sábado, 14 de junho de 2008

A TRAGÉDIA NOS BANCOS ESCOLARES


* João Fábio Braga

É questionável pensar que o atual modelo concebido de educação básica no Brasil seja eficiente ou tenha sustentado algum sucesso de transformação social, quando muitas vezes a transmissão e aprendizagem do ensino perpassam por descaso e abandono intelectual e escolar de nossas crianças e jovens. Ainda mais grave é situação destes alunos que não sabem ler, escrever e calcular.

Nesse sentido, a formação destes alunos é precária e alarmante, pois o débil ensino caótico e catastrófico vêm demonstrando a má qualidade de formação dos professores, seguidamente motivada pela inatratividade do salário, bem como a falta de ferramentas interativas que podem proporcionar a curiosidade pelo conhecimento tanto pelo educador quanto pelo aluno.

O desestímulo profissional do educador acaba sendo refletido no péssimo desempenho escolar do estudante, na qual suas possíveis faculdades e habilidades vão sendo debilitadas e limitadas, principalmente na incapacidade de utilizar a leitura e escrita na apreensão do texto para a compreensão de seu contexto social.

Tal dificuldade revela a inabilidade para o desenvolvimento de aptidões que possam permitir o aluno a continuar aprendendo e ampliando o seu processo cognitivo. Nestes termos, o país é assolado por uma massa contingencial de analfabetos funcionais, que de certo modo, demonstra o fracasso no aprendizado do cálculo e da leitura, com isso, tendo como conseqüência agravante os altos índices de abandono escolar, de criminalidade, de gravidez na adolescência, dependência de drogas e sujeição infindável de programas sociais na vida adulta.

Essa situação dramática que a educação básica vive, comprova a dificuldade do Estado brasileiro de utilizar o conhecimento cientifico e dados de avaliação, especialmente os instrumentos que medem o nível de aprendizado como forma de melhorar progressivamente a qualidade da educação.

No entanto, a melhora da educação através do método de aplicação de exames avaliativos, vem demonstrando dados estatísticos de melhora ou piora, sendo questionável essa análise meramente fechada dos números em si, a qual apresenta apenas concepções equivocadas e ineficazes, onde percebe-se apenas informações quantitativas, reafirmando o desastre do ensino e a incapacidade do país de desenvolver políticas educacionais realmente efetivas, com isso o Estado acaba ignorando os progressos e as práticas mais adequadas de alfabetizar e ensinar crianças e jovens.

A necessidade do avanço educacional no país é de urgência, pois a formação débil educacional de uma população de idade ativa que poderia estar trabalhando e gerando crescimento econômico, é impelido pela baixa escolaridade e qualificação de uma má educação básica.

Qual é a medida concreta para reverter este cenário trágico? Primeiramente é importante que os instrumentos de avaliação não sejam multiplicadores de insucesso ou sucesso institucional entre os estados, mas deve servir para orientar, suscitar e melhorar através da produção de diagnóstico a qualidade do ensino básico.

Outra medida eficaz, é ter investimento pesado a médio e longo prazo, no que diz respeito à implementação de políticas educacionais que possam garantir às escolas as condições essenciais de funcionamento e estrutura, isso quer dizer que segundo o relatório Alfabetização Infantil – os novos caminhos, é importante assegurar “os programas de ensino claros, adequados e bem estruturados; professores com formação científica atualizada, adequada e comprovada; remuneração atrativa; insumos básicos nas escolas; autonomia na gestão escolar e avaliação externa”.

É significativo perceber que o atual modelo de educação básica não atende o mundo globalizado, contudo seria interessante rever as atuais orientações nacionais sobre alfabetização e o processo de ensino-aprendizagem na educação infantil e nas demais séries do fundamental e médio, de forma a torná-las compatíveis com os conhecimentos científicos e práticas mais atualizadas, tendo como papel de facilitador as instituições de ensino superior enquanto agente que proporcionaria a revisão e atualização dos programas de formação de professores.

Conforme foi abordado, o presente modelo de educação básica está a mercê de um sistema falido de educação, logo sua contribuição é marcada pela recíproca tragédia do ensino – “professor finge que ensina o aluno e o aluno finge que aprende com o professor”.

Atualmente, o papel do educador enquanto facilitador da liberdade de ensinar para transformar socialmente os indivíduos, torna-se verdadeiramente um mero discurso freiano, sem qualquer vontade de mudança, calcado numa omissão e alienação em "rede-corporativa entre Estado-sociedade-professor-aluno" (como o mais prejudicado o aluno), numa relação de capital-máquina em detrimento do desejável capital-conhecimento, e com isto, o que historicamente vigora neste país -, são os efeitos maléficos do ensino decadente, prostituído e vulgar.

Creio que esta tradição cesse algum dia, para que o compromisso e a liberdade de educar vinguem sob a luz da perspectiva de uma nova história e realidade brasileira.

* Editor Responsável do NCPAM e Cientista Social.

2 comentários:

Anônimo disse...

Fábio, é muito oportuno teu artigo. Ele ajuda a pôr em perspectiva o descompasso entre o que se sabe necessário para a melhoria do ensino e o que se faz, concretamente, para que o necessário aconteça.
O caso da resitência à inserção de conteúdos da cultura indígena e afro-brasileira na formação de professores parece exemplar das dificuldades de ajustar as políticas educacionais às necessidades político-pedagógicas da realidade nacional.
Não inserir esses conteúdos significa manter ou inserir outros. Quais são e em que sentido apontam? Pode ser que estejamos diante de um caso explícito de política de reprodução, quando poderíamos ingressar em processos de mudança.
De todo modo, ainda que considere a educação formal fundamental para nos apropriarmos de determinados conteúdos, não julgo que a fraca educação possa ser associada, diretamente, a muitos de nossos problemas sociais.
Não há dúvida de que melhorar a educação, incluindo novas tecnologias, ajustando grades curriculares, incoporando várias abordagens, melhorando a condição física das escolas e salarial dos professores, são tarefas necessárias e imprescindíveis. Mas serão suficientes?
Não creio, principalmente quando pensamos em termos do que chamas de "corporativismo".
Esse "corporativismo" opera defensivamente, mas ele defende o pouco pra não se fique sem nada. Daí um dos temas fundamentais que trazes à baila ser de tão difícil discussão entre professores: o da avaliação.
Todos reconhecem que ela é necessária para melhorar o ensino, a pesquisa e a extensão - seja em que nível da educação formal for. Mas é difícil um acordo sobre os critérios a utilizar. Em eu entender, essa dificuldade se deve menos ao interesse em melhorar que todos possam ter, do que à convicção dos trabalhadores da educação de que a avaliação será sempre um instrumento de "corte de gastos". Essa percepção se jusifica plenamente, pois o cobertor do Estado ficou muito curto para as políticas sociais que, mesmo recebendo mais recursos em termos nominais, são decrescentes se coparados ao edredon dos juros.
Enfim, parabéns pelo artigo.

Anônimo disse...

Muito bom o artigo! Super me ajudou em uma redação pro colégio