terça-feira, 2 de dezembro de 2008

MAQUIAVEL E A CIDADANIA

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Os estudos sobre a política, de um modo geral, têm suas origens e raízes fundamentados naquilo que se convencionou chamar de “fenômeno de poder”. Mas, primeiramente, a análise desse fenômeno pressupõe um conceito prático do que seria o “poder”.

Podemos entender como poder: a posse dos meios que tem como finalidade principal, a obtenção de resultados previamente desejados. É corrente o pensamento de que o indivíduo que detém os mais variados meios de poder, vai sempre usar esses meios para exercer domínio sobre algo ou alguém. Assim, a ciência política estuda, fundamentalmente, o poder do homem sobre outro homem, ou seja, aquilo que conhecemos como poder social.

Quando Maquiavel fundou a ciência política, ele não apenas criou uma ciência capaz de desvendar e revelar processos existente nas entranhas do poder político, como trouxe também junto com ela um desencanto ainda maior sobre si mesma. Diferentemente da época do paganismo, tempo em que o grande filósofo, na sua maioria, tinha grande apreço pela política, não apenas como ação, mas também como ciência, a figura do político entrou em declínio com a ascensão do cristianismo que a entendeu como uma atividade relacionada quase sempre com coisas malignas.

Essa visão do cristianismo sobre a política fundou-se ainda mais quando os pensamentos sobre a política de Maquiavel ganharam força a partir do século XVI. Relacionando o cerne da ciência política com os tempos de hoje, é quase unânime nas sociedades democráticas um desencanto muito grande com a atividade política, onde a hostilidade do cidadão à sua prática é bem visível. Isso reside no fato dos cidadãos verem esses tipos apenas como sujeitos que se interessam por questões pessoais, buscando sempre algum proveito próprio.

Essa desilusão e descrédito acabam quase sempre por compreender a política, num sentido mais amplo, apenas como uma prática maléfica, que desperta e faz aflorar o lado interesseiro existente nas profundezas interiores do homem, onde resultam quase sempre na efetivação das práticas do poder, como eu disse anteriormente, é a posse dos meios que tem como finalidade principal, utilizá-los para obtenção de resultados desejados.

A crescente despolitização e descrença da população com relação às instituições políticas são as marcas mais visíveis de nosso tempo. As eleições diretas, antes vistas como um dos principais caminhos, senão o único, em direção à democracia, passaram a ser reduzidas ao estágio máximo de participação do cidadão na política, dentro da lógica da sociedade atual.

Maquiavel analisou a política não como ela deveria ser, mas sim como ela é, onde os fins justificam os meios. Embora possa parecer contraditório para alguns, essa análise de Maquiavel traz uma contribuição de fundamental importância na compreensão da política como ciência, onde em muitos casos, é melhor conhecê-la em sua extensa relação na “verdade efetiva das coisas”, para que um dia, talvez, transformá-la naquilo que deveria ser, instrumento de cidadania.

* Pesquisador de Ciência Política é graduado na Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Amazonas - UEA.

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