SAIBA
O QUANTO O POVO PAGA PELAS DENTADURAS DOS SENADORES
Enquanto
o povo sofre na fila do SUS, os Senadores e ex-Senadores tem um Plano de Saúde
vitalício, com benefício milionário para si e seus agregados. Os gastos já
atingiram mais de R$ 6,2 milhões anuais no período de 2008 a 2012. A República é para os súditos, onde todos são iguais, os privilégios e dotes continuam na corte mimando a realeza.
ERICH DECAT , FÁBIO FABRINI (*)
Bancado
exclusivamente pelo contribuinte - ou seja, a custo zero para os senadores,
ex-senadores e seus dependentes - o plano de saúde do Senado paga despesas que
incluem implantação de próteses dentárias com ouro e até sessões de
fonoaudiologia para melhorar a oratória e driblar a timidez. Alguns senadores
chegam a gastar até R$ 70 mil por tratamento dentário.
Documentos obtidos pelo
Estadão mostram que, nos últimos cinco anos, a Casa autorizou tratamentos
milionários, principalmente odontológicos. Tudo sem fazer perícia física dos
pacientes nem definir limites de cobertura. Os gastos com os dentes dos
senadores e outros tratamentos médicos, como sessões de psicoterapia e
fonoaudiologia, atingiram média de R$ 6,2 milhões anuais entre 2008 e 2012 -
62% desses valores dizem respeito unicamente ao reembolso de notas fiscais e
recibos. A reportagem obteve as despesas efetuadas em 2013, que ainda não foram
consolidadas pelo Senado. A estimativa é que a média de gasto tenha se mantido
inalterada.
O
plano de saúde do Senado é vitalício. Ele banca despesas de
senadores, ex-senadores e dependentes como filhos, enteados e cônjuges. Para
usufruí-lo, o parlamentar não precisa fazer nenhuma contribuição - basta que
tenha exercido o cargo por 180 dias ininterruptos. Após a morte do titular, o
cônjuge continua usando a carteirinha. Como não há uma lista detalhada de
procedimentos cobertos, os beneficiários se sentem à vontade para incluir em
seus gastos todo tipo de serviço especializado.
O plano do Senado estabelece
um limite anual de R$ 25,9 mil para gastos odontológicos. Os documentos obtidos
pelo Estadão apontam, no entanto, que a Casa tem pago valores que extrapolam de
longe esses limites. O caminho para ignorar as normas é invadir a cota não
utilizada de outros anos.
Uma das despesas mais
comuns, nas notas apresentadas, é a de materiais sofisticados usados em
próteses, dificilmente cobertos pelos planos de saúde do mercado - e que dão o
melhor resultado estético.
Para o presidente nacional
do DEM, José Agripino Maia (RN), a Casa creditou R$ 51 mil em 2009, referentes
a 22 coroas de porcelana aluminizada, produto mais caro e que confere aparência
melhor. "Essa é uma opção mais estética, porque troca uma infraestrutura
metálica pela de porcelana aluminizada", diz o cirurgião-dentista Rogério
Adib Kairalla, do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo.
O senador potiguar afirma
que o tratamento foi "estrutural" e custou mais que o reembolsado
pelo Senado, o que o obrigou a pagar a diferença. "Foi mais que implante.
Tive de recompor toda a base dos dentes, por causa da barbeiragem de um
dentista. Ia jantar e caía", diz Agripino.
Já o ex-senador Adelmir
Santana (PSB-DF) pôs próteses de porcelana, com infraestrutura em zircônia, o
que custou ao contribuinte R$ 22,5 mil. "Na parte de prótese, é a técnica
mais requintada. Acaba custando mais", afirma Kairalla.
Reabilitação. Senador
licenciado, o ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB-RJ), apresentou em 2010
notas que somam R$ 42 mil. No ano anterior, o Senado ressarciu despesas de R$
23 mil para tratamento dentário com um toque de requinte: a reabilitação da
boca na parte direita superior foi feita com coroas de cerâmica e pinos em ouro
odontológico. No mercado, segundo especialistas ouvidos pelo Estado, esse ouro
custa mais que o metal na sua versão convencional, nas joalherias, e
dificilmente é coberto pelos planos odontológicos.
Pedro Simon (PMDB-RS)
conseguiu ressarcimento de implantes dentários que totalizam R$ 62,7 mil em
2012. "Fiz para aquele ano e com pedaço (da cota) do ano seguinte, em duas
parcelas", explica o senador gaúcho. "Digo mais: foi feito a esse
preço porque chorei, chorei e foi um preço bem menor. O valor inicial era coisa
de R$ 80 mil a R$ 85 mil."
Em
ação civil pública em tramitação na Justiça Federal, o
Ministério Público, ao analisar os gastos efetuados até 2010, considerou que os
"desembolsos envolvem valores exorbitantes, que fogem a qualquer
padrão".
Timidez. A generosidade do
plano torna-se evidente no caso do senador Wilder Morais (DEM-GO), suplente que
assumiu a vaga de Demóstenes Torres (sem partido-GO) quando este foi cassado.
Parlamentar de primeira viagem e dono de uma fortuna de R$ 14,4 milhões -
segundo declarou ao Tribunal Superior Eleitoral -, ele conseguiu em 2013 o
retorno de R$ 1 mil referente a sessões de fonoaudiologia. O dinheiro pagou
parte de tratamento de "desenvolvimento de habilidades de competência
comunicativa" que Morais fez porque não tinha traquejo na tribuna.
"Ele é tímido", justificou sua assessoria.
A ex-senadora Ana Júlia
Carepa (PT) aproveitou o plano, entre 2007 e 2011, e fez vários implantes.
"Eu poderia pôr uma dentadura, mas acho que ficaria complicado, né?"
Além dos implantes, a ex-senadora diz ter feito também clareamento nos dentes
que não foram mexidos. "É até consequência. Como vai ter que refazer,
serve para igualar", justificou.
(*) Articulistas e
jornalistas do Estadão.
Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,senadores-pedem-reembolso-de-ate-r-70-mil-por-tratamentos-dentarios,1138720,0.htm
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