ALLEGRO NATALINO
Ademir Ramos (*)
Recorro à música para expressar a minha alegria neste natal. O andamento
musical bate no ritmo de nossos corações, comungando sonhos e projetos, na
perspectiva de agregar força contra a corrupção, impunidade e a desigualdade
social. Ainda mais, que a esperança seja semeada e brote na pátria brasileira
em formato de movimento solidário, justo e sustentável, despertando nos filhos
desta terra, o sentimento de pertença e que acreditem, sobretudo, na força de
sua vontade capaz de promover mudanças nas estruturas sociais e políticas em
favor do bem e da justiça social.
A liturgia do Natal soma-se com a expectativa do Ano Novo e a irreverência
do Carnaval, onde as pessoas brincam de rei e rainha, de deuses, sem perder de
vista, a certeza que são mortais e por isso reclamam de seus governantes e dos
agentes públicas acesso às políticas públicas de qualidade que satisfaçam as
necessidades básicas de nossa população tanto nas cidades como nos campos. A alegria
natalina se expressa em múltiplas linguagens e gestos regidos pelo amor, em
forma das relações fraternas cultivando a amizade, respeito e a confiança no
outro pactuado pelas relações afins mediado pelos debates, discussões,
encontros e diálogos que focam luzes para compreensão dos fatos, fazendo-nos
crer que estamos aptos a participar desse mutirão da cidadania em defesa da felicidade
como direito garantido a todos (as).
É Natal, momento de profunda reflexão em torno do nascimento do
Deus-menino, “aquele que se fez homem para redimir os pecados do mundo.”
Palavra de ordem que faz a pessoa acordar para a justiça, para salvação, nada
mais do que a garantia do trabalho, terra e pão para todos, vivendo assim do “suor
do seu trabalho” na dignidade e decência capaz de alimentar os seus e, de forma
gratuita, partilhar o pão e os sonhos na eucaristia da esperança regada pelas
lutas sociais como evento capaz de mobilizar, agregar e transformar o mundo em
equilíbrio com as demais criaturas que constituem o meio ambiente.
A “redenção do mundo” faz-se pela sustentabilidade de suas comunidades
se assim quiser viver na justiça e na paz. A ganância, a miséria e a mentira,
embrutecem a todos reduzindo as pessoas em coisas. O reparo da justiça dá-se
pela inteligência da recomposição da ordem tal como a unidade de uma sinfônica,
que por natureza reuni variados instrumentos, mas sob-regência se faz uníssona tocando
nos corações e mentes em direção à luz que lumia novos caminhos para realização
dos nossos sonhos e projetos com sede de justiça e sabor de muito esperança.
Este ágape fraterno vivenciamos quando compartilhamos com os
professores, estudantes e pais de alunos, o calor das lutas pela melhoria de
nossa educação. Da mesma forma, compartilhamos com a Comuna Jaraqui, movimento
de rua, que fazemos todos os sábados na República Livre do Pina, no Centro
Histórico de Manaus, na Praça Helidoro Balbi. A Comuna é uma tribuna livre,
onde o cidadão participa expondo problemas, debatendo e encaminhando questões
sociais fazendo valer os interesses coletivos, contrapondo-se a corrupção, a
impunidade e a injustiça. Pelo momento, a Comuna Jaraqui encerrou os seus trabalhos
no sábado (22), devendo voltar no próximo ano com a mesma determinação e
coragem.
Allegro, alegríssimo, saúdo a todos (as) amigos e colaboradores que
fortalecem a nossa luta pela justiça na academia, nas fronteiras do movimento
social e ambiental, nas tribunas populares, nas mídias presentes e virtuais,
botando a boca no trombone contra os malfeitores e oportunistas que pretendem
se apropriar dos direitos dos cidadãos em benefício próprio. Natal é luz a
clarear caminhos para novas conquistas. Por isso, desejo a todos (as) Feliz
Natal e um Próspero Ano com pão, terra e trabalho.
(*) É
professor, antropólogo, coordenador do Jaraqui e do NCPAM/UFAM.
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