"Creio ser muito difícil suscitar o entusiasmo de um povo democrático por uma teoria qualquer que não tenha relação visível, direta e imediata com a prática cotidiana da sua vida. Tal povo, portanto, não abandona facilmente suas antigas crenças. Porque é o entusiasmo que precipita o espírito humano fora dos caminhos traçados e que faz as grandes revoluções políticas". Aléxis de Tocqueville.
Ricardo Lima*
Esta magnífica passagem do autor de "A Democracia na América" é uma bela explicação do resultado da nossa ultima eleição municipal: um preocupante retrocesso até aos velhos e indesejáveis tempos da política feudal.
De fato, tarefa complexa e tediosa é entusiasmar o povo-massa com projetos de longo prazo, racionalidade administrativa, realismo na execução das obras ou equilíbrio das contas públicas. Muito mais fácil e cômodo, porém, é mandar às favas do esquecimento toda essa embromação de estratégia na administração pública — não importa se isso é aplicado com sucesso nas metrópoles mais ricas do mundo — e lançar mão daquele velho expediente de caudilho conservador, com projetos mirabolantes, idéias de cunho imediato e genérico, e o uso indiscriminado da emoção e do dramático na propaganda política (uma técnica muito usada pelos regimes fascistas da Itália e nazistas na Alemanha), em que o candidato do PTB encarna a salvação dos oprimidos pelo vilão da vez — leia-se Serafim Corrêa — e guiará o povo de volta àquela época em que se deliciavam com o sadismo de uma administração ao melhor estilo república velha.
Sadismo?
Pois bem, os eleitores do ilustre Amazonino Mendes, as gentes obscuras dos sítios mais a leste da cidade e adjacências, também devem sofrer daquela mesma propensão ao sadismo de que nos falara Gilberto Freyre, em seu magistral "Casa Grande e Senzala"; o sadismo em estar sempre sob os mandos de um governo autoritário e patrimonialista, pois é exatamente isso que representa o novo velho prefeito de Manaus...
Amazonino Mendes se encaixa perfeitamente no tipo ideal de líder demagogo, postulado pelo sociólogo alemão Max Weber. No qual se obedece e segue não por força de uma lei, mas simplesmente em virtude da fé irracional que nele se deposita.
O povo-massa não parece ter acordado para a urgência de nos livrarmos de certos espécimes políticos e suas práticas maléficas para o espírito público, e enterrar de vez o nefasto patrimonialismo..., apontado pelo jurista Raymundo Faoro como a arbitrariedade na outorga de cargos públicos, apadrinhamento político de agregados, a confusão entre público e privado, a relativização com que as leis são interpretadas em favor da manutenção do status do soberano, e o uso da posição política conquistada para extrapolar as funções públicas para perseguir adversários políticos...
Contudo, o que ocorrera em Manaus é muito análogo ao que sucedera em Salvador há alguns anos, quando um grupo político rival do falecido Antônio Carlos Magalhães conquistara a prefeitura. Não considerando a nova administração satisfatória o suficiente e ainda preso as suas antigas pré-noções, o povo faria a velha oligarquia voltar, fortalecida, ao poder na capital. Mas isso foi apenas um último triunfo do grupo de ACM, pois em breve perderiam novamente a capital, em seguida as prefeituras do interior, o governo e, agora, nesta eleição, ACM Neto nem conseguira chegar ao segundo turno.
Espero que o mesmo fenômeno esteja acontecendo em Manaus...
Amazonino não vai administrar quatro anos. Com as eleições para governo ele será o candidato de Eduardo Braga, que sairá para o senado, deixando nós, manauaras, a mercê daquele elemento de caráter duvidoso chamado Carlos Souza.
Para quê alguém iria votar num político que nem vai completar o seu mandato?
A máxima de Tocqueville, que serve de epígrafe, mesmo tendo sido escrita no século XIX, possui uma atualidade salutar que, acareando-a com os terríveis momentos atuais da nossa cidade, nos fazem refletir sobre ela...
Não são as idéias nem os projetos que nos entusiasmam. Mas sim o drama e os sentimentalismos típicos de uma novela das oito...
Esta magnífica passagem do autor de "A Democracia na América" é uma bela explicação do resultado da nossa ultima eleição municipal: um preocupante retrocesso até aos velhos e indesejáveis tempos da política feudal.
