quinta-feira, 13 de novembro de 2008

OFICINA LITERÁRIA - ?


* Pedro Braga



Minha presença continuamente foi necessária em diversos lugares e tempos remotos nos quais habitaram seres pensantes. Sem mim, o homem nada poderia fazer ao longo de sua existência. Mesmo entre os primitivos, que compreendiam povos de escassa articulação lingüística e organização social, lá estava eu; não como aparento hoje, mas representado por uma figura diferente que exercia minha função de instruir, aconselhar.

Nem tanto imprescindível é dizer o quanto fui importante aos gregos. Também foi nesta civilização que demais utilizei minhas ferramentas e, com o meu trabalho, ajudei a consolidar considerável parte dos seus pensamentos, culturas, artes, filosofias.

É certo que nunca fui anônimo ou me trataram com indiferença, porque sempre fora figura importante para todas as sociedades; desde mais antigas às atuais. Tanto que comparemos. Vejamos; a energia elétrica hoje nos é importantíssima, pois, de certa maneira, vivemos à mercê dela. Mas sem ela o homem já viveu, e tinha vida das melhores, diga-se, muito requintada. E mesmo desprovidos desta tecnologia, eu estava lá. Computador e internet, hoje, torna-se árduo fazer algo sem eles. Entretanto vivíamos muito bem sem tais equipamentos, há algum tempo atrás. Esta tecnologia é muito nova, todavia, eu sou velho, muito velho! Embora compare e, em menor grau divirta, todos os especialistas de áreas diversas têm comigo algo similar; porque fazem parte da minha categoria. Todos fazem parte da minha categoria, pois sem nós, não seriamos nós!

Está difícil? Aí vai uma dica. Apresento-me sob características variadas. Posso ser gordo, magro, forte, negro, branco, índio ou asiático. Posso ser sorridente, triste, brincalhão e sério. Até deficiente, também, posso ser, haja vista que continuo sendo eu. Passo grande parte do dia sentado, escrevendo, planejando, lendo o que muitos me escrevem. Alguns de meus irmãos também lêem como eu, porém analisando o que os muitos sistematizam e calculam. Muitas das vezes sou pai, tio, irmão, amigo. Converso com você, dou-lhe conselhos e, quando cai, ajudo-o a levantar, mostrando o melhor caminho a seguir.

Todavia, ainda existem lugares onde me desprezam, zombam de mim, ferem-me. Amigos meus, certa vez, disseram-me que mataram um irmão meu por razões de escurecimento mental do agressor; outro falou que agrediram e ameaçaram “outros dos nossos irmãos mais novos” que moram num país chamado Brasil. Algumas vezes os que estão próximos a mim também são agredidos, mas logo tenho conhecimento do ocorrido.

É claro que em muitos outros lugares sou respeitado; dão-me presentes quando descobrem que sou eu. Um amigo, o Celso, visitou o Oriente. E me contou que lá todos devem curvar-se ante o imperador, porém, eu, tenho a honra de optar se me curvo ou não. De acordo com o que me dissera, o imperador só possui tal cargo porque antes teve que passar vários anos comigo, e de certo ainda passa momentos.

Acho que está bom. É hora de dizer quem sou. Mesmo assim, tenho certeza que você já sabe. Já sabe, né? não?! Tudo bem. Deixa de brincadeira. Afinal meu dever é mostrar, clarear a vida e mente dos homens.

Muito Embora faça isso, não sou quem expressará! Deixa que Mateus diga a vocês:
-Mateus?
-Presente, Professor!
Deixa-me voltar pra aula que já vai bater o sino.


* Pesquisador, Co-Editor do NCPAM e discente de História da Universidade Federal do Amazonas.

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