O desempenho das escolas
Ao
divulgar os resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2012, o
governo destacou o desempenho das escolas públicas federais, cujos alunos
obtiveram média de 584,23 pontos, enquanto os estudantes das escolas privadas
obtiveram uma média inferior, com 577,39 pontos. As médias levam em conta as
notas de redação e de cada uma das quatro competências do exame - linguagem e
códigos, matemática, ciências humanas e ciências da natureza. Na prova de
redação, os estudantes das escolas federais obtiveram média de 613,07 pontos,
enquanto os alunos das escolas particulares registraram uma média de 533,48
pontos.
A forma como os resultados do Enem de 2012 foram divulgados
pelo governo passou a ideia de que toda a rede pública de ensino médio teria
superado a rede privada, em matéria de qualidade e desempenho escolar. Essa
ideia, contudo, é enganosa. As escolas federais apresentaram um bom desempenho,
é verdade. No entanto, elas atendem menos de 3% do total de 683 mil estudantes
da amostra analisada pelas autoridades educacionais. E, mesmo assim, as escolas
federais cujos alunos tiveram bom desempenho no Enem são ligadas a instituições
militares e a universidades e unidades de ponta do ensino técnico mantidas pela
União. Nos colégios militares, nas escolas de aplicação e no ensino técnico
federal, o processo de ingresso de estudantes é tão disputado quanto o das
melhores faculdades do País.
Além disso, o balanço do Enem de 2012 divulgado pelo
Ministério da Educação foi elaborado com base numa amostra de aproximadamente
11,2 mil escolas públicas e privadas. O MEC deixou de fora do levantamento mais
de 14 mil escolas de ensino médio que tiveram participação de menos de 50% de
seus alunos.
As escolas federais não são, assim, representativas da
situação em que se encontra o ensino médio. Nesse ciclo, 31,51% dos estudantes
cursam a rede particular. E 65,5% são atendidos pela rede pública municipal e,
principalmente, pela rede pública estadual. Como nos anos anteriores, segundo
os números divulgados pelo MEC, as escolas de ensino médio sob responsabilidade
dos Estados registraram em 2012 um desempenho bem inferior do que as escolas
municipais, particulares e federais nas quatro áreas do conhecimento avaliadas.
Em matemática, por exemplo, as escolas estaduais tiveram média de 491,18
pontos. Já as escolas particulares registraram uma média de 615,07. As escolas
municipais atingiram 546,73 pontos. E as federais, 625,24 pontos.
Ao divulgar as estatísticas do Enem de 2012, o ministro da
Educação, Aloizio Mercadante, também fez outros malabarismos numéricos, para
tentar extrair conclusões positivas do levantamento. Segundo ele, a nota média
dos 215.530 alunos da rede pública com melhor desempenho corresponde ao total
de estudantes de escolas particulares que participaram do exame, na amostra
analisada pelo MEC. Segundo Mercadante, isso mostraria que o topo da rede
pública de ensino médio teve, no Enem de 2012, um desempenho equivalente ao
conjunto de estudantes da rede particular. Pelo raciocínio do ministro, essa
elite das escolas públicas é competitiva nos exames vestibulares das mais
prestigiadas universidades do País. "Os melhores estudantes das escolas
públicas competem com o setor privado", afirmou.
O que o ministro deixa de lado, contudo, é que o nível médio
dos alunos da rede pública - excluídos os matriculados em colégios militares,
escolas de aplicação e algumas unidades do ensino técnico federal - continua
muito baixo. Em matemática, por exemplo, a média dos alunos das escolas
estaduais subiu de 490 para 491,18 pontos, entre 2011 e 2012 - um aumento
inexpressivo de 1,18 ponto. Em ciências da natureza, a evolução foi de 443 para
457,94 pontos.
A pontuação baixa mostra que esses alunos somente conseguirão
ingressar no ensino superior por meio das cotas reservadas a egressos da rede
pública. E também revela que eles não têm a formação e o preparo necessários
para acompanhar os cursos.
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