sábado, 21 de junho de 2008

DRAMA ACADÊMICO



* Pedro Braga

Saber ler, escrever, analisar e interpretar um texto é direito de todos. Cada homem e mulher necessitam, por natureza, expor suas idéias, seus pensamentos, súplicas, inquietações. É através do professor e, ordinariamente, da prática da leitura que tais ferramentas – escrita, leitura, análise e interpretação – podem ser estendidas às mãos e mentes escurecidas.

Platão, filósofo grego de contexto social longínquo, já nos dera exemplo sobre a leitura, escrita e seus benefícios para o homem por meio de sua bem conhecida caverna escura de ignorância. De acordo com este pensador, o ser que não possui as ferramentas precípuas para a elevação intelectual do homem encontra-se aprisionado, trancafiado num tipo de caverna escura que ele mesmo deixou se desenvolver, cabendo a ele o passo inicial para escapar da mesma.

Sua libertação só poderá ser integral se o esforço empregado aos braços, pernas e, sobretudo, ao cérebro partir dele próprio, o que nos remete que a elevação mental/intelectual é um exercício de via pessoal e muito particular de cada ser.

Verifica-se que a leitura pode, mediante o apoio do professor e esforço de cada indivíduo, propiciar a libertação das garras do senso comum – muito latente em nosso tempo -, delegando a esse homem obstinado por liberdade autonomia pessoal e intelectual. O resultado final deste esforço compreende um ser preparado a enxergar de maneira analítica e crítica o mundo/contexto no qual está inserido.

Manifestações de interesse à arte da escrita e leitura podem ser compreendidas, também, em períodos pretéritos cuja datação marca 5000 a.C. aproximadamente, na era antiga oriental, em específico na Mesopotâmia, onde os sumérios, instigados pela necessidade de numerar, registrar, relatar, produzir anais desenvolveram a escrita e, por conseguinte, a prática da leitura, mediante especialistas deste campo de estudo histórico.

Outras civilizações que podem ser citadas por razão de seu constante interesse à articulação com a arte da escrita e leitura são a egípcia, grega, eblaíta, e muitas outras. Portanto, é perceptível já nesta era remota que leitura e escrita se configuravam como ferramentas de trabalho – no caso dos escribas egípcios e filósofos gregos, o primeiro exercendo a produção relatorial e o segundo a abordagem filosófica – imprescindíveis para a manutenção e, posteriormente, consolidação da maior parte da cultura e pensamento da época, se alongando até a atualidade.

Eis, pois, acima, em sintética explanação, razões que propõem a nos instigar à não projeção indiferente para com o apoio aos muitos cidadãos e aspirantes universitários que se encontram até certo momento “desprovidos” desta prática que em outras palavras, ditas pessoais, devem por direito humano fazer parte de qualquer vivente pensante.
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No entanto, uma notável parcela de estudantes de diversas áreas das instituições de ensino superior do estado do Amazonas passam por um dramático problema não resolvido em períodos nos quais se encontravam na sala de aula do ensino secundário. Muitos de nossos universitários estão incapacitados na técnica da escrita, não conseguem organizar e externar seus pensamentos ou idéias, o que acaba acarretando na dificuldade de comunicação entre professor e aluno em momentos em que tal interação é extremamente “necessária”: a hora do exame dissertativo.

Sem obstar, vemos em nosso meio acadêmico “ilustríssimos professores” que, movidos não sei se por excesso de eruditismo ou pelo imaginário que nossa educação deve a ferro e fogo, no presente contexto, ser igualitária a de países desenvolvidos para assim atender a certas posturas pessoais intelectualizadas, delegam indiferença para o proposto assunto, “doutos” que se esquivam e, frequentemente, tapam os olhos para a compreensão e apoio na busca de soluções para esta questão social.