De fato, tarefa complexa e tediosa é entusiasmar o povo-massa com projetos de longo prazo, racionalidade administrativa, realismo na execução das obras ou equilíbrio das contas públicas. Muito mais fácil e cômodo, porém, é mandar às favas do esquecimento toda essa embromação de estratégia na administração pública — não importa se isso é aplicado com sucesso nas metrópoles mais ricas do mundo — e lançar mão daquele velho expediente de caudilho conservador, com projetos mirabolantes, idéias de cunho imediato e genérico, e o uso indiscriminado da emoção e do dramático na propaganda política (uma técnica muito usada pelos regimes fascistas da Itália e nazistas na Alemanha), em que o candidato do PTB encarna a salvação dos oprimidos pelo vilão da vez — leia-se Serafim Corrêa — e guiará o povo de volta àquela época em que se deliciavam com o sadismo de uma administração ao melhor estilo república velha.
Sadismo?
Pois bem, os eleitores do ilustre Amazonino Mendes, as gentes obscuras dos sítios mais a leste da cidade e adjacências, também devem sofrer daquela mesma propensão ao sadismo de que nos falara Gilberto Freyre, em seu magistral "Casa Grande e Senzala"; o sadismo em estar sempre sob os mandos de um governo autoritário e patrimonialista, pois é exatamente isso que representa o novo velho prefeito de Manaus...
Amazonino Mendes se encaixa perfeitamente no tipo ideal de líder demagogo, postulado pelo sociólogo alemão Max Weber. No qual se obedece e segue não por força de uma lei, mas simplesmente em virtude da fé irracional que nele se deposita.
O povo-massa não parece ter acordado para a urgência de nos livrarmos de certos espécimes políticos e suas práticas maléficas para o espírito público, e enterrar de vez o nefasto patrimonialismo..., apontado pelo jurista Raymundo Faoro como a arbitrariedade na outorga de cargos públicos, apadrinhamento político de agregados, a confusão entre público e privado, a relativização com que as leis são interpretadas em favor da manutenção do status do soberano, e o uso da posição política conquistada para extrapolar as funções públicas para perseguir adversários políticos...
Contudo, o que ocorrera em Manaus é muito análogo ao que sucedera em Salvador há alguns anos, quando um grupo político rival do falecido Antônio Carlos Magalhães conquistara a prefeitura. Não considerando a nova administração satisfatória o suficiente e ainda preso as suas antigas pré-noções, o povo faria a velha oligarquia voltar, fortalecida, ao poder na capital. Mas isso foi apenas um último triunfo do grupo de ACM, pois em breve perderiam novamente a capital, em seguida as prefeituras do interior, o governo e, agora, nesta eleição, ACM Neto nem conseguira chegar ao segundo turno.
Espero que o mesmo fenômeno esteja acontecendo em Manaus...
Amazonino não vai administrar quatro anos. Com as eleições para governo ele será o candidato de Eduardo Braga, que sairá para o senado, deixando nós, manauaras, a mercê daquele elemento de caráter duvidoso chamado Carlos Souza.
Para quê alguém iria votar num político que nem vai completar o seu mandato?
A máxima de Tocqueville, que serve de epígrafe, mesmo tendo sido escrita no século XIX, possui uma atualidade salutar que, acareando-a com os terríveis momentos atuais da nossa cidade, nos fazem refletir sobre ela...
Não são as idéias nem os projetos que nos entusiasmam. Mas sim o drama e os sentimentalismos típicos de uma novela das oito...
* Pesquisador do NCPAM e Discente de Ciências Sociais da Ufam.
14 comentários:
O impensável aconteceu... parafraseando o titulo do artigo do sociologo Boaventura sobre a crise do capitalismo. Concordo com o Ricardo quando cita Aléxis de Tocqueville ao sentimentalismo retrógrado que move o povo ao Impensável retorno à Idade das Trevas;uma neblima cobre esta cidade, o calabouço abriu-se de vez, estão às soltas Sanguessugas, Vampiros e Dráculas, Lobisomens, Orcs, fantasmas, bruxas, hobbwoods telemáticos, demônios, juruparis, reis e bobos. É preciso construir a tenda da inquisição, é necessário queimar esses espectros, esses monstros que atrasam as revoluções políticas necessárias pra este gente. Queima, Jesus!
