A
CASA DO TRABALHADOR DO AMAZONAS (CTA)
Nesta data, 24 de outubro, que se convencionou celebrar o aniversário de Manaus, reproduzo o texto do Rochinha, filho de uma boa cepa, que muito tem contribuído para vida cultural e política de nossa cidade. O texto é leve e cheio de lembrança das lutas dos trabalhadores do Amazonas cravada na história e por hora presente na Casa do Trabalhador, como monumento da cultura política de nosso Estado. No passado é acusada de ser o berço do populista, contudo, neste espaço de grandes disputas registra-se também a fundação do Sindicato dos Professores do Amazonas, da Associação dos Professores do Estado, a luta dos Movimentos Sociais, em destaque a defesa do nosso Encontro da Águas, que no dia 04 de novembro completa 03 anos de seu Tombamento como Patrimônio Cultura e Paisagístico do Estado. E no presente tem sido uma das frentes do Projeto Jaraqui, comuna de resistência, que tem servido ao povo do Amazonas como Tribuna Popular a reclamar Direitos Sociais e a suscitar a participar das comunidades no zelo e controle da Coisa Pública.
Quem passa pela
Rua Marcílio Dias, no centro histórico de Manaus, em direção ao
antigo Hotel Amazonas, depara-se com o prédio de numero 256 e, ver uma placa
com o nome “CASA DO TRABALHADOR” - muitas pessoas não sabem, mas, aquele lugar
foi palco de luta pela consolidação da classe operária do Estado do Amazonas.
A CTA possui como lema
“PAZ, TRABALHO, PÃO E LIBERDADE” – fazendo jus aos trabalhos desenvolvidos
pelos nossos antepassados irmãos amazonenses, na luta pela libertação do
trabalho escravo, ocorrida em nosso Estado em 10 de Julho de 1884 e, pela
revolta da classe operária, em 1930, onde surgiram os primeiros movimentos
reivindicatórios, com os esboços da sindicalização e organização das
“Associações Profissionais”.
Naquele ano de revolta, os
primeiros sindicatos foram reconhecidos pelo Ministério do Trabalho, Indústria
e Comércio, embora recebidos com má vontade pela classe patronal. Em 1943, o
Delegado Regional do Ministério do Trabalho, ativou a campanha sindical e,
removeu os obstáculos que se opunham a boa marcha do movimento sindicalista.
Nessa altura, o Sindicato
dos Trabalhadores nas Indústrias Gráficas do Amazonas, fizeram uma reunião em
sua sede, situada a Avenida Sete de Setembro (em frente ao Palácio Rio Negro),
onde foi lançada a ideia da fundação da “CASA DO TRABALHADOR DO
AMAZONAS”, onde se reunissem todas as classes proletárias, para uma melhor
compreensão entre eles e, para uma maior força nas conquistas de suas
reivindicações.
O então Interventor Álvaro
Botelho Maia, reconheceu os anseios da classe trabalhadora de sua terra, veio
em auxílio destes, concedendo-lhes a título precário (não definitivo, com
direito a reavê-lo, sem indenização), através do Decreto-Lei no. 1.251, de 24
de Junho de 1944 o “palacete” onde fora a sede da “União Sportiva Portugueza”.
No portão de ferro, na
entrada principal desse prédio, consta o ano de 1885, com as iniciais “J A F”,
deve ter sido a residência de algum barão da borracha – lá existe uma placa de
mármore, onde consta o seguinte: “1953 – 1954 – Escola de Alfabetização
de Adultos Des. Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro – homenagem da Casa do
Trabalhador” – este senhor é o saudoso avô do diplomata Arthur
Virgílio Neto e atual Prefeito de Manaus.
Depois de quatro anos de
muitas lutas, a CTA foi instalada através do Decreto Legislativo no. 406, de 26
de Julho de 1949, sancionado pelo Governador do Estado, o Dr. Leopoldo Amorim
da Silva Neves.
Foram feitas obras de
ampliação, aumentando o edifício com dois corpos laterais, triplicando a sua
capacidade, dando mais liberdade e autonomia as reuniões dos diversos
sindicatos ali sediados.
Inicialmente, funcionaram
ali os seguintes sindicatos e associação de classes: Sindicatos dos
Trabalhadores nas Indústrias Gráficas de Manaus; de Serviços Portuários; de
Carris Urbano; dos Estivadores; nas Indústrias de Artefatos de Borracha de
Manaus; de Calçados; Metalúrgicas, Mecânicas e Material Elétrico; Oficiais
Marceneiros - Associação Profissional dos Odontologistas; Sociedade Amazonense
de Gazeteiros; Sociedade Beneficente dos Magarefes e Talhadores de Manaus –
ficavam alojados em três amplos salões: “Presidente Vargas”, “Presidente Dutra”
e “Cinco de Setembro”.
O meu saúdo pai, o luthier José
Rocha Martins, foi um membro atuante do Sindicato dos Trabalhadores Oficiais
Marceneiros do Amazonas – ouvi por parte dele muitas histórias das lutas
trabalhistas daquela época.
