sábado, 2 de fevereiro de 2013


NA MINHA ALDEIA O CARNAVAL É O MELHOR

Ademir Ramos (*)

Ainda hoje (2), eu, o “Fula-mulelu”, o Paulo (Calango) e o Fernando (Arigó) nos encontramos no restaurante do Toti, em Manaus, para “molhar as palavras” e fazer circular as informações de nossa cidade querida, berço de José Veríssimo, Inglês de Souza, Saladino, Mário Andrade, Maria Ramos, Manelito, Pelelé,Tereza Muda, Azamor, Dona Cora, Dilseli, Denilson, Miguel Chaves, Max, tia Cecília, o Arara, o Mata-Onça e o tio Waldir, entre outros bambas, que nos lembram a mocidade, fazendo crer que somos maior do que aparentamos ser porque nos projetamos no mundo como sujeito de nossa história comunal alicerçada numa extensa rede de amigos a se multiplicar nas plataformas virtuais da sociedade da informação.

Assim somos porque vivemos intensamente a cultura do nosso povo. Lembro-me da paixão que a mamãe Zolima tinha pela política, chegando ao ponto de participar dos comícios, contrariando a vontade do velho Azamor. O papai, por sua vez, era pagodeiro, levava tudo na valsa, vendendo o almoço para comprar a janta, mas nunca nos faltou o que comer porque a mamãe fazia milagre multiplicando o pão. Só sei dizer que era muito trabalho para sustentar o clã dos Ramos e seus agregados.

As tardes me deslocava para o curro (matadouro) com o tio Waldir, que nos doava os miúdos dos animais abatidos, contribuindo em muito com o nosso pão de cada dia. Lembro-me ainda das tardes, do som da clarineta do Nascimento, tocando chorinho em seu quintal, imprimindo, dessa feita, na alma lembranças indeléveis de minha feliz infância marcada pela gratuidade e os afetos dos amigos da vizinhança, do Grupo Escolar José Veríssimo e do nosso Colégio São Francisco, sob a batuta do Frei Edgar.

Na Rua Dr. Machado (na Prainha), onde morávamos, vizinhança da Maria Ramos e da Tereza muda, o Sarau era constante, em épocas juninas tínhamos o Pau-de-sebo, as fogueiras, as comidas típicas e outras manifestações. A boa música era constante nos acordes do violão, no saxofone e no “boca de ferro”.

Mas, o quente era o carnaval, que o tio Waldir organizava, alugando os dominós (fantasia nos moldes do medievo), fazendo as máscaras e vendendo as bexigas de boi para os mascarados, que corriam atrás das crianças para bater nas cabeças. Numa dessas investidas, na década de sessenta, ainda criança, decepei o pé no fundo de uma garrafa, sendo cuidado pelo enfermeiro do Sesp.

O carnaval de Rua de Óbidos, no gogo do Amazonas, no Estado do Pará, foi e continua sendo uma grande onda, é maizena pra cá e pra lá, pintando de branco os passantes para alegria dos mascarados foliões. A festa é o carnaval, mas, a alegria maior é o encontro entre amigos, parentes e visitantes, confira e tecle enviando-nos as fotos ademiramos@hotmail.com porque estarei ausente nas terras dos Pauxis, neste reinado de Momo 2013.

(*) É professor, antropólogo e coordenador dos projetos Jaraqui e do NCAPM/UFAM.

Um comentário:

Ana Maria G.Ramos Araujo disse...

Parabéns Prof. Ademir Ramos, o artigo está rico e bastante fundamentado.Carnaval é folclore brasileiro e principalmente na Terra dos Pauxis é Cultura vivida com as mesmas tradições de suas origens. Tio Waldir, o rei das máscaras ainda desfila nos blocos.