quinta-feira, 18 de setembro de 2008

A POLÍTICA COMO ESTRATÉGIA DA CIDADANIA


Breno Rodrigo de Messias Leite*

Defender a Política nos dias de hoje é um tanto complicado. Defender a arte do poder é simplesmente colocar na ordem do dia o mais do mesmo da boa e velha filosofia política tão bem compreendida por John Rawls na sua indagação: o que é uma sociedade justa? Não vou respondê-lo, mas vou parafraseá-lo: o que é uma política justa?

Seguramente é questionável atribuir à Política qualquer juízo de valor preestabelecido. De Maquiavel aos dias de hoje é difícil aproximar moralismo barato e poder, e fazer com que esta união se sustente por muito tempo. No meu entendimento, a POLÍTICA deve ser o exercício do possível, a práxis do entendimento comum e da construção do consenso.

Nos dias de hoje, é estranhíssimo políticos profissionais não defenderem a Política como saída para as dificuldades, pois assimilam que para o “povão”, política significa pilantragem, corrupção... Por isso, os políticos preferem direcionar as soluções dos problemas para o lado do gerenciamento, da administração para assim “despolitizar” os problemas. Os políticos profissionais dizem que o problema da segurança pública é “técnico, não político”; a questão da C&T é um problema científico e não político; os rumos da economia devem ser tomados “pelos técnicos e especialistas” à medida que não é um problema político, mas um problema de cálculo diferencial, estatística, curva de oferta/demanda...

Os políticos profissionais que fazem essas considerações são hipócritas. Não merecem respeito intelectual ou mesmo Político. Agem covardemente no sentido de ludibriar e afastar a maioria da população das esferas públicas de discussão e decisão. Para que o cidadão possa romper com tal paradigma é preciso que exista um contra-discurso que opere em direção a promoção da Política enquanto valor humano, social e cultural da sociedade.

Nas eleições deste ano, levando em conta as críticas à falta de propostas das candidaturas e a ausência de debates públicos, o que realmente está em jogo é, em última instância, o poder político. A possibilidade real de após o enfrentamento eleitoral, os políticos eleitos conduzirem as formulações das políticas sociais, do orçamento e da direção da convergência do poder político. A política, embora não pareça, é o centro da discussão eleitoral. As eleições se conformam em torno das estratégias dos partidos políticos e dos candidatos para a conquista do executivo e das cadeiras do legislativo.

Nesse sentido, o nosso convite é para que o eleitor tenha a oportunidade de VOTAR EM CAUSAS, PROJETOS E IDÉIAS. O voto nos indivíduos na verdade é o voto de dissuasão, descompromissado com idéias de projetos municipal-regional-nacional. O voto no individuo sem causa, sem projeto e sem idéia, portanto, representa o apartidarismo e a busca de interesses imediatos seja no parlamento, seja no executivo.

A Política, com certeza absoluta, não se conforma como uma técnica controlada pelos especialistas. Pelo contrário. O método político democrático é a plataforma de discussão dos políticos profissionais e dos cidadãos. Portanto, o Município, o Estado e a União não deveriam ser as casas dos “policrata”, como Roberto Campos defendia. As esferas públicas de discussão e decisão são espaços a serem ocupados pelo povo e pelos seus representantes diretos. Por isso, defendo a participação cidadã na forma de democracia direta e representativa. A democracia brasileira só tem a ganhar, e a cidadania também.

* Artigo reeditado; o autor é mestrando em Ciência Política (UFPA), bolsista da CAPES e colaborador do NCPAM.

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