UM TEMPO PARA OS PASSARINHOS
Ellza
Souza (*)
No dia do aniversário de Manaus quero falar de passarinho, de ribeirinho,
de cuidado, de flores, de água e de amor. Quero falar de sons que vêm da mata,
quero falar de música e de poesia. Nesse dia quero falar apenas de esperança e
de artistas como Celdo Braga, Roberto Lima, Rosivaldo Cordeiro, João Paulo e
Sofia Amoedo. Quero falar do grupo Imbaúba e de sua total entrega quando se
apresentam ao público como fizeram no último show no Teatro Amazonas no final
de setembro.
Faz muito bem pra alma ouvir o Grupo Imbaúba que
nos embala com poemas que nos levam a refletir sobre a natureza e o homem como
“a água do jeito simples de ser só quer ser limpa para a cidade beber”. Nessa
simplicidade está a essência de nossa existência e que fazemos questão de não
entender quando poluímos os rios e decepamos as árvores para construir prédios.
Durante o espetáculo, O Poeta Celdo Braga e o
Passarinho, o público ficou em silêncio, captando talvez que “ainda há tempo de
salvar os igarapés” numa bela canção de Celdo e sua flauta. Esse trabalho de
resgate dos sons da floresta, do ribeirinho batendo com seu remo na água do
rio, do vento silvando nas folhas, do barulho que fazem os minúsculos
habitantes da mata e que foi cantado lindamente pelo Roberto Lima em “casas de
beiradão” onde “corre a vida dessa gente” em meio a “flores perfumadas mesmo em
lata enferrujada”. Sofia Amoedo, para mim a mais bela voz feminina do pedaço
encantou com “somos parte da terra, a terra é parte de nós; quando eu cuido do
que é meu estou cuidando de mim; se nós cuidamos da terra a terra cuida de
nós”. Na simplicidade das palavras e na grandeza de sua voz, Sofia encanta com
“passarinho triste” que precisa “ser livre para cantar”. “Deixa o bichinho
viver”, diz a canção. O Roberto Lima transmite a mensagem de amor com “pérola
azulada”, vamos “respeitar a vida”, “pérola azulada, conta do colar de
Deus”. Mais lindo impossível.
Depois de tanta poesia ficou a força da esperança.
E é com essa esperança que penso em Manaus desejando que nunca mais maus
políticos pensem em aterrar igarapés, em fazer porto no incrível lugar onde
dois grandes rios se encontram mas não se misturam. Nunca mais deixem o centro
da cidade entregue ao lixo, ao descaso, aos camelôs. Nunca mais coloquem rede
nas palmeiras para evitar os passarinhos. Manaus precisa de um banho de
revitalização, de cuidado, de imaginação. Como diz a música dos nossos artistas
do Imbaúba “eu amo você terra minha amada”.
Dias melhores virão.
(*) É escritora, jornalista e
articulista do NCPAM/UFAM.
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