sexta-feira, 6 de setembro de 2013

REVOLUÇÃO DA COLHER



A indignação foi tanta que os professores silenciaram-se e resolveram comer com as mãos protestando pelo desrespeito e assedio sofrido no processo de trabalho. A partir desta data o fato ficou conhecimento como  “Revolução da Colher”, motivando os professores e professoras a se manifestarem contra esta e outras formas de humilhação que os trabalhadores da educação sofrem.

Ademir Ramos (*)
Recentemente, os Trabalhadores da Educação participaram de um Movimento Nacional “Vem pra Luta” para acordar o Brasil em defesa da valorização da Escola e de seus profissionais, cobrando dos governantes e parlamentares a aprovação do novo Plano Nacional de Educação (PNE), que assegure 10% do PIB para a educação pública, como também o cumprimento do Piso Nacional e Carreira mais ainda, a hora-atividade, devendo representar no mínimo 1/3 da jornada de trabalho do professor.  No Amazonas, os professores também foram às ruas em direção a Assembleia Legislativa do Estado (ALE), onde realizaram no dia 30 de agosto (sexta-feira) às 13h, Audiência Pública no plenário Ruy Araújo para discutir e encaminhar questões referentes a combater o Assedio Moral nas Escolas e pela efetivação do novo Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração (PCCR), contemplando tanto a promoção horizontal como a vertical, auxílio alimentação, plano de saúde e transporte e melhores condições de trabalho com dignidade e respeito.

A manifestação dos professores provocou reação de guerra da Casa Militar da ALE, que mobilizou o canil da Polícia Militar (PM), mais 15 viaturas e 1 helicóptero do Agrupamento Aéreo da PM para recepcionar os educadores. Para os líderes do Movimento constatou-se o total despreparo desses profissionais no trato com os movimentos sociais. Visto que dias antes, os militares da casa apreenderam os cartazes dos estudantes que protestavam contra o deputado Ricardo Nicolau (PSD) acusado de superfaturamento em sua gestão à frente da Mesa Diretora da Casa.  O que os professores reivindicavam era o acesso ao Plenário da Casa para afirmação de seus direitos fundamentais e ao mesmo reafirmar sua pauta de negociação junto a SEDUC, em particular, no que diz respeito à discussão e aprovação do novo PCCR a requerer aprovação da ALE.

Vencido a intolerância, os trabalhadores da educação ocuparam o Plenário Ruy Araújo, sob a presidência do Deputado Luiz Castro (PPS), e com a participação do Deputado José Ricardo (PT) passaram a relatar as suas condições de trabalho e justificar a razão de sua em defesa de melhores de trabalho, salário e dignidade.

Dos vários pronunciamentos que foram proferidos na tribuna da Assembleia Legislativa do Estado é digno de nota o depoimento da professora Mara Marcellino, da Escola Aldeia do Conhecimento. Mara é professora de sociologia com 35 turmas, 45 alunos por sala, aproximadamente, concursada, em estágio probatório pela manhã e a tarde trabalha regida pelo processo seletivo. O controle é total. Ela, assim como outros colegas, passa o dia todo na Escola e para economizar o pouco que ganha leva sua própria alimentação para escola. Um desses dias esqueceu a colher e foi pedir para a escola liberar os talheres para o almoço foi quando recebeu um sonoro “não” acompanhado da seguinte explicação: ”as colheres é patrimônio da escola e se alguém surrupiar a direção da escola tem que responder frente à SEDUC”. Em outras palavras: os professores por serem mal pagos são os principais suspeitos pelos furtos ocorridos no ambiente escolar.

A indignação foi tanta que os professores silenciaram-se e resolveram comer com as mãos protestando pelo desrespeito e assedio sofrido no processo de trabalho. A partir desta data o fato ficou conhecimento como a “Revolução da Colher”, motivando os professores e professoras a se manifestarem contra esta e outras formas de humilhação que os trabalhadores da educação sofrem em seu lugar de trabalho, a perversidade é tanta que mesmo o professor (a) morando nas proximidades da Escola é obrigado a compartilhar sua carga horária, em outro estabelecimento sem nenhuma consideração quanto à mobilidade e a racionalidade no processo de trabalho.

O Movimento pela Valorização da Escola Pública vem crescendo em todo o Brasil, particularmente, em Manaus posicionando-se contra o atrelamento do Sindicato e pela soberania do Poder Legislativo para decidir em favor da Escola Pública e dos interesses populares. Os trabalhadores (as) da educação querem diálogo, transparência e respeito para com a Escola, valorizando seus profissionais e exigindo novos investimentos que resultem na qualidade da educação tanto na capital como também do interior do estado.  

(*) É professor, antropólogo e coordenador do projeto Jaraqui e do NCPAM/UFAM.                     

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