domingo, 23 de junho de 2013

ONDE OS PARAENSES SE ENCONTRAM EM BRASÍLIA

O Recanto é aconchegante reunindo sob sua aba os filhos da Amazônia, pois lá durante a nossa estada, pudemos identificar acreanos, amapaenses, amazonenses e outros filhos da floresta e dos rios que vivem e moram em outras paragens...

Ademir Ramos (*)

Na semana passada movido pelas passeatas de protestos da juventude que vem sacudindo o Brasil estivemos na capital federal e na quinta-feira (20), “a boca da noite”, fizemos o nosso esquenta na Barraca do Pará, na Torre. O lugar está todo repaginado, higienizado, digno para receber os convidados da Warlene, filha do tio Waldir, nosso mestre do carnaval de Óbidos, a permissionária do recanto. O reencontro foi temperado com tacacá, açai com farinha de tapioca ao gosto, xarope e ou guaraná em pó – saiba que Óbidos também é uma referência no cultivo do guaraná -, sendo que no sábado e domingo a pedida geral é o pato no tucupi e demais iguarias de nossa terra sentinela.

Papo vem, papo vai e para “molhar as palavras” uma boa cevada para equacionar a cafeína do guaraná e permitir a todos lembranças da terra dos Pauxis, berço da nobreza paraense nas artes, beleza, cultura e ciência, porque:

Óbidos, és minha terra,
Óbidos, és meu torrão,
Óbidos, estás inteira,
dentro do meu coração.

O Recanto é aconchegante reunindo sob sua aba os filhos da Amazônia, pois lá durante a nossa estada, pudemos identificar acreanos, amapaenses, amazonenses e outros filhos da floresta e dos rios que vivem e moram em outras paragens, mas jamais se esquecem de suas terras natalinas, dos personagens e ícones que povoam o imaginário de nossa cultura amazônica.

Foi assim que passamos as horas, lembrando os nossos mitos e fantasma que marcaram nossa infância e juventude. Na foto: Warlene, à direita, Warlíbia, em pé e o autor com Dona Maria Leonor, mais ainda Miriam Gorethe, no ofício de fotógrafa, filhos da Dona Zolima e do mestre Azamor Piranha Ramos. Contudo, saibamos, certamente que, segundo o nosso poeta Saladino de Brito:

Se nos livros encontramos a ciência,
e nos mestres nós temos esperanças.
é na alegre e sadia convivência,
que se funde a nossa aliança!

Papo vem, papo vem e assim falamos do Círio e da Festa de Sant’Ana, dos mascarados do nosso Carnaval de Rua, do Curro e dos deslocamentos dos bois da beira para o Curro. O melhor ainda era quando um dos bichos se soltava ou a acorda quebrava e ai começava a gritaria na busca de laçá-lo, deixando os comerciantes do em torno em polvorosa.

A rua Dr. Machado, a Prainha era só festa, tinha a Dona Maria Ramos que agregava em seu estabelecimento a boemia da cidade, além de promover as festas juninas, inclusive com mastro e pau-de-sebo. Vizinha a Maria Ramos morava também a sedutora Tereza Muda que seduzia os marinheiros e os afoitos. Entretanto, se falasse...

Na mesma rua morava também a mulher que virava porca e também um dos devotos de São Cipriano, temido por alguns por ter feito parte com o Diabo para ser rico. Da minha parte tenho muito agradecer, pois, sua dedicação à leitura fez com que sonhasse com a riqueza do saber, da cultura e da ciência.

O reencontro com a Warlene e desta vez com a Warlíbia foi de uma alegria incomparável. Na oportunidade, informamos que a Ana Maria e Alzemira, irmãs do autor, estão se preparando para ir ao Círio e as Festas de Sant’Ana. Warlene lamentou profundamente, pois se soubesse “teria adiada a minha viagem para Austrália para reencontrar minha filha Vanessa.” Segundo ela, da Austrália deverá voar com a filhota para a Ilha de Bali, na Indonésia, devendo conhecer um dos berços da antropologia ocidental e as belas praias do pedaço. Mas, esta é outra história, visto que se for convidado deverei participar das Quermesses de Sant’Ana e renovar nossa devoção Mariana afirmando mais uma vez o quanto é grande o nosso amor pelo berço dos Pauxis.               

(*) É professor, antropólogo, coordenador do Jaraqui e do NCPAM/UFAM.

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