quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O PERIGO MORA AO LAGO

Ellza Souza (*)

Não existe mais lugar seguro no mundo. Pelo menos nas cidades. Nem nas grandes e nem nas pequenas. O tráfico de drogas espalhou-se como um rastilho de pólvora, literalmente. Mais e mais pessoas entram na dependência química ou alcoólica como se desconhecessem os malefícios dessa condição. Pelo menos isso a televisão faz de bom. Mostra todo dia a desgraceira que é viver sob o jugo de entorpecentes sem o domínio de sua tão curta existência.

As cracolândias avançam nas cidades. No interior faz pena a situação das pessoas. Nas fronteiras e em lugares longínquos da Amazônia esse mal já atingiu muita gente e cresce cada vez mais a massa de desvalidos e necessitados que gastam seus parcos recursos com cachaça e outros tipos de drogas, ficando a mercê dos criminosos. O ser humano parece estar em processo de suicídio coletivo. Será dessa maneira o fim da humanidade que tanto receamos? Do jeito que vai parece que sim. Uns se bandeiam para consumir todo tipo de porcaria em troca sabe-se lá de que. Outros, em busca de ganhar dinheiro “fácil” vendem essas substâncias nocivas aos incautos e carentes. Outros ainda fazem o trabalho sujo de misturar um produto já ruim a outros piores, tóxicos e que aceleram a degradação do dependente. Chegou-se, através dessas misturas e desses criativos alquimistas, ao crak e ao ecstasy, que acabam mais rapidamente com a centelha divina que existe no ser humano.

Não podemos nos iludir. Essas substâncias químicas que chamamos de drogas, o álcool, o cigarro, todas mexem com a fragilidade humana e os seus mercadores se aproveitam disso para enriquecer baseado num conceito errado de consumismo onde precisamos a qualquer custo ter carros, imóveis luxuosos, roupas de marca, computadores e celulares de ponta, inundar as células de fumaça e de álcool e comer “do bom e do melhor”. Essa definição do que é bom e melhor para o ser humano é que está mal explicada. Parece que não conseguimos definir o melhor para as nossas vidas. E caímos facilmente em armadilhas perigosas. A existência que já é efêmera fica restrita a poucos e malcuidados anos.

Acho que está havendo uma mobilização no mundo da bandidagem que vende drogas. É latente o aumento dessas substâncias nas fronteiras e nas pequenas e grandes cidades
amazônicas. Com o maior empenho da polícia nos grandes centros brasileiros acontece uma “descida” para as nossas bandas. Os pontos de venda e laboratórios estão por todo lado. Os conjuntos residênciais para onde as pessoas se deslocam em busca de maior proteção, estão impregnados desse comércio tão ilegal quanto imoral. Não entendo o motivo que leva um homem ou uma mulher, jovem, saudável, fazer o trabalho sujo em um laboratório de drogas onde a única finalidade daquela atividade é fazer o mal e transformar pessoas em molambos que irão sofrer até a morte prematura e violenta. Ao lado de casa que considerava seguro estava instalado um desses pontos e nunca percebi nada, a não ser “um cheiro estranho” que incomodava às vezes mas nunca pensei que fosse droga. Estava cheirando cocaína e não sabia. Soube também de um local de vendas dentro de um outro condomínio residencial, fechado com duas guaritas, cobrança de taxas e tudo. A vizinhança até sabe do problema mas como não lhe aflige diretamente acha que não precisa denunciar. E os criminosos vão se dando bem na sociedade onde vale mais quem tem mais tranqueiras e fuma o melhor tarugo. Não evoluímos nada. Ao contrário estamos cada vez mais detonando a nossa capacidade de evoluir e melhorar como ser humano.

O mundo tão moderno, ávido de novidades e recheado de equipamentos que saem de moda a todo momento, não consegue melhorar as condições para uma vida de fato boa. Falta algo que não conseguimos definir para que isso aconteça. Aí então começam a aparecer as previsões de fim do mundo feitas por uns e outros que de uma certa maneira também vivem da fraqueza humana, da desgraça alheia. Nós mesmos traçamos o nosso destino. Podemos ser cúmplices do Criador ou não. A escolha é nossa. Para viver precisamos ter a “cabeça boa” para resolver as dificuldades do dia a dia que são comuns a todos, ricos e pobres, e não uma cabeça que só obedece um único comando: o do malfeitor. Que prazer pode advir disso?

(*) É escritora, joranalista e articulusta do NCPAM/UFAM.

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