segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

FALTA PURPURINA E CONFETE NO CARNAVAL DE RUA

Não, não se trata de nenhuma febre saudosista. O que se reclama é a falta de políticas públicas para garantir o direito de todos, inclusive dos jardins da cidade, o pouco que temos. O barbarismo não deve reinar, alguém tem que responder pelos atos cometidos. E o pior que os blocos estão surgindo sob a chancela de políticos profissionais que querem porque querem afirmar sua popularidade no grito ou no porre dos foliões. O pior de tudo é a praga do trio elétrico que no sertão nordestino está destruindo a cultura popular e por aqui os "macaquitos" começam a copiar como se fosse a modernidade do carnaval de rua. E os analfabetos políticos, oportunistas como sempre, botam a cara de fora dizendo que conseguiram reunir 40 a 100 mil brincantes, como se isso medisse a popularidade. É hora de autuá-los como réu confesso pelos danos causados a cidade que é a nossa morada. Já que a Prefeitura tem sido omissa, bem que o Ministério Público deveria atuar... o povo não-leso agradece.

Ellza Souza (*)

A tarde do sábado (18) de carnaval em Manaus, depois de uma chuvinha, estava linda e só por isso valeu a pena sair de casa para acompanhar frangos e galos, supondo que a animação ia ser total como promete um bom bloco carnavalesco com marchinhas empolgantes e uma população que só quer alegria. Fui para o local da concentração nas proximidades do shopping e a coisa começou a apertar. Imagino que tanta movimentação não era esperada nem pelos organizadores do evento e muito menos pelos encarregados da segurança da cidade.

O gigantesco veículo dirigido pelo próprio dono, fazia muito barulho e pouca animação. O trânsito parou. Ônibus e carros devem ter ficado horas esperando o bloco passar. Só que não passava pois os brincantes lotavam do início ao fim do trajeto na praça do conjunto Dom Pedro. Não vi nenhum policial apenas meia dúzia de marronzinhos (guarda municipal do trânsito) tentando segurar os mais afoitos numa tarefa impossível. Fiquei profundamente impressionada que fora os mal educados e os mijões, não observei nenhum incidente mais grave. Os galos bombados e os mirrados não se fartaram de molhar a vegetação da área e sem o menor constrangimento vertiam suas águas dos joelhos nas plantas e nos muros. As franguinhas ainda se davam ao trabalho de procurar paredes mais restritas para abaixar e mijar.

Quem não levou seu próprio arsenal de bebidas, ficou com a goela seca. Padarias, lanchonetes, salões de beleza, fecharam as portas com medo da multidão carente de folia. Uma vez ou outra ouvia-se o zunido do som vindo do chamado trio elétrico e aí o bloco do saterê dava alguns passinhos numa tentativa de animar a tarde momesca. Ouvi do líder do animado grupo que esse tipo de “canja”, nunca mais.

Chegando na praça, depois de ser embalados “mansamente” pela multidão, o locutor do trio avisou que estava encerrada a festa. E tocou um frevo para coroar a animada tarde. Era exatamente 7 da noite. Muita gente perdeu chaves, documentos, sapatos, adereços. Na ânsia de faturar, apareceu um solitário vendedor de bebidas com o enérgico a “5 real”. Os improvisados churrasquinhos de gato enfumaçavam os foliões e diminuíam ainda mais o espaço da galera. Alguns encastelados em seus carrões jogavam refrigerante e cerveja nos brincantes fazendo de copo o próprio sapato.

Mesmo com tanta gente junta, espaço pequeno, improvisação, o que se observa é a falta de competência para gerir um evento dessa magnitude. O povo quer alegria, quer brincar o carnaval, os organizadores querem faturar e só. Não existe nenhum planejamento para que a festa seja boa, eficiente. Espero sinceramente que em 2013 a história seja outra e alguma lição tenham aprendido. Estamos longe do bloco Bola Preta do Rio de Janeiro que segue o seu ritmo com velhas e novas marchinhas fazendo uma festa realmente popular.

Mas em relação ao horizonte daquela tarde de sábado, o céu ficou esplendoroso. Quem olhou além da multidão viu que a desorganizada festa de carnaval estava sob um crespúsculo dos mais belos e coloridos. Acima da turba estava a natureza só observando e esperando ser observada. Mas ninguém ligou pra isso. E aos empurrões descemos a avenida rumo a apoteose.

(*) É escritora, jornalista e articulista do NCPAM/UFAM.

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