terça-feira, 30 de junho de 2020

O AMOR EM CHAMAS


Uma das mais belas obras do texto sagrado, os Cânticos dos Cânticos exalta o amor em chamas nos corpos dos amados. Segundo as notas introdutórias da Bíblia de Jerusalém, das edições Paulinas, o livro sapiencial define-se por uma “série de poemas o amor mútuo de um Amado e de uma Amada, que se unem e se perdem, se buscam e se encontram”. A interpretação e compreensão dos oito poemas dos Cânticos recorrem às alegorias e demais formas de linguagem objeto de estudo da hermenêutica hebraica, cristã e literária.

O texto tem sido analisado por exegetas seguidos de múltiplas leituras teológicas. Mas, na tradição literária, o poético é mais relevante que o teológico movido pelo calor melódico dos corpos que se encontram embriagados de prazer do vinho delicioso de tua boca “que se derrama na minha/molhando-me lábios e dentes”.   

Arrebata-me canta o poeta e “beija-me com beijos de tua boca/ teus amores são melhores do que o vinho”. Nessa fricção dos corpos faiscantes “meu amado põe a mão/ pela fenda da porta:/ as entranhas me estremecem”.

Beleza, formosura e gosto são verdades da ciência do amor provado no campo ou no leito dos prazeres  regido pela química das relações mútuas seladas pelo consentimento do encontro prospectivo do encantamento das forças amorosas seduzido pela grandeza das tuas formas porque “és toda bela, minha amada”, exclama o cantante a declarar ainda que “teus peitos são dois filhotes/ filhos gêmeos de gazela/ pastando entre açucenas”.

Nos Cânticos, os amantes são cúmplices, vivem intensamente porque o amor segundo o livro sapiencial é paixão, forte como a morte e “cruel como o abismo”, bem nos modos e meios do realismo sentimental nos tempos da modernidade. 

Saiba também que o amor é, sobretudo, gratuidade não está à venda “quisesse alguém dar tudo o que tem/ para comprar o amor.../ seria tratado com desprezo”, este é o mandamento que rege a sonata dos Cânticos dos Cânticos, primando pela ordem do movimento de sua composição com a mesmo aptidão e vontade na feitoria da arte de amar. É a nossa gratidão aos enamorados.    

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