Novos
rumos para a educação
Ruy
Martins Altenfelder Silva (*)
Em
2013 não foi diferente. A divulgação dos resultados da Avaliação Internacional
de Alunos (Pisa, na sigla em inglês) 2012 colocou, mais uma vez, a educação
brasileira na berlinda e reacendeu a antiga discussão sobre como pôr no rumo
certo esse poderoso fundamento da cidadania e do desenvolvimento. Os argumentos
contra e a favor se entrecruzaram. Ocupar a 58.ª posição num ranking de 65
países não é fato a ser aplaudido, nem dá para dormir tranquilo em berço
esplêndido. Mas, olhando para trás, são de comemorar os avanços conseguidos,
ainda que sejam menos brilhantes do que seria desejável para um país que partiu
de patamares muito baixos de qualidade do ensino. Portanto, parece ser um
daqueles casos em que todos têm um pouco de razão.
Começando pelos aspectos
positivos: é relevante a evolução de desempenho registrada nas provas de 2012,
que avaliaram alunos de 15 anos, frequentando do sétimo ao nono ano do ensino
fundamental ou qualquer série do ensino médio. O relatório destaca o avanço de
4,1 pontos por ano no período 2003-2012. Ênfase para a proficiência em
Matemática, com um salto de 356 para 391 pontos, numa escala que vai de zero a
mil, e o aumento do número de jovens inseridos em salas de aulas. Aspectos
negativos: a má pontuação em Português e Ciências e apenas 0,8% dos estudantes
tendo atingido notas compatíveis com os níveis 5 e 6, que indicam aptidão para
resolver questões mais complexas, enquanto 70% não ultrapassaram o nível 1 em
Matemática, sendo incapazes de ler um simples gráfico de barra.
Justificativas e críticas
à parte, está claro que o nó da educação brasileira saiu da esfera da inclusão
educacional e até mesmo do volume de investimentos. Também parece claro que a
hora é de planejar o futuro bem próximo, para que o País não perca, mais uma vez,
o bonde da História e, portanto, aproveite ao máximo o momento propício que se
avizinha na área educacional para dar o esperado salto de qualidade no ensino.
No início da década de 2020 - ou seja, daqui a seis ou sete anos - o Brasil
terá 5 milhões a menos de alunos em idade escolar, como apontam as estatísticas
demográficas do IBGE. E, o que é melhor, terá R$ 120 bilhões a mais para
investir no ensino se o projeto do pré-sal sair como o governo federal anuncia.
Chegou a hora de deixar de
lado corporativismos, visões essencialmente ideologizadas, debates estéreis,
que não levam a nada, e buscar lições produtivas em experiências que deram
certo, tanto aqui como no exterior. Na China (que, aliás, acaba de atingir o
topo do Pisa), o aluno de 10 anos tem o mesmo desempenho de seu colega
brasileiro de 15, e o mesmo acontece com o coreano de 11 anos, o americano de
12 e o tailandês de 14. No Brasil, cresce o número de escolas públicas que,
mesmo sem mais verbas, apresentam enormes ganhos de qualidade na aprendizagem,
comprovando que a boa gestão escolar permite avançar em qualidade, mesmo nas
condições atuais.
Em comum todos os casos
têm como base a adoção de planejamento, metas, meritocracia, acompanhamento e
avaliações rigorosas (estas não para reprovar o aluno, mas para detectar e
corrigir as causas dos maus resultados). Os nós da educação brasileira já estão
devidamente identificados. A política pública da educação precisa, por exemplo,
revalorizar a figura do professor - tanto com programas de capacitação para
aprimorar o desempenho daqueles que integram o quadro atual de docentes quanto
adotando planos de cargos e salários compatíveis com a realidade do mercado de
trabalho para atrair melhores talentos para o magistério. Hoje essa carreira,
com salário médio nacional de R$ 1,4 mil, está em último lugar na preferência
dos jovens, que preferem tornar-se mecânicos, secretários ou trabalhadores da
construção civil.
Esse é apenas um dos
gargalos do ensino básico, que se alinha à necessidade de oferecer aprendizado
em período integral e com infraestrutura (laboratórios de ciências,
computadores, bibliotecas). Ou seja, é preciso oferecer aos alunos condições de
utilizar o tempo adicional com outras opções além das atividades culturais que,
hoje, são realizadas como único complemento às aulas das disciplinas regulares,
nas poucas escolas que funcionam em tempo integral. Outro ponto importante é a
revisão dos currículos, visando a estabelecer um padrão nacional, como forma de
reduzir as gritantes desigualdades regionais de aprendizado registradas em
todas as avaliações que abrangem o alunado de todo o País. Essa redução, aliás,
passaria também pelo investimento em educação infantil, com sensibilização das
famílias de menor renda para que ofereçam em casa o estímulo correto aos
filhos. E por aí vai.
A prioridade à qualidade
da educação trará ganhos para os jovens que estão prestes a ingressar no
mercado de trabalho, ao melhorar as suas condições para disputarem empregos
mais bem remunerados. O desenvolvimento do País sofrerá forte impacto, pois
cada ano adicional de escolaridade equivale também a 10% de aumento de
produtividade. Não é à toa que a China cresceu dez vezes mais que o Brasil nos
últimos dez anos (134% ante 13%).
A tarefa não é fácil, pois
envolve problemas que se acumulam desde o Brasil colônia. Ao contrário, é uma
verdadeira revolução, que demanda forte vontade política para vencer obstáculos
e pôr a educação no rumo correto, num processo que atingirá sua maturação plena
em várias gerações. Mas, na essência, talvez seja o maior legado que as
lideranças atuais devem às novas gerações. E, quanto mais cedo o desafio for
aceito, mais cedo o Brasil começará a colher os frutos da mais benéfica das
revoluções que pode empreender.
(*) É presidente do
conselho de administração e do conselho diretor do Centro de Integração
Empresa-escola (CIEE Nacional) e da Academia Paulista de Letras Jurídicas.
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