+ Fica o meu respeito aos 371.845 mortos. +
Espero que minha cidade e meu estado não caia no descaso em relação a politica, pois devemos sim arregaçar as mangas, fiscalizar e gritar para que voltemos a ter u politico que leve a administração publica seriamente sem a mistura do publico com o privadopara beneficio proprio.
Cabe aqui colocar que não me considero um esquerdista, mas meu voto sempre foi deles, Vanessa, Eron, praciano e até o agora esuqerdista baba ovo do governador Sinesio Campos, se arrependimento matasse estaria aqui a me enforcar com os rumos que estes cidadãos acimna citados tomaram, mas lembrarei deles eu e minha familia que nunca confiaremos nossa confiança em politicos que se vendem por meia duzias de cargos e regalias....
Muito bom. Lavou minha alma.
Neste domingo… a maioria manauara que elegeu Amazonino mostrou que é composta de mortos de fome desesperados por um prato de comida…
Aliás, vou além:
Houveram somente 2 tipos de eleitores de AMAZONINO: Os que são ignorantes politicamente e os que terão algum benefício pessoal na vitória dele!!!!
E, de fato, cada um tem o político que merece…
Eu, eu, eu… Manaus se lascou…
Sinceramente??? Quero é mais que Manaus tome no c** bem tomado (pq é exatamente isso que vai acontecer)... eu vou ser o primeiro a soltar o "pega seus bando de burros mortos de fome..." por miserentos da zona leste que elegeram o Mazoca... (atenção... estou falando dos miserentos da zona leste... e não de toda a zona leste...)
Aliás... miserentos tem em Manaus toda...
Muito interessante os comentários que os estimados colegas estão fazendo sobre o pleito que encerrou-se no último domingo, em Manaus. Contudo, devo salientar que as inserções mais parecem desabafos apaixonados do que análises políticas, propriamente dita, pois, 'culpar' de forma direta ou indireta a zona leste da cidade pela vitória de Amazonino é, no mínimo, perder de vista, o global, a favor do pragmático. O próprio autor, ao enfatizar esta questão em seu texto, perde o foco, a partir do momento em que insere a clássica metáfora-clichê 'voltamos à Idade Média', algo nada apropriado em um texto que busca desenvolver o interessante conceito do "povo massa", tomando como base a cultura o patrimonialismo e do autoritarismo. Contudo, mais uma vez o autor demonstra ter 'mão pesada'quando, vez ou outra, adjetiva seu texto com termos do tipo 'nefasto', 'caráter duvidoso' dentre outros, dando uma anacrônica impressão de que sua análise descamba para uma crítica raivosa, típica dos intelectuais anacrônicos a que estamos acostumados no cenário nacional. Porém, quando Ricardo parte para a análise da questão se apropriando de autores como Toqueville, Faoro e Gilberto Freire, o artigo sempre ganha com isso, pois a teoria equilibra-se e elimina quaisquer traços de euforias triviais. Quanto aos comentários, bom, o colega Fábio, quando diz "uma neblina cobre esta cidade,o calabouço abriu-se de vez, estão as soltas sanguessugas, vampiros..." confesso que achei a imagem interessante, mas contraproducente. Na verdade, o que e perdeu aqui foio fato de que Amazonino venceu em 99% das sessões de votação, e o curioso é que este percentual não corresponde somente à zona leste da cidade, mas de todas as zonas. Então, meus caros, a questao que proponho, humildemente, para reflexão é: Até que ponto os 57% de votos de Amazonino são, de fato, para ele ou são simplesmente rejeição à Serafim? Seja como for, não podemos mais encarar a questão a partir do pragmatismo, mas sim observar, minuciosamente, este novo filão de eleitores que está se formando, e procurarmos entender até que ponto ele já nasce 'velho' ou 'viciado'!
Este tal de Khemerson parece um intelectual tampão, mas demonstra que é do lado do negão, penso que sempre foi, usando os artifícos da racionalidade-Mor que só quem pode frequentar este espaço acadêmico e dar palpite é intelectual tampão que nem ele. Escorrega na própria racionalidade para afirma que 99% das urnas a negona ganhou, isso é desconsiderar os 42,87% dos eleitores espalhados que moram nesta cidade de Manaus... Que deram o seu voto contra o Mazoka, voto contra, de pessoas que existem, e que estão indignadas. O desabafo do Ricardo, é o meu desabafo e de todos os 371.845 eleitores que vc excluiu da sua matematica racionalista, que tende ao consevadorismo pelego e pedante. Oras os momentos que deprecia os comentários pra justificar seu racionalismo que faz alusão aos 99% das urnas e 57% dos votos validos ao Negão, ou seja, vc matou os 371.845 pessoas, a qual vc exclui da sua racionalidade-mor.
