sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O AMAZONAS EXIGE RESPEITO


Ademir Ramos*

Certa vez, os homens e mulheres de uma aldeia insatisfeitos com as ordens imperiais resolveram tomar para si a responsabilidade de decidir sobre a sua vida e de sua floresta. Na noite marcada reuniram-se em volta da fogueira, cantando e dançando para decidir que não serviriam mais de mula para os aventureiros porque eram homens e não bestas.

Essa gente sofrida que parecia não ter mais força para reagir contra seus malfeitores levantaram sua voz e firmaram posição contrarias as ordens palacianas, que excluíam o povo de participar diretamente da distribuição da riqueza e do poder gerado no seu próprio território.

Esse povo de fibra que se levanta indignado, bem que poderia ser os amazonenses e, em particular os manauaras, trabalhadores do Parque Industrial de Manaus, produtor de mais de 14 bilhões de dólares por ano, gerando um orçamento público governamental aproximado a 30 bilhões de reais para o governo e mais 7 bilhões para a prefeitura de Manaus por 04 anos de mandato. Esse povo é também o titular de um patrimônio natural incomensurável.

No entanto, vem sofrendo barbaridade tanto na capital quanto no interior do Estado, por ausência de políticas públicas que promovam estrutura de saneamento básico – água potável, esgoto, aterro sanitário... -; educação de qualidade, que permita as crianças e jovens desenvolverem suas aptidões cognitivas, bem como suas habilidades e competências; assistência integral a saúde e oportunidade de trabalho, emprego e renda, que garanta sustentabilidade as famílias e suas comunidades.

Bem que o Amazonas merecia um governo capaz de atender estas e outras demandas coletivas e sociais. No entanto, os seus mandatários não têm dado prioridades para estas ações. Pois, cada governo que assume inventa de criar a roda, priorizando outras ações em favor de interesses particulares, cavando cada vez mais a desgraça do povo de nossa terra. Eles se parecem com os ditadores do passado, que inventaram a construção da Transamazônica – uma grande estrada margeando o imenso rio das Amazonas – inflado pelo espírito do milagre ou pelo ufanismo surreal do pré-sal, exploração mineral e prospecção pretrolífera.

Certamente, o povo continuará sofrendo porque quando se reclama de assistência integral à saúde, educação de qualidade, valorização da cultura e outras prioridades fundamentais, os candidatos respondem de imediato, que vão construir hospitais, escolas e, não duvidem não, são capazes de afirmar cinicamente, que vão asfaltar o rio Negro para que a indústria automobilística venha implantar fabricas em nosso território, gerando trabalho para nossa gente... bando de cara - de - pau!

Contudo, a razão do sofrimento não está na dor que o povo sente, mas, no poder que esse povo tem e delegou por meio do voto aos lideres malfeitores. Essa reflexão deve ser feita por todos nós para que não erremos mais e possamos contribuir para a melhoria de nossa gente, exigindo dos prefeituráveis clareza nas propostas e compromisso firme com os interesses populares.

É como se fosse uma travessia que estamos fazendo em alto rio. Venha chuva ou temporal é preciso saber o que queremos e aonde vamos chegar. Se o temporal for forte, gerando grande banzeiro, temos que parar no porto mais próximo, mas, assim que passar - vamos juntos no mesmo barco em busca de um porto seguro, que dê abrigos para nossas crianças, jovens e idosos, despertando em nossos corações e mentes a confiança e a credibilidade que nos foi roubada.

Portanto, levantemos a cabeça e com toda força d’alma diremos a esses candidatos corruptos, que “não somos bestas, somos homens e por isso exigimos respeito”. Feito isso, começamos a vislumbrar novos horizontes, transformando o voto num instrumento de Direito e de Justiça Social.


* Coordenador do NCPAM; é antropólogo e professor da UFAM.

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