quarta-feira, 6 de agosto de 2008

A EDUCAÇAO COMO AÇÃO POLÍTICA


João Fábio Braga*


Pensar o ambiente escolar como o único espaço de aprendizado e de cultura, é tornar a concepção de educação limitada sobre o verdadeiro papel da escola, sobretudo do educador. A escola não deve ser apenas o lugar da concepção de ensino sistematizado de transmissão de conhecimento e conteúdo escolares, mas ser o espaço do diálogo, o recinto dos saberes plurais e da construção da democracia.

O processo educacional não se restringe somente na formação do indivíduo dentro de uma sala de aula, porém, deve ser a partir do ambiente escolar que se constrói a consciência democrática que, ao mesmo tempo, potencializa os processos sociais mais amplos para formação alargada e universal do entendimento de prática educativa, prática esta, que se desenvolve para além da escola; é a construção da práxi-educacional em espaços e contextos diferenciados, apreendendo as dimensões humanas e humanizadoras.

Associar a educação aos processos globais da formação do ser humano, especialmente quando este dever ultrapassa a idéia instrumental e tradicional da educação formal, a centralidade da humanização apresenta-se como paradigma pedagógico que desconstrói a educação enquanto instrumento de transmissão de saber e conteúdo ou idéia estreita de ensino, portanto, repensar a educação no sentido de ser uma ação libertadora e problematizadora, assim Paulo Freire afirmara – “além de um ato de conhecimento, a educação é também um ato político”, isto é, a educação é uma forma de intervenção no mundo, dessa forma, o sociólogo Florestan Fernandez define que somente seria possível o encadeamento por meio de uma “consciência da situação com a prática modificadora”.

Por isso a importância do papel político do educador -, o qual ele não se prende ou se contenta ao repassar através da reprodução do conteúdo reflexivo, mas ele convoca por meio da reflexão feita pelo diálogo com o aluno, criando as possibilidades de uma educação emancipadora que visa compreender e transformar a realidade social, somente pode ser verdadeira quando suas dimensões – ação e reflexão não são divorciadas.

Segundo essa perspectiva que constrói uma prática política e pedagógica atuante, cujo objetivo prepara alunos em cidadãos capazes de construir conjuntamente com a comunidade de pais, de bairro e corpo docente - a escola como espaço participativo e deliberativo, integrando uma postura ética-ecológica que corresponda as necessidades e consciência cada vez maior dos problemas da cidade, do país e do mundo.

Educar para cidadania tem de ser o lema da bandeira do educador, pois o compromisso é com a formação de sujeitos políticos, claramente democráticos, que perpassam na concepção de serem sujeitos críticos, criando um novo exercício de cidadania partindo da construção e consolidação de uma sociedade mais justa e democrática.

* Coordenador Editorial do NCPAM e cientista social.

Um comentário:

Anônimo disse...

SOBRE A TAREFA DE QUEM ENSINA



É uma tarefa que requer de quem com ela se compromete um gosto especial de querer bem não só aos outros mas ao próprio processo que ela implica. É impossível ensinar sem essa coragem de querer bem, sem a valentia dos que insistem mil vezes antes de uma desistência. É impossível ensinar sem a capacidade forjada, inventada, bem cuidada de amar [...] É preciso ousar, no sentido pleno desta palavra, para falar em amor sem temer ser chamado de piegas, de meloso, de acientífico, senão de anticêntífico. É preciso ousar para dizer cientificamente e não blá-blá-blantemente, que estudamos, aprendemos, ensinamos, conhecemos com o nosso corpo inteiro. Com os sentimentos, com as emoções, com os desejos, com os medos, com as dúvidas, com a paixão e também com a razão crítica. Jamais com esta apenas. É preciso ousar para jamais dicotomizar o cognitivo do emocional. É preciso ousar para ficar ou permanecer ensinando por longo tempo nas condições que conhecemos, mal pagos, desrespeitados e resistindo ao risco de cair vencidos pelo cinismo. É preciso ousar , aprender a ousar, para dizer não à burocratização da mente a que nos expomos diariamente.



PAULO FREIRE