terça-feira, 22 de outubro de 2013

UM TEMPO PARA OS PASSARINHOS

Ellza Souza (*)

No dia do aniversário de Manaus quero falar de passarinho, de ribeirinho, de cuidado, de flores, de água e de amor. Quero falar de sons que vêm da mata, quero falar de música e de poesia. Nesse dia quero falar apenas de esperança e de artistas como Celdo Braga, Roberto Lima, Rosivaldo Cordeiro, João Paulo e Sofia Amoedo. Quero falar do grupo Imbaúba e de sua total entrega quando se apresentam ao público como fizeram no último show no Teatro Amazonas no final de setembro.

Faz muito bem pra alma ouvir o Grupo Imbaúba que nos embala com poemas que nos levam a refletir sobre a natureza e o homem como “a água do jeito simples de ser só quer ser limpa para a cidade beber”. Nessa simplicidade está a essência de nossa existência e que fazemos questão de não entender quando poluímos os rios e decepamos as árvores para construir prédios.

Durante o espetáculo, O Poeta Celdo Braga e o Passarinho, o público ficou em silêncio, captando talvez que “ainda há tempo de salvar os igarapés” numa bela canção de Celdo e sua flauta. Esse trabalho de resgate dos sons da floresta, do ribeirinho batendo com seu remo na água do rio, do vento silvando nas folhas, do barulho que fazem os minúsculos habitantes da mata e que foi cantado lindamente pelo Roberto Lima em “casas de beiradão” onde “corre a vida dessa gente” em meio a “flores perfumadas mesmo em lata enferrujada”. Sofia Amoedo, para mim a mais bela voz feminina do pedaço encantou com “somos parte da terra, a terra é parte de nós; quando eu cuido do que é meu estou cuidando de mim; se nós cuidamos da terra a terra cuida de nós”. Na simplicidade das palavras e na grandeza de sua voz, Sofia encanta com “passarinho triste” que precisa “ser livre para cantar”. “Deixa o bichinho viver”, diz a canção. O Roberto Lima transmite a mensagem de amor com “pérola azulada”, vamos “respeitar a vida”,  “pérola azulada, conta do colar de Deus”. Mais lindo impossível.

Depois de tanta poesia ficou a força da esperança. E é com essa esperança que penso em Manaus desejando que nunca mais maus políticos pensem em aterrar igarapés, em fazer porto no incrível lugar onde dois grandes rios se encontram mas não se misturam. Nunca mais deixem o centro da cidade entregue ao lixo, ao descaso, aos camelôs. Nunca mais coloquem rede nas palmeiras para evitar os passarinhos. Manaus precisa de um banho de revitalização, de cuidado, de imaginação. Como diz a música dos nossos artistas do Imbaúba “eu amo você terra minha amada”.

Dias melhores virão.

(*) É escritora, jornalista e articulista do NCPAM/UFAM. 

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