POLICIAL
FEDERAL É ACUSADO DA MORTE DO ÍNDIO TERENA
Renato
Santana (*)
Otoniel Terena, irmão de Oziel
Gabriel, indígena morto na manhã de quinta-feira, 30, durante reintegração de
posse em área da Terra Indígena Buriti (MS), tem uma certeza: o tiro que matou
Oziel partiu de um grupo de policiais federais que tentava retirar os Terena da
fazenda de Ricardo Bacha incidente no território tradicional. O indígena afirma
que o atirador estava entre 10 e 20 metros de Oziel.
“Meu irmão levou o tiro do lado
em que a PF estava. Os policiais se dividiram em três grupos. Eu estava com
outros indígenas no lado dos policiais militares; meu irmão do lado da PF.
Ouvimos tiros vindos de lá, do lado da PF. Depois vieram carregando o Oziel,
para levá-lo ao hospital”, conta com voz embargada Otoniel. A Polícia Federal
assumiu ter usado arma letal.
Além da Polícia Federal, a
Companhia de Gerenciamento de Crises e Operações Especiais (Cigcoe), batalhão
da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, também atuou na tentativa de
reintegração de posse. Outro indígena, Cleiton França, conforme repetidos
relatos dos indígenas por telefone, foi atropelado por uma caminhonete da PF.
Ele quebrou a clavícula e está internado num hospital de Aquidauana (MS).
Os 3.500 Terena seguem na área
retomada, alvo da reintegração de posse. Foram levados para a sede da Polícia
Federal 15 indígenas presos durante a ação. A informação é baseada no
levantamento dos próprios indígenas. Conforme o coordenador regional do
Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Flávio Vicente Machado a polícia iria
liberar os presos depois de colher depoimentos.
Otoniel não quer consolo.
“Deram um tiro no meu irmão que a bala varou o corpo. Destruiu tudo por dentro.
Ele não teve chances de sobreviver”. O indígena afirma que a polícia não
negociou: “Chegaram atirando. Pensamos que era arma com bala de borracha. A
terra é algo comprovada como nossa. São bandidos. Tudo culpa desse fazendeiro
Ricardo Bacha. Ele disse que ia morrer gente e a palavra foi cumprida. Quero
Justiça. Polícia matou meu irmão que deixou dois filhos e uma esposa”, diz.
Conforme relato de indígena que
preferiu não se identificar, Ricardo Bacha estava presente entre os policiais
militares da Cigcoe, enquanto avançavam sobre os indígenas. “Nossas armas eram
pedras e paus. Acontece que a polícia não permitiu a entrada de jornalistas e
observadores. Ontem o delegado disse que ia nos notificar, mas não fez isso.
Entraram matando; mataram meu irmão e eu quero justiça. Para começar, ficaremos
na terra”, frisa Otoniel.
O corpo de Oziel está sendo
velado pelo povo Terena na aldeia Córrego do Meio, Terra Indígena Buriti. Será
enterrado no território em que morreu, declarado indígena e ainda com áreas nas
mãos de fazendeiros como Ricardo Bacha, ex-deputado estadual (PSDB) e
ex-candidato a governador no estado do Mato Grosso do Sul.
Oziel:
luta pela terra - Oziel Gabriel tinha 35 anos e
morava na aldeia Córrego do Meio. Deixa uma esposa e dois filhos. Desde cedo
lutava pela ocupação da terra tradicional do povo Terena, ao lado do avô. Há
dois meses participou da retomada da Fazenda Santa Helena (Córrego do Meio),
uma das áreas da Terra Indígena Buriti, declarada com 17.200 hectares, dos
quais os Terena ocupam pouco mais de 1 mil.
“A esposa está muito chocada, à
base de medicamentos. O filho está em desespero. Como faremos justiça? Quando
vão punir quem mata índio? A terra é nossa e sempre foi”, encerra Otoniel.
(*) É jornalista do Porantim/CIMI.
Fonte: http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&conteudo_id=6927&action=read
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