Ademir Ramos*
Não, não pode passar em branco. Na semana Nacional de Conscientização do Povo Negro, no dia de Zumbi, é importante, que a verdade histórica seja proclamada para despertar nos corações e mentes dos homens e mulheres, o quanto à dor, a discriminação, o preconceito, a exploração, a exclusão social estropiaram os homens, em regime de escravidão, reduzindo a condição de coisa para o desencanto da humanidade.
A história não é absoluta. Portanto, não se justifica em postulado único, estreito e ideológico. A interpretação resulta de pesquisas, observações, análises metodológicas e formas de saber diferenciado, que se manifestam em teorias da história amparadas nas ciências complementares.
O conceito de raça fundamentado nas teorias evolucionistas foi determinado pelos pensadores europeus a partir de critérios aparentes – estatura, cor da pele, a forma do crânio, tipo de cabelo, sistema piloso, coroas e sulcos dos molares, entre outros traços, que julgavam determinantes para classificação das raças humanas, com bem queria Carl Von Lineu, no século XVIII, um dos pioneiros da história natural.
No entanto, está comprovado cientificamente, afirma o antropólogo Claude Lévi-Strauss, em seus estudos sobre Raça e História, que: “quando procuramos caracterizar as raças biológicas mediante propriedades psicológicas particulares, afastamo-nos da verdade científica, quer as definamos de uma maneira positiva quer de uma maneira negativa”.
Para o respeitado antropólogo, não se deve esquecer também, que o francês José Arthur, o conde Gobineau, no século XIX, a quem se atribuiu à paternidade das teorias racistas, influenciando, inclusive, o governo Imperial do Brasil, classificou as grandes raças, nos primórdios da humanidade, em branca, amarela e negra. Estas, segundo as teses racistas e preconceituosas de Gobineau, não eram só desiguais em valor absoluto, mas também nas aptidões particulares físicas e psicológicas. Dessa feita, por muito tempo o racismo amparou e justificou o processo de colonização sustentado por trabalho escravo, propiciando a acumulação primitiva do capital, dominação dos povos conquistados e a formação do Estado Nacional.
No Brasil, recorreu-se aos estudos do saudoso professor Octavio Ianni, valendo-se do denso trabalho sobre a Escravidão e Racismo para demonstrar a configuração na América Latina e no Caribe das condições do modo de escravidão como processo de trabalho produtivo, formador da sociedade e das estruturas econômicas dominantes há sustentar a Casa Grande, o Engenho, o Barracão dos Seringais e o próprio Estado Brasileiro. Nessas circunstâncias históricas, o africano e os nativos são reduzidos em negro, mulato, crioulo mestiço, boçal, índio, bugre ou caboclo. Enfim, para o professor Ianni, na trama das relações sociais da dominação política e exploração econômica, em geral o negro e o índio são raças subalternas.
No entanto, na teia das culturas ficaram marcas indeléveis tanto para os brancos conquistadores quanto para os negros e índios escravizados. O fato é que os escravos com experiência de vida nos trópicos, facilitaram e muito a adaptação dos portugueses e outros nobres europeus, que vierem para implementar o projeto colonial. Desse modo, novos hábitos alimentares, valores lingüísticos, crenças religiosas, mitos, ritos, ritmos e comportamentos foram incorporados às novas práticas culturais, operando em todo tecido social da cultura em formação.
A humanidade, a bem da verdade histórica, não se desenvolve sob o regime linear e uniforme, mas através de modos diversificados de sociedades e de civilizações. Por isso, Lévi-Strauss tem sido incontestável em suas afirmativas quando, categoricamente afirma que: “existem muito mais culturas humanas do que raças humanas, pois que enquanto umas se contam por milhares, as outras se contam pelas unidades; duas culturas elaboradas por homens pertencentes a uma mesma raça podem diferir tanto ou mais que duas culturas provenientes de grupos racialmente afastados”.
Portanto, falar sobre a raça significa para humanidade inteira e, em particular, para nós brasileiros, filhos da escravidão, afirmação positiva das identidades culturais e reconhecimento do direito de alteridade – respeito entre as culturas e gênero diferenciados - formulada em políticas públicas promotoras da cidadania participativa nas estruturas democráticas de governo, bem como igualdade e oportunidade para todos.
Nessa perspectiva, ser civilizado é participar da coexistência de culturas, convivendo com a diversidade de valores e regras, em respeito à especificidade do modo de ser de cada povo, etnia, raça e culturas, expresso nas manifestações de solidariedade e na tolerância das relações sociais como valor universal e democrático. Ecoa pelo território nacional, o grito de Zumbi dos Palmares pela afirmação da Identidade e o reconhecimento da cidadania plena dos afro-brasileiros.
* Coordenador Geral do NCPAM, antropólogo e professor da Ufam.
A história não é absoluta. Portanto, não se justifica em postulado único, estreito e ideológico. A interpretação resulta de pesquisas, observações, análises metodológicas e formas de saber diferenciado, que se manifestam em teorias da história amparadas nas ciências complementares.
O conceito de raça fundamentado nas teorias evolucionistas foi determinado pelos pensadores europeus a partir de critérios aparentes – estatura, cor da pele, a forma do crânio, tipo de cabelo, sistema piloso, coroas e sulcos dos molares, entre outros traços, que julgavam determinantes para classificação das raças humanas, com bem queria Carl Von Lineu, no século XVIII, um dos pioneiros da história natural.
No entanto, está comprovado cientificamente, afirma o antropólogo Claude Lévi-Strauss, em seus estudos sobre Raça e História, que: “quando procuramos caracterizar as raças biológicas mediante propriedades psicológicas particulares, afastamo-nos da verdade científica, quer as definamos de uma maneira positiva quer de uma maneira negativa”.
Para o respeitado antropólogo, não se deve esquecer também, que o francês José Arthur, o conde Gobineau, no século XIX, a quem se atribuiu à paternidade das teorias racistas, influenciando, inclusive, o governo Imperial do Brasil, classificou as grandes raças, nos primórdios da humanidade, em branca, amarela e negra. Estas, segundo as teses racistas e preconceituosas de Gobineau, não eram só desiguais em valor absoluto, mas também nas aptidões particulares físicas e psicológicas. Dessa feita, por muito tempo o racismo amparou e justificou o processo de colonização sustentado por trabalho escravo, propiciando a acumulação primitiva do capital, dominação dos povos conquistados e a formação do Estado Nacional.
No Brasil, recorreu-se aos estudos do saudoso professor Octavio Ianni, valendo-se do denso trabalho sobre a Escravidão e Racismo para demonstrar a configuração na América Latina e no Caribe das condições do modo de escravidão como processo de trabalho produtivo, formador da sociedade e das estruturas econômicas dominantes há sustentar a Casa Grande, o Engenho, o Barracão dos Seringais e o próprio Estado Brasileiro. Nessas circunstâncias históricas, o africano e os nativos são reduzidos em negro, mulato, crioulo mestiço, boçal, índio, bugre ou caboclo. Enfim, para o professor Ianni, na trama das relações sociais da dominação política e exploração econômica, em geral o negro e o índio são raças subalternas.
No entanto, na teia das culturas ficaram marcas indeléveis tanto para os brancos conquistadores quanto para os negros e índios escravizados. O fato é que os escravos com experiência de vida nos trópicos, facilitaram e muito a adaptação dos portugueses e outros nobres europeus, que vierem para implementar o projeto colonial. Desse modo, novos hábitos alimentares, valores lingüísticos, crenças religiosas, mitos, ritos, ritmos e comportamentos foram incorporados às novas práticas culturais, operando em todo tecido social da cultura em formação.
A humanidade, a bem da verdade histórica, não se desenvolve sob o regime linear e uniforme, mas através de modos diversificados de sociedades e de civilizações. Por isso, Lévi-Strauss tem sido incontestável em suas afirmativas quando, categoricamente afirma que: “existem muito mais culturas humanas do que raças humanas, pois que enquanto umas se contam por milhares, as outras se contam pelas unidades; duas culturas elaboradas por homens pertencentes a uma mesma raça podem diferir tanto ou mais que duas culturas provenientes de grupos racialmente afastados”.
Portanto, falar sobre a raça significa para humanidade inteira e, em particular, para nós brasileiros, filhos da escravidão, afirmação positiva das identidades culturais e reconhecimento do direito de alteridade – respeito entre as culturas e gênero diferenciados - formulada em políticas públicas promotoras da cidadania participativa nas estruturas democráticas de governo, bem como igualdade e oportunidade para todos.
Nessa perspectiva, ser civilizado é participar da coexistência de culturas, convivendo com a diversidade de valores e regras, em respeito à especificidade do modo de ser de cada povo, etnia, raça e culturas, expresso nas manifestações de solidariedade e na tolerância das relações sociais como valor universal e democrático. Ecoa pelo território nacional, o grito de Zumbi dos Palmares pela afirmação da Identidade e o reconhecimento da cidadania plena dos afro-brasileiros.
* Coordenador Geral do NCPAM, antropólogo e professor da Ufam.
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