quinta-feira, 10 de julho de 2008

TECNOLOGIA SOCIAL, DESENVOLVIMENTO LOCAL E POLÍTICA PÚBLICA


Ademir Ramos*

O universo de análise é “por demais”, como se diz no baixo Amazonas, exigindo da gente um recorte analítico para melhor compreender e promover discussões que resultem em propostas formuladoras de uma política de inovação tecnológica, referenciada na prática da Extensão Universitária, implementada na Universidade Federal do Amazonas (UFAM) por meio do Núcleo de Cultura Política do Amazonas (NCPAM) do Departamento de Ciências Sociais.

O recorte metodológico feito e a própria exigência do Fórum faz com que as discussões e análises sejam centradas na temática de Tecnologia Social (TS), no contexto das políticas públicas, visando o desenvolvimento humano na Amazônia. Em destaque, o protagonismo das forças comunitárias e do movimento social mediado por procedimentos eficientes, capazes de agregar valor e capital humano numa perspectiva sustentável.

Para efeito de análise e, muito mais ainda, de aprendizado, a Amazônia tem sido objeto de variadas políticas transplantadas, que desrespeitam a tradição e as potencialidades locais, primando unicamente, pelo imediatismo econômico caracterizado por práticas de rapina e devastação, transformando a floresta em pasto, os rios em esgotos a céu aberto e o território em objeto de especulação imobiliária.

Nessa conjuntura, o Estado e seus Governantes identificam-se com poderosas corporações econômicas, criando os meios legais para justificar o domínio e a exploração da Amazônia e, em particular, do Amazonas. No passado, esses governantes agiam sob o escudo da integração e da modernidade, atualmente, de forma descarada praticam seus atos ilícitos à sombra do que se convencionou chamar de desenvolvimento sustentável, ou seja, a pílula da vida para os oportunistas, aventureiros e outros larápios diplomados, que instrumentalizam o Estado para acumular riqueza e poder, desmoralizando o mandato popular e a instituição política representativa.

Por tudo isso, a desigualdade social se alastra, gerando seqüelas irreparáveis na formação e desenvolvimento humano do nosso povo. A discussão em foco problematiza as políticas públicas, seus agentes e, sobretudo, os índices estatísticos oficiais que quantificam o desenvolvimento, enquadrando os homens como coisas e não como pessoas de Direito. Para esses larápios do poder, o povo é tratado como ovelhas a ser tosquiado.

No entanto, as práticas sociais das populações tradicionais na Amazônia dão conta de comportamentos e atitudes, conjugando forças agregadoras capazes de construir formas de organização sob o poder das comunidades. O exemplo dessa força comunitária está na organização do mutirão ou do puxirum, expressões vivas das culturas Amazônicas.

Manifestações dessa forma vigoram no território comunal fundado numa prática social coletiva, organizada horizontalmente por competências e habilidades, sendo avaliadas e colocadas em prova constantemente pelos beneficiados, podendo ser aprimoradas pelos atores ou redimensionadas para outros fins, como é o caso da criação e produção do artesanato e arte popular.

A prática do mutirão bem que poderia ser definida como Tecnologia Social Tribal, manifestação de uma ciência do concreto fundada em formas de saber tradicional, qualificada por relações comunitárias e por formação social, culturalmente demarcada por processos próprios de aprendizagem.

O desenvolvimento da TS requer não só domínio científico, como também projeto político a ser construído no horizonte da igualdade social e de justiça distributiva. Na UFAM, a nossa prática tem se respaldado nas mediações da Extensão Universitária, valendo-se da educação, cultura e ciência, articulada com as práticas de ensino e pesquisa de forma interativa, celebrando parcerias com as comunidades participantes dos projetos que o NCPAM desenvolve junto às comunidades.

Para a comunidade do NCPAM, a Extensão Universitária tem sido o motor que mobiliza força para desenvolver TS Participativa em direção a Democracia Direta, resgatando a soberania popular como expressão da sociedade civil, criando condições para se transformar a necessidade em oportunidade de organização, mobilização e formulação de políticas públicas de qualidades sob o controle das lideranças sociais, políticas e comunitárias.

* Professor, Antropólogo e Coordenador do NCPAM. Debatedor do I Fórum de Tecnologia Social, 10 a 11 de julho de 2008, no Campus Universitário.

2 comentários:

Anônimo disse...

Nosso infeliz governante estadual está vendendo a floresta do estado do amazonas, com pretexto de preservação ambiental falsa que visa lucrar com as riquezas naturais da floresta, tudo isto dado ao comando de especuladores internacionais, grandes proprietários de terras em toda a amazona brasileira, sobre os empréstimos bilionários ao Banco Mundial e ao Bnds SERÁ QUE nosso desacreditados e inca pazes deputados estaduais e vereadores fazem alguma questão de investigar o destino de todo este dinheiro? acho que não pois compartilham na sua omissão com o destino do dinheiro emprestado que nos cidadãos do estados do amazonas e quem vamos pagar a conta, pois e dado de graça ao governador, porem a população paga a duras custas ou seja com a pobreza social, moral do amazonense que teima em reeleger
os mesmos politicos picaretas de sempre.

Anônimo disse...

É, caro Glauco, concordo com você! É para isso que estamos aqui, para criar foruns de discussão e exercer a cidadania em todos os aspectos. E ainda, com a Tecnologia Social é mais uma possibilidade de por em questão e reflexão na comunidade 'os projetos de desenvolvimentos sustentáveis', em pauta a soberana democracia! Precisamos agora da participatividade...