FOGO
NO PALHEIRO
Segundo os agentes
comunitários com quem conversamos o voto do Ministro Celso de Mello foi o fogo
no palheiro para incendiar as consciências populares e quem sabe represente
também o início da construção de um novo projeto político comunitário.
Ademir
Ramos (*)
A
decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em favor dos embargos infringentes,
procrastinando a prisão dos mensaleiros, tem servido de instrumento para
problematizar o judiciário, a começar pelo acesso a Justiça e pelas garantias
dos Direitos Constitucionais. A tematização da prática da Justiça começa a
fazer parte dos conteúdos de formação dos educadores e lideranças populares na
busca de se promover profunda reflexão sobre a conquista da Justiça para
afirmação da plena cidadania e do desenvolvimento da pessoa como sujeito de
Direito. Segundo os agentes comunitários com quem conversamos o voto do
Ministro Celso de Mello foi o fogo no palheiro para incendiar as consciências
populares e quem sabe represente também o início da construção de um novo projeto
político comunitário centrado na organização, no domínio de novas tecnologias
da informação, na prática pedagógica, em cumprimento as determinações da epistemologia
do saber popular.
Os formuladores dessa
proposta pedagógica recorrem aos ensinamentos de Paulo Freire quanto à leitura
do mundo baseado na compreensão de uma conjuntura política, econômica e social
visando a analise das desigualdades sociais, da distribuição de renda, da
origem da riqueza e da exclusão social. A discussão coletiva repousa na
tematização dos eixos referenciados na experimentação de cada um, na luta pela
garantia de seus Direitos: moradia, escola, saúde, segurança, cultura,
trabalho, justiça, entre outros.
Nesse ambiente de
aprendizagem, a indignação tem sido uma das forças que move os participantes a
se reunirem e se identificarem formando uma corrente solidária capaz de
provocar um sentimento de pertença enquanto parte de um todo inserido num
processo social a lutar por Justiça Distributiva contrariando o domínio dos
poderosos. No desenvolvimento dessas competências e habilidades é importante
suscitar não só o sentimento de pertença, mas o compromisso social e
responsável de cada um para com todos e todas. E assim inaugura-se um amplo
debate pela prática moral coletiva fundamentada na reciprocidade, na
alteridade, no interesse coletivo e na força do Direito primando pela realização
da Justiça e na valorização das instituições democráticas.
O processo em discussão investe na educação como prática da liberdade, promotora da soberania popular, movendo
forças contra a corrupção, a impunidade e os mascarados do poder que juram cumprir
a Constituição, mas na hora de decidir e votar opta pelos interesses
particulares contribuindo muito mais para a acumulação do que para a
distribuição da riqueza, gerando dessa feita, a perversa desigualdade social na
cartografia regional e nacional.
O fogo no palheiro a se
manifestar nas lutas sociais resulta de um processo de aprendizagem que tem por
fim clarificar os caminhos e forjar os instrumentos de controle social combatendo
os males, os vícios e os danos morais, políticos e econômicos causados as
instituições democráticas. Os ministros passarão, os governantes e
parlamentares passarão, mas as instituições ficarão para justificar as
conquistas do seu povo no horizonte da constituição da Democracia Participativa
tendo por legado a correição dos costumes, a limpeza ética na política e o
raiar da Justiça como sol de uma nova manhã sem os mensaleiros e seus comparsas.
(*) É professor,
antropólogo, coordenador do Jaraqui e do NCPAM/UFAM.
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