segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A VIDA NO PLANETA PEDE SOCORRO, PENSE NISSO

Ellza Souza (*)

Tudo que tem um começo terá um fim. É só observar melhor o desenrolar da vida no planeta. Apesar de que a fugaz passagem do homem nessa dimensão terrestre talvez não permita entender a complexidade da coisa. Então o que o ser humano poderia fazer agora era diminuir a ânsia de ter o melhor celular que o do vizinho. Aliás, acho que deveria, sim, olhar para o vizinho, mas para ter uma relação de amizade, de respeito, de solidariedade. Os donos do dinheiro graúdo estão começando a enxergar os efeitos da ganância sobre o meio ambiente. A terra, que também é finita, já reclama faz tempo e o ser humano, tão inteligente, se faz de cego e surdo. Não acerta a mão com a natureza. Com isso apressamos o nosso fim.

Agora é tarde minha gente. Não sou profeta nem nada mas está na cara que descemos uma ladeira sem volta. Lentamente estamos chegando ao fim, inevitável sem dúvida, mas poderia demorar mais uns zilhões de anos. Não cuidamos bem do planeta, não preservamos o que era vital para nós como a água, a floresta, os peixes, o vizinho. Os índios faziam isso e tiravam da natureza somente o que lhes servia, sem desperdício. Exterminamos muitos desses povos para facilitar o crescimento das cidades. Criamos televisão, rádio, celular, internet, tudo para levar mais pessoas a um padrão melhor de vida. Qualidade de vida, nesses casos, é consumir cada vez mais, é adquirir à custa de “suaves prestações” o último modelo de carro. Com isso nos encapsulamos dentro de nossos egoísmos e nosso lixo.

Dentro do carrão o mau motorista esquece que sua mãe ou seu filho são pedestres em algum momento. Sem contar que na minha cidade (Manaus), não existe espaço para os pedestres. Será que os governantes perderam o prazer de andar nas ruas, a pé? Que pena mas no meu bairro o progresso chegou. Estão passando o trator nas árvores para a construção de prédios. Sempre achei que ali na área verde da Darcy Vargas/ Dom Pedro/Tocantins caberia um belo bosque dos buritizais com o nome do proprietário do terreno que aí sim ficaria para sempre ligado a uma boa causa. Mas idéias simples em prol da comunidade não geram votos (será?) e a comunidade não cobra.

Ninguém cumpre o seu papel. Nem o pobre e nem o rico. O de poucas posses por incrível que pareça, consome muito e errado. Por medo de passar fome procura comer “de um tudo” e prefere jogar no lixo o que sobra. Está sempre com o celular último modelo na mão. Todos tem uma televisão em casa que estimula sem parar a consumir produtos de qualidade duvidosa. Os ricos, fechados em seu mundo dourado, esquecem que para viver precisam dos mais pobres. E consomem de tudo porque podem. Isso forma uma roleta perigosa. Não sei o que é pior. Os pobres pelo menos não tem estudo e não conseguem avaliar o impacto do que fazem. Os ricos, principalmente os políticos e grandes empresas, têm estudo (pelo menos era pra ter) e sabem exatamente as conseqüências de seus atos.

Existem lugares em nosso planeta, que já foi azul das águas e verde das florestas, que a mistura com aditivos químicos transformou a água em puro veneno e uma terra sem cores.. Com isso os donos dessas empresas envenenadoras e suas famílias, pensando no lucro, podem até beber suas águas minerais, mas em algum momento vão ter que beber suas próprias lamas. Os pequenos rios estão secando ou enchendo demais e criam força para retorcer qualquer carro luxuoso ou fusca. Todos na natureza cumprem o seu ciclo, sem pensar.

