A
GREVE DAS GALINHAS
A
falta de ovos em algumas feiras de Manaus bem que poderia ser resultado da
greve das galinhas, que não tolerando mais tamanha exploração resolveram grevar,
provocando a ira dos patrões e dos tarados por ovos e seus derivados.
Ademir
Ramos (*)
No
reino animal a natureza é determinante, fazendo as pessoas curvarem-se frente à
necessidade imposta. Nesse cenário, a indústria faz de tudo para dominar e
controlar, multiplicando as funções que lhes são convenientes e lucrativas. A
falta de ovos em algumas feiras de Manaus bem que poderia ser resultado da
greve das galinhas, que não tolerando mais tamanha exploração resolveram grevar,
provocando a ira dos patrões, que sem piedade fazem de tudo para extrair das
penosas o máximo de ovos com o mínimo de ração, excluindo definitivamente o
galo da cumplicidade geradora.
Insatisfeitas,
as galinhas resolveram fazer o maior barulho no galinheiro impondo condições
para continuarem com sua missão. Para isso, levantaram bandeiras que ecoaram na
Assembleia dos Bichos, marcando posição contra os desmandos sofridos nos
viveiros, na perspectiva de se imporem não só como galinhas, mas, sobretudo, enquanto
matrizes de uma cadeia produtiva alimentar geradora de trabalho, emprego e
renda.
Foi
assim que se começou a pensar na Revolução dos Bichos, considerando que esses
animais também são depositários da vida e quando pensado em relação às pessoas
ganham significados múltiplos capazes de suscitar sentimento de ternura e respeito
por estarem agregados a um determinado núcleo parental. Este fato é tão verdadeiro,
que alguns núcleos humanos recusam a matar os animais que fazem parte do seu
circulo de relações afetivas.
Bem
diferente da indústria dos víveres, que reduzem a vida das penosas e de outros
animais em grandes negócios comerciais. No entanto, já está lavrado nas
tratativas internacionais que os animais devam ter seus estatutos respeitados
com clara definição de suas condições sanitárias, sem maltrato e outros males
que venham estressar não só a penosa como os demais bichos que estão na cadeia
alimentar da sociedade.
A
greve das galinhas se assim fosse, bem que poderia ensinar aos homens a se
comportarem, não só como animais que são, mas como protagonista de novos valores
calçados na racionalidade do consumo, combatendo o desperdício e quem sabe
buscando novos hábitos alimentares regrados por um processo civilizatório
distributivo capaz de comungar com os seus não só os ovos reclamados, mas os
alimentos que faltam nas mesas de milhares de pessoas tanto no Brasil como por todo
o mundo, onde a fome, a miséria social é a razão da riqueza de uns poucos.
(*)
É professor, antropólogo, coordenador do projeto jaraqui e do NCPAM/UFAM.
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