quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

CHUVAS DE VERÃO

Ellza Souza (*)

Todo ano é a mesma coisa. Nessa época chove muito em todo o país e o que se vê é a proliferação das doenças, as casas desabando, os morros despencando, os rios transbordando, a mortandade de peixes e aves. Os acidentes que acontecem em águas dos mares e dos rios com toneladas de óleo que grudam inexoravelmente nos indefesos seres cuja função no planeta é só viver. As aves não conseguem mais voar e desabam estressadas pelo barulho indescritível dos fogos de artifícios que no final do ano aumentam cada vez mais.

A chuva torrencial é boa de se ver e ouvir. Pena que as cidades são feitas de qualquer jeito, sem planejamento, sem saneamento, sem uma estrutura de convivência com a natureza que chegou antes do ser humano. O lixo, uma produção atabalhoada do homem que joga de tudo na rua sem medir as conseqüências, é um prato cheio para os ratos. O resultado a gente vê quando chove. Até morre gente, famílias inteiras ficam desabrigadas.

As pessoas dizem que não saem dos barrancos e beira de igarapés porque não têm para onde ir. O governo apregoa não existir mais pobreza no Brasil mas na primeira chuva de verão caem por terra esse discurso evasivo de falsas promessas. Vem à tona toda sorte de problemas humanos. O povo não tem casa, não tem trabalho, não tem saúde, não tem saneamento, não tem educação de qualidade, não tem dignidade. O povo tem bolsa família, bolsa floresta, bolsa universidade mas o que é bom como casa, comida e trabalho está cada vez mais escasso. O povo tem mesmo é a bolsa vazia.

E com um agravante nesse ano novo. Começou a se falar entre os entendidos, de inflação. Isso é muito grave tendo em vista que isso representa a corrosão de tudo o que o trabalhador honesto ganha e que escoa também pelo ralo da lama da incompetência governamental. Ah como faço meu apelo a todos os santos para que ilumine a cabeça dos políticos pois aí só um milagre para lhes dar juízo. E mais juízo ainda aos eleitores que sofrem, choram, reclamam mas votam nos “líderes” das pesquisas sem procurar saber o que já fizeram pela comunidade e quais as suas propostas. Está cada vez mais difícil viver numa cidade como São Paulo, Recife, Manaus, pelos problemas nunca resolvidos e sempre cantados em verso e prosa pelos artistas da manipulação.

Não é mais como no tempo do nosso pintor Moacir Andrade quando bastava dar um nó na saia de sua mãe, fazer uma careta do sol no chão e cantar “vai chuva vem sol pra secar o meu cerol”. E a chuva parece que sumia no firmamento. Agora as chuvas de verão desabam e o planeta não tem mais forças para recebê-las. Mudou o mundo, mudou o homem ou mudaram as crianças que não sabem mais cantar “Chamando o sol”?

(*) É escritora, jornalista e colaboradora do NCPAM/UFAM.

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