O ser humano que pensa não consegue fazer nada diante dessa força. Tem crime maior que aterrar um igarapé? E fazem isso não é de hoje. Já existem cidades que o produto água é escasso e valioso e corremos o risco de morrer à míngua. Não hoje, eu, minha geração, mas a continuidade do ser humano depende de nós mesmos e não estamos sabendo domar o ímpeto da ganância e do egoísmo que nos levará a derrocada. Quem acha que vale tudo por dinheiro vai ter que passar um prédatado para o papai do céu. Será que tem crédito por lá? É melhor começar a rezar e pensar nas besteiras que fazemos no dia a dia.

O que está acontecendo no Brasil inteiro com as chuvas de verão nesse começo de 2011 é muito triste. No Rio principalmente foram dizimadas famílias inteiras que não tiveram a menor chance de defesa. Observei que apenas duas classes estavam imunes aquele enxovalhamento todo. Os repórteres, que aparecem depois da tragédia, muito bem equipados, que registravam as histórias e aumentavam a todo momento a lista de mortos. E os políticos que “passam a vista” e prometem recursos como para se livrar de alguma responsabilidade. É a tal da mania de querer resolver os efeitos e a causa só Deus resolve. Aí começam os pedidos de doações financeiras, número de contas bancárias para depósitos. E ao mesmo tempo se ouve as notícias de que nem o dinheiro público prometido do ano passado ainda não foi liberado por falta de projetos se não me engano. Ouvi durante o ano passado algumas noticias de alimentos para doação que se estragaram em armazenamentos inadequados. Isso é coisa de país mal administrado, de povo que desperdiça de tudo e não sabe escolher seus governantes.

As desgraças naturais acontecem no mundo todo. Mas em países cuja população não deixa a corrupção tomar conta e cobra serviço das autoridades, os estragos materiais são menores e as vítimas são poucas. Muita coisa pode ser feita num momento como esse. Sugiro que os empresários donos de banco que ganharam nesse ano lucros exorbitantes à custa da população fique responsável por toda a água mineral e material de higiene necessários e se encarregue de deixar nos locais onde se faz necessário. Mole essa. Aos que ganham salários exorbitantes na televisão (e aos donos das mesmas) à custa também desse público que lhes dá tanta audiência e com isso lucros e mais lucros, poderiam doar toda a alimentação apropriada para os sobreviventes.

Aos políticos sugiro que doem o abusivo aumento de 67% de seus salários e mordomias e do presidente da república os 134% que falta ao povo para que construam uma casa decente em lugar digno. Prefeitos, vocês cuidam da saúde das vítimas, das vacinas, da transferência das pessoas para lugar seguro, do mapeamento das áreas de risco para evitar futuras catástrofes e fiscalizem com rigor as construções nesses locais. A Presidente que conta com as Forças e dinheiro sobrando pode ficar com a infra-estrutura para minimizar o que já está arrasado e a segurança de tudo.

Claro que a natureza não seleciona entre ricos e pobres. Mas nesse momento de dor todos estão no mesmo nível - o do sofrimento. Em morros, encostas e beira de pequenos rios não podem fazer casas. Ah o povo daqui pra frente tem que exigir bons serviços das autoridades. Ao povo cabe a conscientização, se é que isso é possível sem educação, pois é quem realmente sofre. Então lixo ao relento não pode. Construção só em terrenos apropriados e aí tem que haver uma parceria honesta com o governo que deve cumprir as promessas de luta pelos pobres com a construção de boas moradias para quem precisa. Caso contrário o ano que vem a história se repete com mais chuvas poderosas que lavam tudo menos a cara de pau de alguns. Inclusive os que se aproveitam para saquear, para desviar doações, para vender a quem perdeu tudo.

É uma questão de bom senso entre seres tão inteligentes como os humanos. E uma questão de entender a lição que Jesus em sua sabedoria nos deixou: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”. Portanto não faças ao outro o que não queres pra ti. Deu pra entender ou tem que desenhar? Não é preciso sair beijando todo mundo na rua mas pelo menos olhar o vizinho com amizade já aproxima o homem de Deus.

(*) É jornalista, escritora e colaboradora do NCPAM/UFAM.

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