Ademir Ramos (*)
Nossas homenagens ao
genial Glauber Rocha, que na década de sessenta, em plena ditadura roteirizou e
produziu “Terra em Transe”, uma das mais belas obras do cinema nacional
referenciada na República do Eldorado, um país fictício da América Latina,
tendo como enredo a disputa eleitoral movida por interesses oligárquicos
visando unicamente o controle dos aparelhos de Estado para perpetuação do poder
pelo poder. A ficção foi tão surreal que conseguiu aprovação dos agentes da
censura do governo militar por não acreditar na possibilidade da trama ser um
dia vivenciada pelo Brasil de forma tão cínica e imoral regida pela política,
sexo e toda forma de corrupção, violando os interesses nacionais sob o mando de
uma organização criminosa com base na estrutura partidária, intervindo
diretamente no poder Legislativo e no Executivo. Na verdade, o realismo
político do lulopetismo aliançado com o PMDB deixa no chinelo a obra
irreverente de Glauber Rocha, mas, como nos ensinou o cantador nordestino Belchior,
“a vida é muito pior” porque os mandatários corruptos transformaram o Brasil
numa maquina da corrupção assentada na Petrobras, a carrear recursos às empreiteiras
que superfaturavam obras públicas para bancar eleições, com pagamento de
propina e caixa dois, seguidas de outras manifestações de afirmação do poderio
político dos partidos desta coligação criminosa, tendo por objetivo saquear a
economia política do País, empobrecendo cada vez mais a Nação enquanto tais
lideranças políticas, chefiada pelo PT, implantavam projetos e programas de
política compensatória tal como bolsa família e outras medidas do gênero
populista, oferecendo aos excluídos as migalhas enquanto os bandidos com
mandato acumulavam milhões tanto no Brasil como no exterior surrupiado da
Petrobras e do cofre público.
FAZENDO ESCOLA: O modo
de governar do PT fez escola na engenharia política nacional influenciando seus
aliados no domínio e controle da máquina pública com seus tentáculos famintos e
afoitos, inclusive no governo do Amazonas. Nesta trama, o ex-governador Eduardo
Braga (PMDB) é um dos principais atores citados nos depoimentos dos agentes das
empreiteiras a se beneficiar da propina e de recursos para o chamado caixa dois,
segundo consta nos autos, a merecer do citado a sua contestação. Contudo, cada
vez mais que a ficção foge pela janela a realidade por meio da delação premiada
entra pela porta da frente, denunciando o cinismo e a desfaçatez destes atores
de paletó e gravata que transformaram a política eleitoral numa coligação
criminosa com capilaridade internacional capaz de remover de sua frente
qualquer força oponente que obstrua a sua permanência no mando do Estado.
NEM TUDO ESTÁ PERDIDO: O
Brasil é maior do que a corrupção e esta grandeza só é possível vingar se as
instituições de Estado forem preservadas. Nestes termos é importante trabalhar
junto ao povo cultivando os valores democráticos, primando pela defesa da
liberdade amparada num corpo jurídico, como expressão da Justiça, contra a impunidade
e a corrupção seja ela objetiva ou subjetiva. Sabedores de que ninguém está
acima da lei e que a realização da justiça requer a participação efetiva da
Nação na forma de suas organizações e movimentos sociais com ressonâncias nas
práticas pedagógicas nas escolas e nos lares, nas comunidades e fabricas
vinculado às lutas sociais pela afirmação dos Direitos Fundamentais na forma de
controle participativo. Valores e processos fazem parte desta cultura cívica
centrada nas práticas políticas visando combater a desigualdade social que
denuncia a extrema pobreza como expressão máxima da corrupção a se concretizar
no desemprego estruturante que assola o Brasil na forma do abandono político e
social que ameaça a todos.
(*) É professor,
antropólogo, coordenador do NCPAM/UFAM e do projeto jaraqui. E-mail:
ademiramos@hotmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário