segunda-feira, 10 de novembro de 2008

AS DEMANDAS DO INDIGENISMO BRASILEIRO


Foto: Sandoval dos Santos Amparo - ritual Tep-Teré, dos Krahô

Sandoval dos Santos Amparo*


O questionamento que se faz, é o ritmo das transformações promovidas junto aos territórios indígenas. Um bom princípio indigenista é respeitar o ritmo indígena, manifesto em suas festas. Nem a pressa produtivista do dia-a-dia, nem a ânsia pelos resultados visíveis, palpáveis ou objetivos poderão dar conta da racionalidade do outro. Espaço e tempo, de fato, se encontram na festa. E somente novos valores de produção poderão compreender a festa como entidade econômica e, quem sabe, ou prestigiá-la enquanto componente político-econômico.

Ficam postos, pois, os limites da atuação indigenista, destarte profissionais excepcionais o tenha superado em momentos históricos peculiares. Não se pode olvidar que se trata de uma prática realizada pelo Estado burguês com propósito de neutralizar os movimentos indígenas para garantir a realização de seus interesses, principalmente quando estes dizem respeito ao acesso aos recursos das terras indígenas ou viabilização de projetos considerados estratégicos, que poderão afetar diretamente aos indígenas ou a suas terras.

O indigenismo encontra, com isso, dois tipos principais de demandas: as que vêm das aldeias, e as que vêm diretamente do Estado ou do capital aliado. Em tempos de PAC (mesmo com crise econômica), estas demandas encontram-se a pleno vapor, dizem respeito à construção de Hidrelétricas que inundarão parte de suas terras, ao avanço da fronteira agrícola, à produção do biodiesel colonial, em forma de latifúndio, às mudanças no Estatuto do Índio.

Como parte do mesmo escopo, podemos notar a agregação de uma insensível idéia de natureza sensível, na qual a preservação deve prevalecer inclusive contra os homens e mulheres, se for o caso, e que, mesmo quando os projetos de desenvolvimento e as tecnologias utilizadas por Governo e empreendedores continuarem bastante insensíveis às questões ambientais, continuam agindo sobre os elos mais fracos da cadeia, talvez os únicos entre os quais, conseguem obter algum resultado, já que o interesse de empreendedores, mesmo que desmatadores ou poluidores continua sendo elemento fundante da economia e do desenvolvimento brasileiro. Tal qual o conhecimento, feito a partir da prática, e em resposta a ela, é a territorialização: as sociedades conquistam seus territórios na esfera do cotidiano, do espaço vivido. O Estado, ao contrário, territorializa através da normatização de fronteiras, de impostos, de acessos.



É colaborador do NCPAM, Geógrafo (Universidade Federal Fluminense) da Funai. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília. Além do indigenismo estatal, onde atua se interessa pelas manifestações líricas e artísticas dos homens no espaço e as perspectivas estéticas de produção territorial. Alimenta o blog blog.wayn.com/sandova

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