domingo, 11 de junho de 2017

BRASIL EM TRANSE



Ademir Ramos (*)

Nossas homenagens ao genial Glauber Rocha, que na década de sessenta, em plena ditadura roteirizou e produziu “Terra em Transe”, uma das mais belas obras do cinema nacional referenciada na República do Eldorado, um país fictício da América Latina, tendo como enredo a disputa eleitoral movida por interesses oligárquicos visando unicamente o controle dos aparelhos de Estado para perpetuação do poder pelo poder. A ficção foi tão surreal que conseguiu aprovação dos agentes da censura do governo militar por não acreditar na possibilidade da trama ser um dia vivenciada pelo Brasil de forma tão cínica e imoral regida pela política, sexo e toda forma de corrupção, violando os interesses nacionais sob o mando de uma organização criminosa com base na estrutura partidária, intervindo diretamente no poder Legislativo e no Executivo. Na verdade, o realismo político do lulopetismo aliançado com o PMDB deixa no chinelo a obra irreverente de Glauber Rocha, mas, como nos ensinou o cantador nordestino Belchior, “a vida é muito pior” porque os mandatários corruptos transformaram o Brasil numa maquina da corrupção assentada na Petrobras, a carrear recursos às empreiteiras que superfaturavam obras públicas para bancar eleições, com pagamento de propina e caixa dois, seguidas de outras manifestações de afirmação do poderio político dos partidos desta coligação criminosa, tendo por objetivo saquear a economia política do País, empobrecendo cada vez mais a Nação enquanto tais lideranças políticas, chefiada pelo PT, implantavam projetos e programas de política compensatória tal como bolsa família e outras medidas do gênero populista, oferecendo aos excluídos as migalhas enquanto os bandidos com mandato acumulavam milhões tanto no Brasil como no exterior surrupiado da Petrobras e do cofre público.

FAZENDO ESCOLA: O modo de governar do PT fez escola na engenharia política nacional influenciando seus aliados no domínio e controle da máquina pública com seus tentáculos famintos e afoitos, inclusive no governo do Amazonas. Nesta trama, o ex-governador Eduardo Braga (PMDB) é um dos principais atores citados nos depoimentos dos agentes das empreiteiras a se beneficiar da propina e de recursos para o chamado caixa dois, segundo consta nos autos, a merecer do citado a sua contestação. Contudo, cada vez mais que a ficção foge pela janela a realidade por meio da delação premiada entra pela porta da frente, denunciando o cinismo e a desfaçatez destes atores de paletó e gravata que transformaram a política eleitoral numa coligação criminosa com capilaridade internacional capaz de remover de sua frente qualquer força oponente que obstrua a sua permanência no mando do Estado.

NEM TUDO ESTÁ PERDIDO: O Brasil é maior do que a corrupção e esta grandeza só é possível vingar se as instituições de Estado forem preservadas. Nestes termos é importante trabalhar junto ao povo cultivando os valores democráticos, primando pela defesa da liberdade amparada num corpo jurídico, como expressão da Justiça, contra a impunidade e a corrupção seja ela objetiva ou subjetiva. Sabedores de que ninguém está acima da lei e que a realização da justiça requer a participação efetiva da Nação na forma de suas organizações e movimentos sociais com ressonâncias nas práticas pedagógicas nas escolas e nos lares, nas comunidades e fabricas vinculado às lutas sociais pela afirmação dos Direitos Fundamentais na forma de controle participativo. Valores e processos fazem parte desta cultura cívica centrada nas práticas políticas visando combater a desigualdade social que denuncia a extrema pobreza como expressão máxima da corrupção a se concretizar no desemprego estruturante que assola o Brasil na forma do abandono político e social que ameaça a todos.          

(*) É professor, antropólogo, coordenador do NCPAM/UFAM e do projeto jaraqui. E-mail: ademiramos@hotmail.com     


         

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