domingo, 11 de novembro de 2012


QUANDO TUDO PARECE PERDIDO... O QUE FAZER?

Esta angustia provoca dor e graves transtornos emocionais com eco na família, nas relações pessoais e no próprio trabalho.

Ademir Ramos (*)

É a porta que se fecha, os amigos indiferentes, a família ou namorada que esfria e pra completar, as dividas se multiplicam não tendo de onde tirar. Aí o caboco (a) fica amuado, sai de banda, achando que é o único, desdizendo da vida, das coisas e quem sabe achando que tudo está perdido e passa a tocar choro, só choro, isolando-se dos seus, buscando no vício o bálsamo para suas dores, necessidades e dividas.

Nesta hora ninguém chega perto, ninguém aparece para ouvir ou quem sabe remediar a dor deste animal ferido. Se ainda for jovem aposta na sua força de trabalho, mas se já tiver dobrando “o cabo da boa esperança” seja homem ou mulher, o quadro requer atenção, cuidado e, sobretudo, senso de realidade.

Ainda tem uns que se deixam seduzir pelo canto dos curandeiros eletrônicos, que prometem sanear não só as dívidas, como também sarar a dor de sua alma e resgatar o amor que fora perdido. E o ser ferido não tendo chão embarca nessa canoa, pagando pedágio, projetando para os céus os dissabores vividos, imputando ao sagrado os males sofridos.

Transtornado (a), fora de si é capaz de fazer qualquer coisa, atirando pra todos os lados. É nesse momento que se faz necessário um chega pra lá chamando a pessoa à racionalidade, fazendo pensar e quem sabe buscar uma saída plausível. Pois, como se sabe, não há problema sem solução, é preciso encarar os fatos e definir o tempo para remediar os problemas.

É o senso de realidade, pé no chão, definição de prioridades, prazos e datas a cumprir, é a ginástica exercida pela maioria dos trabalhadores que reclamam e lutam para garantir o mínimo, não só para si, mas para os seus. E esta angustia provoca dor e graves transtornos emocionais com eco na família, nas relações pessoais e no próprio trabalho.

Nessa circunstancia, somos vítimas de uma máquina que opera no trabalho, na escola, nas relações pessoais e por toda vida social. Alguns acreditam e às vezes até resolvem os problemas de forma individual, contudo, saibam que a solução definitiva requer decisões políticas seja por meio da indústria, comércio ou políticas públicas.

Para esse fim, não basta só vontade, é preciso aptidão e habilidade para participar da vida em sociedade e intervir nos processos de decisão, porque os problemas que vivemos também são compartilhados por muitos. E às vezes não sabem e nem se percebem porque estão bêbados do vício dominante marcado pelo individualismo ético das religiões e da mesmice, a se culpar do sol e da chuva que cai.

A ignorância custa caro para aqueles que arrogam resolver tudo no grito ou na força. Estes, por sua vez, tornam-se cegos, acreditando que somente do seu jeito é capaz de resolver os problemas que lhe aflijam. Negam o diálogo, o outro e passam a se considerar o “dono do mundo”. E não se trata somente de pessoas iletradas, saiba que tem muitos “doutores da lei ou professores doutores”, como costumam ser reverenciados no templo do saber, ignaros e analfabetos políticos, agindo como os fariseus, que não fazem e não deixam ninguém fazer para não ofuscar o brilho do seu cargo, seu prestígio e outras formas de mando.

Mas esses ignorantes ilustrados ou não fazem o povo sofrer porque travam decisões e conquistas sociais. Aí é preciso gritar, participar e gerar a crise para que eles acordem e se percebam parte do problema e como servidor do povo respondam com competência e qualidade as questões sociais orientadas pelo interesse público fundamentado na produção e distribuição de renda combatendo a extrema pobreza e, consequentemente, a desigualdade social estruturante. É o custo da cidadania.   

 (*) É professor, antropólogo, coordenador do Jaraqui e do NCPAM/UFAM. 

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