No prédio foi construído
também um pavilhão com dois andares, sendo na parte de cima servida como
moradia do zelador do prédio e na parte debaixo, funcionavam os estúdios dos
serviços de alto falantes “A Voz do Trabalhador”.
A “CASA DO TRABALHADOR”
contava com programas de assistência social, dentária, médica (com ambulatórios
e farmácia) e jurídicas - além de assistência cultural e sócio-recreativa aos
associados e trabalhadores em geral.
Em 1950, foram agraciados
pelos relevantes serviços prestados ao engrandecimento da C.A.T. as seguintes
pessoas:
EDMUNDO FERNANDES LEVY –
Delegado Regional do Ministério do Trabalho, amigo incondicional do trabalhador
do Amazonas;
JAMACY BENTES DE SOUZA –
gráfico competentíssimo, presidente do Sindicato de sua classe, foi o
idealizador da criação da CASA DO TRABALHADOR DO AMAZONAS, tornou-se um dos
maiores líderes trabalhistas do Amazonas e, foi por diversas vezes escolhido
para representar o Estado do Amazonas e seus colegas trabalhadores em Conclaves
trabalhistas na Capital da República (Rio de Janeiro);
SERAFIM AUGUSTO DE ANDRADE
- Secretário da C.A.T. e Presidente do Sindicato dos Taifeiros,
Culinários e Panificadores em Transportes Fluviais do Amazonas – um homem
dedicado ao trabalho, calejado nas árduas lides de bordo, conhecedor da
“hinterland” amazônico;
FRANCISCO CAETANO DE
ANDRADE – um homem considerado probo e honesto, ao qual foram entreves os
haveres da CAT, na qualidade de Tesoureiro – trabalhador da empresa J. G.
Araújo.
Segundos os jornais da
época “Esse quatro homens, verdadeiros idealistas que forma um todo
harmonioso, são as maiores figuras do desenvolvimento trabalhista no Amazonas,
cujos nomes jamais serão olvidados pelo proletariado amazonense e pelos seus
descendentes”.
No ano passado, passei por
lá para dois encontros:
Tive a imensa satisfação
em contribuir com os meus serviços para o Sindicato dos Trabalhadores Rurais do
Careiro da Várzea, Manaus e Iranduba, no comando da Presidente Maria Lucinete
Nicácio, uma senhora que trabalha a terra e, que possui voz ativa, respeitada
até em Brasília. Contribui com a elaboração e alteração dos Estatutos e
regularização juntos as repartições públicas das Associações ACNA e ARCA,
presididas, respectivamente, pelo Perivaldo e Dona Rita Belém, das comunidades
do “Pau Rosa” da Estrada BR-174.
Participei também de uma
“Feijoada”, com os meus amigos Ademir Ramos e Paulo Onofre, coordenadores do
“Projeto Jaraqui” (um movimento popular, realizado todos os sábados na Rotunda,
da Praça da Polícia, que tem como bandeira a “Limpeza Ética na Política”),
resolveram fazer uma feijoada, com a finalidade de arrecadar fundos para cobrir
as despesas com o referido projeto.
Foi tudo do bom e do
melhor, pois a feijoada estava supimpa, sendo elogiada por todos os
participantes, além da música da melhor qualidade do Lúcio Bahia & Amigos
(Sacy da Pareca, Sandro e Giba) – todos estavam alegres e descontraídos, com
muitas pessoas se reencontrando e, lembrando-se dos velhos tempos da ditadura,
onde se reuniam naquele casarão antigo, para lutar contra aquele regime
autoritário.
Teve a presença do Amercy
Bentes de Souza, filho do Jamacy Bentes de Souza, o idealizador da C.A.T, além
do senhor José Ferreira Lima, um trabalhador que fez história naquele lugar,
pois foram cinquenta anos trabalhando na CTA, sendo presidente por diversas
vezes, chegando até a se aposentar na condição de Juiz Classista – o seu nome
aparece numa placa de metal, datada de 1987 (o ano da reconstrução daquela
sede), ele mora, atualmente, em Porto Velho e, veio a Manaus, somente para
colaborar com as novas eleições que aconteceram em agosto do ano passado.
Ouvimos atentamente os
discursos descontraídos do Ademir Ramos (antropólogo e coordenador do Núcleo de
Cultura Política do Amazonas), Luiz Castro (Deputado Estadual pelo PPS) e do
Abel Alves (presidente do PSOL em Tefé).
O que mais me chamou a
atenção foi o estado em que se encontra aquele casarão histórico - está
abandonado pelo poder público, apesar dele fazer parte da história de luta da
nossa classe trabalhadora, além de servir, atualmente, como abrigo para dezenas
de sindicatos, federações, comissões e associações dos trabalhadores do nosso
querido Estado do Amazonas.
Esse artigo é dedicado aos
bravos companheiros que lutaram para a construção e implantação da CASA DO
TRABALHADOR DO AMAZONAS, bem como, que sirva de alguma forma pela revitalização
daquele prédio tão importante para a nossa cidade. É isso ai.
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