quinta-feira, 14 de agosto de 2008

O CANDOMBLÉ DE ANGOLA EM MANAUS



Luciney Araújo*


No livro “A Cidade das Mulheres” Ruth Landes (1967) aponta o candomblé como um “culto feiticista africano” e que gira em torno de “uns dez deuses oriundos do oeste africano”, precisamente das regiões onde o tráfico de negros para o Brasil fora intenso, especificamente da nação nagô. Estudos apresentados por Edson Carneiro, apontam que aportaram no Brasil negros pertencentes a diversas nações, como é o caso dos negros Bantos. Levando a crer que a o candomblé realizado no Brasil possui elementos pertencentes a outras etnias e clãs oriundos do continente negro e que com sua diáspora, e até mesmo o local de trabalho para onde esses negros eram encaminhados, colaboram para um sincretismo religioso na qual muitas vezes, nações africanas se misturavam e juntavam elementos para preservação de sua cultura religiosa.

Quando se trata da existência de pureza nas nações de candomblés em Manaus, apresenta o continuum religioso que aponta Capone (2004), quando se aborda o fato das religiões se reorganizarem em uma forma “misturada”, apresentando no discurso dos iniciados da religião a afirmação e a legitimação de uma africanidade nessas casas de culto. Pois nas casas de cultos, nas rezas, nos rituais litúrgicos o culto ao orixá e ao nkisse muito das vezes passa a ser ministrado em um único espaço, e elementos tanto de uma cultura quanto de outra se mantém firmes e ajuda a consolidar o candomblé como religião.

Algum aspecto existente nos candomblés de Manaus pode-se perceber que existem algumas semelhanças entre nações, sendo importante abordar o fato de que o discurso da legitimação de pureza está apenas quando se trata o fato de legitimação da religião. Embora a diferença e a pureza existente entre as diversas nações na cidade de Manaus, o fato de Wilson Falcão Real exercer o sacerdócio tanto na nação Angola como na nação Ketu, ajudam a pensar que o candomblé de Manaus, tanto a diferença quanto sua pureza vem de sua formação, seguindo a idéia de continuum religioso. Vários sacerdotes e sacerdotisas do candomblé, são oriundos das práticas umbandistas até meados da década de 1970 e que ainda preservam elementos da umbanda, mantendo em seus calendários de festas toques dedicados a caboclos, exus e boiadeiros.

A lacuna existente nos estudos sobre negros no Amazonas e principalmente estudos referentes a sua religiosidade é uma das dificuldades enfrentadas na construção da pesquisa sobre o candomblé de Angola em Manaus. Os dados apresentam uma forte influência das casas de culto de Tambor de Mina, como foram apontados por Chester Gabriel (1985), de que na primeira metade da década de 1970, existia em Manaus uma predominância de casas de Tambor de Mina. Com a chegada de Wilson Falcão Real na década de 1970, uma nova configuração das casas de culto afro se formaria na cidade, ou seja, a fundação de um Abassá, a saída de um barco de yaôs e muzenzas, a constituição de uma família-de-santo e a chegada de pessoas que exerciam “cargos” dentro da religião, ajudaram na formação de uma nova denominação religiosa na cidade.

Com a fundação do Inzo Muzambo Tata Mutalembê em meados da década de 1980, a nação Angola passa a se firmar e a se legitimar como uma casa de culto a ancestrais africanos, na qual funcionou até o início da década de 1990. Com a morte de Wilson Falcão Real, a herdeira de seu axé, não se encontrava em condições para assumir o Abassá, que após alguns anos acabaria sendo vendido e anos mais tarde seria reconstruído por Mãe Dora, herdeira do axé de Tata Wilson. A história de vida de Dilza Veiga Nascimento vai ao encontro com a fundação do candomblé de nação Angola em Manaus, sua infância sofrida em São Paulo, sua experiência com a umbanda nos terreiros paulistas, sua chegada ao Amazonas e sua feitura no santo em meados da década de 1970, ajudam há entender um pouco a formação da nação angola na cidade.

Considerada a extensão do Inzo Munzanbo Tata Mutalembê o Abassá de Angola da Danda Keumaze é fundado no ano de 1996, em um terreno pertencente a família de Mãe Dora. Preserva em sua estrutura religiosa elementos fincados por Wilson Falcão Real, tendo em sua essência os costumes do candomblé de Angola e em sua liturgia o culto a Nkisses, caboclos e boiadeiros.
Existem em Manaus hoje, duas casas de candomblé de Angola, ambas localizadas no bairro do Lírio do Valle, com duas irmãs de santo em sua direção, Mãe Dora e Mãe Dimas, ajudam na preservação da memória de Tata Wilson Falcão Real, consideradas por elas como responsável pela iniciação de ambas Mametos de Nkisses na religião e na preservação dos costumes e ritos dos antepassados africanos.

*Luciney Araújo é pesquisador do NCPAM e cientista social pela Universidade Federal do Amazonas.

Um comentário:

Nzô Nkosi Mukulungunzo disse...

Olá, Gostaria que todos compartilhassem conosco um pouquinho da nossa Nzô e também da nossa Nação Angola.
Obrigado.

http://www.blogger.com/profile/10043234857046211122


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