Quero parabenizar a iniciativa do blog, é muito bom, estarei a divulgar; a democracia neste espaço tende ser fortalecida, só não pode aparecer sujeitos de racionalidade-mor tentar intimidar outros, desconsiderando os outros, Isto é um processo normal do crescimento de um blog.
Anuncia Khemerson que vc é do lado do Amazonino! Precisa assumir...
Todo pseudo intelectual que fala bonito e defende Amazonino, ta com a boca na teta mas nunca vai assumir tal fato, existe alguns traços raivosos nos colegas que aqui escreveram sim, para mim uma raiva sincera e necessária de pessoas que nunca vão entender que pessoas como Amazonino volte ao poder é claro usando armas desonestas e a nossa imprestavel imprenssa Chapa branca, agora é claro intelectuais como o cidadão acima citado derrete-se todo ao primeiro chamado..."vem pra teta do negão"
Este é meu amigo khermeson. Sempre criticando os artigos dos outros mas nunca escrevendo nenhum...
Khemerson está corretíssimo e Ricardo erradíssimo. E o caro Claudio nada tem a dizer: só as truculências arbitrárias. Infelizmente, em se tratando de análises políticas, as pessoas ficam, de uma hora pra outra, apaixonadas, querem que seus candidatos vençam. E quando não vencem dizem que o povo é burro, analfabeto, ignorante e outras agressões sem fundamentos na realidade. Quando seus candidatos vencem, aí sim, o povo é sábio, esperto, e sabe escolher seus representantes. Isto é natural do ser humano, portanto muito compreensível. O problema é que dentro da academia as leituras devem ser mais cuidadosas quer no elogio quer na crítica. A crítica acadêmica não deve ter o conteúdo de um panfleto sindical, em defesa de seus interesses e os outros que se danem. A crítica deve contextualizar e avançar no plano analítico. Retratar a realidade tal como é, e não como deveria ser, quer nos agradem ou não. Esta é a lição de Maquiavel, Tocqueville, Faoro, Gilberto Freyre.... O caminho da ciência, assim como entrar no inferno, é muito difícil.
Caros colegas e críticos de política... Entendo a insatisfação da maioria dos posts com a reeleição do Prefeito Amazonino, mas para a construção da efetiva democracia e a supremacia da cidadania acredito que contribuir em conscientização da população com projetos nesse ambito ou mesmo de resgate da história política de Manaus, desde sua fundação até a passagem pela Ditadura Militar, e fazer uma análise crítica analítica da construção política dessas figuras que vemos hoje no cenário político, junto a comunidades que não tem acesso a esse tipo de informação; seria de todo muito mais produtivo academicamente falando, do que ficar degladiando com a opnião pública. Venceu, não podemos aparentemente fazer por hora algo substancial, mas podemos começar a trazer questionamentos e acompanhar de maneira democrática o desenrolar desse mandato como qualquer cidadão participante e consciente que somos! Nada é tão ruim que não possa ser transformado!
Um abraço.
"a mercê daquele elemento de caráter duvidoso chamado Carlos Souza". Na realidade não é só ele que tem caráter duvidoso, mas o que encabeça a chapa, além de vingativa, vão ver o que ele vai fazer durante esses dois anos...
Parabéns pelo artigo amigo.
Caro Ricardo, Fabio, etc etc o problema é que voces esqueceram de lembrar ao sarafa que ele deveria seguir outro caminho..infelizmente ele seguiu o mesmo caminho do mazoka...se segurou no simbolismo ...ética e transparencia não são simbolismos...logo a eleiçao de manaus foi uma troca de 6 por meia duzia.
o negão ´e o melhor prefeito-governador-senador e futuro presidente do Brasil. todos ainda vão ver o negão por cima e mandando no brasil todo, e juntos negão, o negão daqui e o negão do EUA (OBAMA) vão fazer um mundo melhor.
De feto é mesmo!
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