa sociedade. Todavia, "nem só de pão viverá o pobre", mas também de educação e saúde.