sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

EM MANAUS AINDA SE COME JARAQUI

Ellza Souza (*)

Pode até ser de viveiro mas o jaraqui de dois palmos dos paraenses Ademir e do Toti estava saboroso. Dos peixes mais nutritivos de água doce, esse que em qualquer lugar alcança pouco mais de um palmo, aqui é quase um gigante principalmente quando quem faz essa medida é lá das bandas do Juruti e de Óbidos, onde o rio Amazonas faz a sua maior curva.

Nesse clima de euforia e amizade, um grupo formado pelo professor da Ufam Ademir Ramos, Ana Peixoto, Ana Castelo e mais alguns amigos, inclusive o Tenório Telles que chegou atrasado com uma cabeleira reforçada mais parecendo meu neto do que meu avô, se reuniu para um almoço no Restaurante Ponto do Peixe, onde o próprio dono, o Toti, nos recebeu com as histórias muito peculiares e engraçadas de bom paraense que ele é e nos deixou com vontade de levar certos políticos para conhecer o nosso tripudiado vizinho que preserva tão bem as suas raízes, literalmente, as tradições, a cultura. Aquele Ver-O-Peso é uma síntese da Amazônia com seus cheiros, frutas, peixes, garrafadas, farinhas, maniçobas e aqui prefeito cadê o mercadão?

A idéia era homenagear o amigo Tenório, o sanhaçu, que alçou o vôo de grandes mudanças em sua vida. O encontro veio reforçar o desejo de todos que o admiram e o respeitam, a muito sucesso nessa sua nova empreitada. O ambiente muda, o cotidiano muda, novas amizades virão mas as velhas continuarão fazendo parte de sua história. A conversa que já estava encerrando quando o Tenório chegou, voltou a ficar interessante. Os temas subiram o nível e fazendo valer a sua fama o homenageado passou a falar de filosofia, cultura grega, de que “devemos ser pontes” em relação a conhecimento, à solidariedade, à sustentabilidade. Instigado falou de sua experiência na Grécia junto com seu amigo Celdo Braga e das impressionantes ruínas de impérios e deuses da antiguidade. Como um deus tupiniquim que se preza manifestou seu desejo de, um dia, morar na Olímpia dos gregos sem os troianos por perto.

Saímos do restaurante revigorados mesmo que com um leve pitiú nos dedos e cabelos esfumaçados e envoltos no suave perfume dos peixes amazônicos. Claro que ao poeta Tenório Telles coube a missão de encerrar com a beleza de um poema de Camões. E felizes, felizes mesmo, voltamos para as nossas realidades como qualquer mortal caboclo que nos orgulhamos de ser.

(*) É escritora, jornalista e articulista do NCPAM/UFAM.

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