sábado, 23 de agosto de 2008

A POESIA NO REINO DAS AMAZONAS




A Livraria Valer, em Manaus, propiciou aos amantes da poesia, celebração fraterna regida pelo calor da amizade a estender-se rio adentro a desaguar no mar. O encontro dos amigos foi no sábado (15/08), quando lá estiveram para encontrar o poeta e acadêmico paraense, João de Jesus Paes Loureiro, o primeiro a esquerda da foto, e se encantar com sua poesia condensada em título editorial como Água da Fonte (São Paulo: escrituras, 2008).

Na academia, o poeta é um pesquisador da cultura amazônica, que denuncia o descaso das políticas culturais brasileiras relativas ao reconhecimento e valorização da nossa cultura. A ignorância dos burocratas e editores nacionais é monstruosa, entretanto, resistimos, publicando e rompendo preconceitos contra esses monstros dos enlatados e da mesmice.

Paes Loureiro referencia seus estudos na pesquisa sobre o rico Imaginário Cultural Amazônico, representado por configurações iconográficas, que afirmam identidades culturais específicas, na perspectiva de sustentação de uma Poética do Imaginário, como bem definiu em sua tese de doutorado referente à sociologia da cultura. No entanto, é a poesia que nos humaniza e faz ver que somos mais do que aparência, é a sonoridade do outro a dialogar com o mundo em movimento tal qual o rio no Reino das Amazonas, a se definir como recorrente desencontro numa dialética das culturas. Vejamos:

RAÍZES CRAVADAS

Raízes cravadas à margem o rio tenta agarrar-se
Tenta parar
sua própria correnteza
O rio tenta.
Tenta deter o seu ser.
Tenta, inútil, o não-ser.
O rio talvez não saiba que ser rio é

ser corrente
que não se prende às margens que o rendem.
Correr em busca de si
Sem encontrar-se jamais consigo mesmo...
Eis o destino humaníssimo do rio,
a inquietação percorrente de sua alma líquida:
Buscar-se para sempre em suas águas,
sem que possa parar para encontrar-se.

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