INDIGNAÇÃO E ESPERANÇA
No Brasil, o enfrentamento
vindo das ruas fez acordar os poderes – executivo, legislativo e judiciário –
com ênfase nos valores éticos republicanos, fincando posição contra a
corrupção, a impunidade e a imoralidade corrosiva a contaminar as instituições
democráticas, em particular, os partidos políticos.
Ademir Ramos (*)
A química dos movimentos populares exige dos seus intérpretes capacidade
de compreender não só a sua forma, mas, sobretudo, a racionalidade que opera a
força em direção ao centro das disputas dos interesses em questão. Os elementos
em formação quando em movimento são capazes de alterar o sistema, provocando
mudanças em toda cadeia produtiva, em particular, nas estruturas orgânicas
diretivas em atenção à totalidade do corpo como agente capaz de pulsar vida,
indignação e esperança numa determinada conjuntura política nacional. Esta química
converte-se em relação criando redes de participação a se mover numa
perspectiva coletiva rumo às praças e ruas, ganhando dimensão social e
adquirindo resistência no enfrentamento com os poderes instituídos. Esse corpo
em combate ganha configuração variada posicionando-se estrategicamente de
acordo com a Forma de Governo constitucional.
No Brasil, o enfrentamento
vindo das ruas fez acordar os poderes – executivo, legislativo e judiciário –
com ênfase nos valores éticos republicanos, fincando posição contra a
corrupção, a impunidade e a imoralidade corrosiva a contaminar as instituições
democráticas, em particular, os partidos políticos. O grito uníssono das ruas
bateu forte em Brasília deixando a Presidência da República fora do chão, com
discurso desconexo, com claro sintoma de transtorno político assentado na
mesmice burocrática sem perspectiva de se reinventar frente às demandas populares.
Mais estonteante ainda foi à postura dos partidos de oposição que sem proposta
estruturante reduziram o fenômeno das ruas numa questão eleitoral, perdendo,
dessa feita, uma grande oportunidade de revitalizar suas forças com o calor das
ruas, mostrando o quanto estão despreparados também para dialogar com os
movimentos sociais e demais atores, destacando a política não mais como
mercadoria, mas, como instrumento de afirmação da plena cidadania.
O fato é que alguns políticos
profissionais aliados com alguns representantes das classes dirigentes tanto do
planalto como das ribeiras e planícies apostam no definhamento dos movimentos
de rua, apostando que tudo não passou de “fogo de palha” , não alterando o
curso da história. Significa dizer que a roubalheira vai continuar e assim
sendo a corrupção e a impunidade triunfará contra a grita geral do povo nas
ruas por justiça. No entanto, resta-nos transformar nossa indignação em
possibilidade de mudança, participando das frentes sociais que sonham com um
outro Brasil estruturado sob o Regime Parlamentarista em respeito à soberania
assentada nos movimentos populares valendo-se das mídias sociais como
instrumento de controle das principais reformas política e tributária,
repensando o processo federativo e o reordenamento dos entes federados
combatendo desigualdade regional e social.
O enfrentamento nesse campo é
político e suprapartidário. Contudo, temos pela frente um processo eleitoral a
ser considerado. E tudo indica que as regras não deverão mudar a contento,
exigindo dos eleitores e, principalmente, dos ativistas sociais uma seleção
criteriosa dos candidatos a serem escolhidos nas urnas. Para esse fim, é
necessário combater as coligações partidárias, criminalizar os partidos
políticos e exigir o cumprimento da Lei da ficha limpa. Enfim, esse é o bom
combate que qualquer cidadão (ã) de bem deve participar em garantia do presente
e do futuro do Brasil.
(*) É professor, antropólogo,
coordenador do Jaraqui e do NCPAM/UFAM.
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