sexta-feira, 15 de agosto de 2008

O PÓS-MODERNO REACIONÁRIO


Gustavo Bertoche*



Sim, o pós-moderno pode ser reacionário. Para o humanismo pós-moderno de um Heidegger ou de um Sartre, não existe a possibilidade da objetividade - especialmente da objetividade científica. Se cada homem cria o mundo, e o mundo é criação de cada homem, não subsiste a universalidade epistemológica que autoriza o processo objetificante das metodologias. Para os humanistas pós-modernos, cada homem tem sua certeza, e nessa certeza ele é veraz. Cada homem tem seus próprios valores (morais e hermenêuticos), e o solipsismo fenomenológico impede que os valores sejam comparados a valores-padrão. A que isto remete? Relativismo absoluto dos valores.

O humanismo pós-moderno é, então, uma posição que, acima de tudo, põe o homem individual - e não algo como a humanidade, ou o homem comum, ou o homem médio, ou o Homem - no centro do processo de valoração e de conhecimento de tudo. Neste sentido, o humanismo pós-moderno de Heidegger e Sartre é bastante diferente do humanismo grego de Sócrates, do humanismo medieval de Agostinho, do humanismo renascentista de Descartes, do humanismo esclarecido de Kant, do humanismo iluminista dos enciclopedistas franceses, do humanismo existencialista primordial de Kierkgaard, do humanismo materialista de Marx, do humanismo teológico de Teilhard de Chardin.

O humanismo pós-moderno é solipsista, é anti-científico. Podemos dizer, inclusive, que é reacionário de um certo ponto de vista: rejeita o sentido do desenvolvimento da humanidade, rejeita a possibilidade de uma busca a um bem objetivo, rejeita a identificação de algo intrinsecamente bom e de sua oposição a algo intrinsecamente mau, mesmo que apenas para que se assumam com estes valores metas para o desenvolvimento da humanidade.

O humanismo pós-moderno é reacionário porque considera o desenvolvimento da ciência algo opressor e maligno - não, contudo, positivamente, mas apenas porque afastaria a possibilidade de um modo de vida supostamente mais livre, mais espontâneo, mais autêntico. É reacionário porque rejeita o progresso político (lembremo-nos do apoio de Heiddeger à ditadura nacional-socialista de Hitler, de Sartre à ditadura comunista de Stálin - ainda que ambos tenham, posteriormente, feito mea-culpa, é importante notar que esses filósofos foram, de fato, apoiadores de regimes brutais, reacionários, anti-libertários). É reacionário porque, em seu solipsismo da anti-racionalidade, não aceita argumentos racionais. É reacionário porque rejeita o senso de realidade que constrói a necessidade da criação de conhecimento e de evolução moral.

Será que virei pós-moderno? Será que virei… um reacionário?


* O autor é professor de filosofia do ensino médio e blogueiro do site http://noturno.wordpress.com/ , a qual esta crônica está publicada; acesse este blog e verá outras novidades e crônicas.

Nenhum comentário: