sábado, 25 de outubro de 2008

DOIS ETHOS DO FAZER POLÍTICA



Ricardo Lima*


A eleição finalmente caminha para o término. Cristalizada pelo último debate ocorrido ontem, dia 24, pela TV Amazonas, acabou sendo bem menos tenso, se comparado com o debate da eleição anterior entre Serafim Corrêa e Amazonino Mendes — repleto de ataques pesados.

A estruturação do programa foi, assim como o último ocorrido pela TV Acrítica, dia 28/09, fraco e, em muitos momentos, monótono; basicamente dois blocos de perguntas livres entre os candidatos e outro com inquisições, também entre os candidatos, mas desta vez definidas por sorteio, e um ultimo sobre considerações finais. Se a produção tivesse escolhido um bloco só com a participação de jornalistas e lideres de setores da sociedade civil, que poderiam fazer perguntas de tema livre aos candidatos, o debate com certeza não seria aquele marasmo que foi.

Destaque para a mediadora Daniela Assayag que, lançada outra vez numa tarefa que há quatro anos lhe foi demasiado espinhosa, soube, aliás, o que dessa vez não fora coisa lá muito difícil, conduzir toda a programação com austeridade.

Um dos momentos mais tensos, para dizer melhor, o único, foi quando Serafim insinuou que Carijó, o administrador tampão dos últimos meses de 2003, era apenas o prefeito de direito, enquanto que Amazonino era o prefeito de fato — o que não deixa de ser, de uma maneira ou de outra, verdade. A produção resolveu negar o pedido de resposta de Amazonino, obviamente lembrança da péssima experiência do debate para segundo turno da eleição passada, quando os mesmos prefeituráveis, com os nervos a flor da pele e o ego afetado, trocaram uma miríade de ofensas as suas pessoas e fizeram uma enxurrada de pedidos de resposta, prejudicando, em muito, o andamento do debate...

Talvez isso passe em branco para o eleitor desavisado, mas time que está ganhando não se mexe, o mesmo vale para esta e qualquer eleição. A performance de Amazonino, tanto dos programas televisivos quanto nos debates que comparecera, atacando com cada vez mais força Serafim Corrêa, denuncia uma tendência que não está sendo divulgada pela grande mídia: a crescente subida de Serafim nas pesquisas, como foi divulgado no Site http://eleicoes.uol.com.br/2008/manaus/ .

No exercício da política, como também nas Universidades e na iniciativa privada, trabalha-se sempre com projetos; estipula-se o problema, o objetivo e o método a ser seguido em sua implementação. Mas nada disso existe na propaganda de Amazonino, que prefere usar o apelo para o emocional, para o dramático, para o próprio carisma, encarnando em si, e apenas em si, a capacidade de resolver todos os problemas de Manaus, tendo apenas como alicerce a confiança inabalável do povo, que o levara para a vitória final... Amazonino se encaixa no tipo ideal do líder carismático, do qual nos fala o sociólogo alemão Max Weber. Ele não diz, por exemplo, com vai resolver todos os problemas de Manaus em noventa dias (Programa Manaus Urgente) nem como vai direcionar todo o seu esforço incansável na proteção da mulher, do trabalhador, do menor abandonado...

Um dos momentos mais emblemáticos dessa falta de densidade foram os dois segundos de constrangedor silêncio com que Amazonino respondeu a Serafim, quando este lhe inquirira sobre a verba e o número de carretas necessárias que levariam internet de graça para os estudantes da periferia. Após se recuperar inesperada pergunta, o candidato do PTB pôs-se a repetir o que sempre fora veiculado no seu programa eleitoral: generalidades.

Serafim Corrêa representa o político de perfil totalmente administrador. Durante os programas e no último debate apresentou propostas e projetos que, se não tinham a mesma magnitude das propostas adversárias, são, em contrapartida, bem mais possíveis de serem implementados.

Contudo, se o candidato do PSB possui um perfil completamente racional, um dos defeitos de Amazonino, pesa sobre ele a completa falta daquela qualidade tão cara aos políticos, que o concorrente do PTB sente-se muito a vontade para explorar: o carisma. Foi emblemático a maneira glacial como ele cumprimentou o recepcionista da maternidade Moura Tapajós, se fosse Amazonino, o teria abraçado, conversado e trocado algumas risadas com o balconista. Isso rende muitos votos...

O último debate foi um amálgama de toda a campanha eleitoral, resumindo, de maneira precisa, o ethos administrativo de cada um dos candidatos: o administrador e o líder carismático; aquele que se vota pela racionalidade dos projetos, ou este, que se vota por pura fé em seu esforço messiânico.

Qual desses você, (e)leitor amigo, prefere? Este que vos escreve já possui a sua preferência.



* Pesquisador do NCPAM e discente de Ciências Sociais da Ufam.

Um comentário:

Anônimo disse...

TOMA SERAFIM FULEIRO O NEGAO GANHOU EU JA SABIAAAA!