
* Ademir Ramos
O rito da democracia renova-se em cada eleição. Em 2008, o povo brasileiro está convocado a eleger seus prefeitos e vereadores para garantir o pleno funcionamento das instituições municipais, amparadas no instituto da representatividade popular à frente das Câmaras e Prefeituras Municipais.
O jogo começou. As regras já foram proclamadas, os atores candidatos ensaiam suas articulações, procurando lideranças partidárias em busca de coligação e aliança, que lhes permitam maior tempo na “telinha”, referindo-se aos horários obrigatórios da propagando eleitoral. Ora, se depender do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a campanha eleitoral já começou, porque em cada inauguração que participa reúne partidários de múltiplas tendências, visando fortalecer os “currais eleitorais”, principalmente no Norte e Nordeste, qualificados no passado como “eleitores da Arena”, partido que dava sustentação ao regime militar.
No presente, o Lula percorre o morro, o sertão nordestino e as quebradas das periferias do Brasil afora, prometendo ampliar cada vez mais o bolsa-família e garantindo que os excluídos terão direito as três refeições por dia. A barra é pesada, a máquina funciona movida por dossiês e uso indevido dos cartões corporativos, como também, aprovação de Emendas Parlamentares em favor de interesses eleitorais contrários a prática republicana.
Em disputa encontra-se não só a sucessão nas Câmaras e Prefeituras Municipais, como também as eleições para Governo, Câmara e Senado Federal, bem como a própria Presidência da República, a ser disputada nas eleições de 2010.
O presidente Lula, por sua vez, distancia-se do Partido dos Trabalhadores (PT), promovendo uma prática populista centrada na sua própria biografia, desqualificando o partido programático e, muito mais ainda, o projeto de nação fundamentado na justiça distributiva, criando oportunidade para todos quanto à
empregabilidade e a sustentação social dos brasileiros.
De morro acima, Lula tem sido direção para aliados e oportunistas, que de imediato passaram a se identificar com a luta dos trabalhadores e dos excluídos, calçando suas práticas políticas no “mínimo compensatório” oferecido pelo Estado aos desamparados sociais. Assim, sendo o processo eleitoral torna-se viciado pela condição motora da maioria, que converte o voto em medidas compensatórias imediatas para satisfazer necessidade emergentes, comprometendo o futuro das instituições democráticas.
Portanto, pergunta-se o que esperar de um povo que vive e dependem de bolsa-família, bolsa-floresta, de sobras dos programas oficiais e outros favores palacianos da mesma natureza.
A prática populista do governo Lula vem sendo incorporada por todo o Estado através dos governantes, que no passado eram extremamente contrários à luta social. Atualmente, referendados, pelo PT pousam de revolucionário e pulam de ponta-cabeça, jurando serem servidores da floresta, amigos dos índios, amantes do saber e socialista de carteirinha.
Assim sendo, as eleições que se aproximam perdem em dimensão ideológica quanto à disputa dos projetos de nação, ofuscando o futuro da democracia participativa na construção de um Brasil justo e soberano. Nessa perspectiva, ganha mais cores a prática populista, favorecendo a emergência de candidatos viciados pela corrupção e pelo domínio da apropriação do Estado a promover o enriquecimento ilícitos dos seus agentes em toda instância deliberativa de poder.
Nessa conjuntura, a política converte-se num grande negócio, privatizando o Estado em beneficio de grupos particulares mediados por políticos profissionais que rasgam o estatuto da impessoalidade, legalidade, moralidade, transparência e comprometimento com os valores republicanos.
Contudo, para desgraça de todos, o vício passa a determinar o critério político de escolha dos candidatos, reduzindo as eleições em moeda de troca.
* É coordenador geral do NCPAM, antropólogo e professor da UFAM.