domingo, 7 de dezembro de 2008

É MUITO BOM PARA SER VERDADE



João Fábio Braga*

É muito bom para ser verdade. O “abelha negão”, melhor dizer o “vespão” Amazonino Mendes, prefeito eleito de Manaus, anda agoniado e preocupado por causa da cassação do registro da sua candidatura, julgado em primeira instância pela juíza, do TRE, Maria Eunice Torres do Nascimento, a qual é presidente do pleito de 2008. Não esqueçamos o nome da corajosa juíza.

As provas contundentes, coletadas pela Polícia Federal, relatam a distribuição e abastecimento de combustível, financiados por Amazonino, em troca de voto e apoio na eleição de 2008. Ainda mais, há um vídeo denúncia gravado com a suposta acusação recheada de irregularização e de distribuição de vale-combustíveis, que foi feito pelo concorrente ao pleito Omar Aziz. Entenda o caso aqui.

O “abelha negão” ainda não acredita que isso poderia ter acontecido. Sua crença que tudo estava sob controle, tudo estava em suas mãos, a própria câmara da cidade sob seus pés, o intimidamento ao prefeito derrotado Serafim, manipulando os projetos de lei em benefício próprio, o lobby nos bastidores do poder legislativo - casa do povo do Amazonas -, de apoio e declarações calorosas e apaixonadas, e do executivo estadual: o repeteco da dobradinha da ação conjunta; e no final, o sonho inacabado de chegar, mais uma vez, ao trono do rei, ser rei como sempre se sentiu neste território do norte, no qual pensa aspirar sentado o mando e desmando no provinciano palácio da Compensa, essa é a menina dos olhos de Amazonino.

Todo esse castelo de devaneios e delírios que emana do narcisismo do prefeito eleito, o elemento de ambição de obter o poder a qualquer custo em conjunto da metralhada composição do seu governo palaciano, parece sucumbir diante de seus olhos, despedaçando sua imagem refletida no espelho do próprio ego, a quem imaginou a cidade a sua semelhança, começa amargurar deprimidamente na idéia de fuga de seus fiéis súditos metralhas da nova velha corte (deslealdade existe quando a confiança em alguém e os bons frutos dessa relação ficam distante da realidade e dos objetivos).

A idéia o assombra e o pesadelo o consome, pois os fatos significam, de um lado, o fim definitivo da carreira política, pelo menos dos cargos de executivo, por outro lado, levam-no consternar-se na masmorra da solidão.

Este último o deprime muito mais, pois é conseqüência da cassação do mandato; significa um adeus padecido, crucificado e atormentado dos seus sonhos políticos.

A história o julgará para o bem ou para o mal. Amazonino sabe disso. Por isso mesmo, articula por fora e por dentro maneiras e modos, como ele bem saber fazer, de reverter esse quadro desfavorável. A sua luta contra o pecado, apesar de tarde, é a luta contra a pena que recai sobre o pecador, a qual ele mesmo viciou o espírito na estupidez de práticas levianas, as mesmas que o condena e o acompanha na eternidade do inferno. Flaubert pensaria: “A estupidez não está de um lado e o espírito do outro. É como o vício e a virtude; sagaz é quem os distingue.”

Porém, o “abelha negão” corre contra o tempo, precisa apresentar sua defesa e dados convincentes que possam provar sua inocência, a despeito de existirem as provas tão contundentes quanto verídicas da participação do pecador em ações levianas, torna-se dessa forma muito difícil reverter essa situação, uma vez que a sentença será concluída no TSE, em Brasília, onde se analisará o tramite julgado e se confirmará a decisão, a tendência é bem negativa.

Confirmado a cassação pelo TSE, Amazonino (PTB) e o seu vice Carlos Souza (PP) poderão ficar inelegíveis durante 3 a 6 anos. A duração da pena, nesse caso, supõe 3 eleições para cargo do executivo e do legislativo. Depois disso, restará de consolo o mandato de senador, não mais que isso. Por sua vez, Carlos Souza parece querer renunciar ao cargo de vice, preservando seu mandato de deputado federal.

Portanto, o tempo na política é volátil, o sólido constantemente se desmancha no ar, com isso o futuro do “abelha negão” Amazonino Mendes é decair no ostracismo político, saindo da realidade para história. Assim como, o “boto-tucuxi” Gilberto Mestrinho, seu pai político, fez história no Amazonas, mas a memória imediata do povo, logo, o esqueceu; obsequioso num tempo de sua glória, hoje ele luta constantemente para preservar a sua memória contra o esquecimento. Destino idêntico começa a ter o Amazonino.


* Coordenador Editorial do NCPAM e cientista social. Artigo publicado também no blog Idéias, Ensaios e Paixões - http://www.fabiobraga.wordpress.com/

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