Vê-se, portanto, que esta deficiência muito latente nos âmbitos de nossas universidades é uma chaga social que precisa ser sanada por todos nós, especialistas geógrafos, sociólogos, antropólogos, filósofos, historiadores e jornalistas, enfim – e, sobretudo, por ainda vós que são denominados como sendo homens e mulheres educadores, formadores de opinião.

Qual o caminho mais rápido e eficaz para a extinção de tal problema? Metodologias pedagógicas? Indubitavelmente. A metodologia do ensino é extremamente relevante para a concretização da aprendizagem do indivíduo, disso não podemos nos contrapor. Todavia, não há uma aprendizagem de qualidade sem uma postura docente aplicada, compreensiva e, sobretudo, que acredite e persevere na mudança deste quadro social.

Pois estudantes necessitam de professores interessados em suas causas, mestres que não hesitem em orientá-los quando precisam, doutores que os critiquem e, em seguida, mostrem os bons caminhos a seguir, sem usar como artifício verdades particulares, homens que os incitem a enxergar suas próprias verdades e ensinem como lutar por elas, calcados nos argumentos necessários para tal.

Enfim, analfabetos funcionais “clamam” por “alfabetizados” que os tirem da caverna escura que existe em cada cantinho das salas de aula de nossas instituições públicas e privadas.

Talvez exista um amigo universitário ao seu lado que passa por problemas de comunicação escrita ou falada. Se sim, ajude-o! Se este for você, ajude-se! Rompa com sentimentos contrários e afie a arma cuja lâmina tem desmistificado valores, pensamentos e revolucionado sociedades ao longo do tempo, a pena/caneta/dígito.

* Estudante do curso de História da Universidade Federal do Amazonas.

Obs: o texto é produto da nossa oficina, resultado do projeto de extensão da UFAM que conjuntamente realizamos com o Professor Tenório Telles.

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito boa a colocação do colega, mas o problema do analfabetismo funcional parte de cima para baixo, lá no âmbito da política - pela falta de primazia destes ao assunto. Ainda mais, quando hoje cultiva-se a cultura do passar pelo diploma, pela exigência de mercado, da expressão dos 'números' que indiquem isso ou aquilo...Nossa educação esta passando por mudanças, nas quais esta afetando a sociedade como num todo. Tanto é, que vincula-se que a criança saia do primeiro ano do primeiro ciclo, lendo e confeccionando pequenos textos, para que quando chegue no ensino superior não sinta tanta dificuldade. Contudo, temos outros fatores que implicam falta de condições de um ensino de qualidade em todas as suas fases. Esses fatores são desde estrutura didática, sálarios, greves, cursos de aperfeiçoamento de professores, incentivo a pesquisa na área,(...) e quantas outras faltas que poderiam ser citadas aqui. Logicamente deve-se iniciar em mais tenra idade, a busca de um aperfeiçoamento, num exercício diário da leitura e escrita.

Anônimo disse...

Caros leitores, no presente texto se propõe fazer o discorrer acerca de uma questão latente em nosso âmbito acadêmico. Claro que a via política como explanação para tal é extremamente necessária.Porém, persuado-me a criticar, sim, posições de discentes e docentes de nosso corpo universitário; que delegam indiferença a colegas os quais foram alvos, nos períodos de sua formação secundária, da desigualdade educacional de nosso país. Mais imediatamente, devemos compreeder o dito problema na busca de soluções que se encaixem neste caso.

Anônimo disse...

um ensino primario, fundamental e médio pobre de leitura, escrita e condições de trabalho de professores e dificuldade de apendizado de alunos e resultado da POLITICA mesquinha que o BRASIL apresenta para o setor de educação desde o século passado, onde nosso governantes:senadores,deputados,prefeitos na maioria corruptos e ligados a grupos capitalistas, nunca investirão em educação, nisso resulta a fuga de cerebros que estamos vendo não e de hoje no pais para o exterior, por isso que as vezes certos professores da UFAM acham que tivemnos um ensino médio na NA SORBONNE ou nos USA.