domingo, 3 de agosto de 2008

MIRANTE DO COTIDIANO - "E O SONHO ACABOU?"



Luciney Araújo*

“Não é a Casa dos meus sonhos, mas é a casa que me permite sonhar”. Esta foi a expressão que Eudo Marculino, um estudante de Engenharia, fez ao iniciar sua morada na Casa do Estudante Universitário do Amazonas, por volta de 1980.

Quantos momentos de felicidade; quantas horas de tristeza; quantas foram as amizades construídas; quantos casais se uniram naqueles corredores da CEU-AM! Estes ocorridos, hoje, tornam-se meras lembranças na memória de ex-moradores e amigos da casa.

Acontece que a CEU-AM foi desativada num triste 2008; triste por se tornar pó uma bandeira de luta estudantil erguida na década de 1950. E agora? Não se ouvirá mais a Ruth gritando nos corredores: “Edeeeer!”; O Rivaldo perguntando: “Cadê o índio?” Mas ainda, não mais se contemplarão as brincadeiras do Milke, as memoráveis assembléias, enfim... E o Poty!? Quem não ouviu falar do nordestino mais querido da CEU-AM e suas histórias de Rodolfo Fernandes, a grande metrópole Potiguar? Apenas para a História existirão esses fatos, muitas das vezes até engraçados...

Puxa, que saudades sinto desta casa. Só de lembrar nos anos que morei no quarto 207. Ainda guardo comigo aquela placa verde, que identificava meu quarto; uma lembrança que sempre me remete aos quatro anos em que estive morando ali. Hoje, quando passo pela Rua Barroso, tento disfarçar, mas sempre existe uma centelha de alegria em ver aquele prédio amarelo de quatro andares e com suas varandas, onde muitos estudantes choravam a saudade de casa e ao mesmo tempo buscavam, encostados naquelas grades vermelhas, forças para vencer os desafios da caminhada acadêmica.

Pois é... Esse sonho foi desativado temporariamente. Fala-se em alugueis para quem ainda encontrava apoio nas estruturas daquela casa. Uma pena que pessoas tenham esquecido o sentido da palavra “Casa do Estudante”, deixando essa bandeira de luta e amor se perder no tempo.

Aquele prédio amarelo e imponente situado na Rua Barroso ficará na memória de todos nós que um dia moramos ou estivemos por algum motivo ali; se consolidará na história de pessoas como eu, que guardo com carinho os momentos de alegria dos quais fui partícipe...


Há boatos d'uma outra casa, nas dependências do Campus. Mas não será a mesma, não será igual aquela CEU-AM de 55 anos de história, aquela CEU-AM por onde estudantes que ali moraram hoje afirmam que seu caráter foi construído através das amizades concebidas durante o tempo em que moraram na “pobreza”.

Pobreza. Quem não lembra desse termo! Quando aqueles ex-moradores passavam por frente da casa e gritavam: “Fala Pobreza!” E logo depois diziam: “lutem por essa casa, ela representa muito em minha vida!” É, esse sonho acabou, mas as palavras do Eudo: “Não é casa dos meus sonhos, mas é a casa que me permite sonhar”, vai permanecer na memória das pessoas que passaram por seus corredores e viveram intensamente o sonho de ser morador da “Casa do Estudante”.

* Cientista Social e ex-morador da "Casa do Estudante".

Um comentário:

Marlon Amaral disse...

Muito plausível o discurso, porém nao há coesão quando se diz ´o sonho acabou´ ainda bem que a CEU-AM ainda signifique isso para alguns raros moradores, mas a realidade e motivo para termos tal crise na Casa deu-se a partir do momento que pessoas não carentes tornaram-se moradores. Com isso a luta esfriou, morar na CEU alimentava o ego de muitos, que enchiam o peito para falar dela, mas na hora da luta eram todos omissos, como exemplo da última diretoria execultiva da Casa que se omitiu por quase sete meses dos moradores, entregando a CEU_AM aos ratos. Posso afirmar que o sonho não aabou e nem acabará, enqunto estudantes e moradores nós lutaremos,assim como estamos lutando junto a PRÓ-REITORIA E REITORIA da referida Universidade buscando solucões e discutindo propostas.
O sonho não acabou e jamais acabará!

Marlon Amaral, morador da CEU-AM, natural de Itacoatiara-Am