SITUAÇÃO
DOS INDÍGENAS DO ALTO JURUÁ, NO AMAZONAS
O
documento postado faz parte do Dossiê que as lideranças indígenas do Alto Rio
Juruá apresentaram ao editor do NCPAM,
na quarta-feira (13), solicitando apoio para afirmação de seus direitos
constitucionais.
A região do Alto Juruá tem uma sede da FUNAI
no Município de Eirunepé que tem sob sua jurisdição os municípios de Eirunepé,
Envira, Itamarati e Ipixuna. Conta apenas com um funcionário lotado e sem
equipe de apoio (Administrativo, Serviços Gerais, Motorista Vigias, etc. Nesta
região existem cinco terras indígenas (Todas demarcadas e devidamente
homologadas) que juntas somam 1.473.000 Ha (Um milhão, quatrocentos e setenta e
três hectares) onde estão localizadas sessenta e sete aldeias das etnias
Kulina, Kanamari e Dení que abrigam uma população de mais de cinco mil
indígenas, sem considerar os residentes nas sedes municipais.
Atualmente
estas populações procuram a FUNAI buscando apoio para documentação pessoal,
acesso a benefícios sociais, assistência social, mediação de conflitos com não
índios, garantia de soberania sobre suas áreas, acesso a políticas públicas e
apoio na cobrança aos poderes para acesso a serviços básicos de saúde, educação
entre outros, mas o trabalho só é feito em Eirunepé, ficando os demais
municípios a descobertos e aguardando ações anuais da SEAS para receber
atendimento da FUNAI.
A região apresenta um dos menores índices de
desenvolvimento humano do país e que tem reflexo na população indígena (IDH-M é
0,51), diante destes índices, a região do Juruá é considerada uma das mais
carentes do país, e as administrações municipais que tecnicamente são mal
estruturadas, por fatores que vão de baixas arrecadações, falta de pessoal
qualificado, má gestão e desvio de recursos públicos, não atendem dignamente a
população não indígena e muito pior a população indígena, que se encontra em
total abandono pela inexistência ou ma qualidade dos serviços de educação,
saúde, assistência técnica, assistência social e ausência da FUNAI que
atualmente está sem recursos até mesmo para a limpeza e conservação das
instalações, aquisição de material de expediente, e principalmente para
atendimento e deslocamento no âmbito da jurisdição.
A
população indígena por sua vez, em decorrência destes fatores e muito
enfraquecida politicamente, pouco atuante na gestão das políticas públicas. Nas
aldeias não existem meios de comunicação a exceção de uma aldeia apenas que
possui telefone, o índice de alcoolismo é alto, ha insegurança alimentar,
prostituição, suicídios, aposentados são constantemente vítimas de fraudes
praticadas por comerciantes, corretores de empréstimos consignados e outros
delinqüentes, entre outros problemas.
Um
dos maiores crimes que vem sendo cometido contra os índios da região, alem de
desvio de recursos públicos que deveriam ser aplicados na educação e saúde, é o
crime de estelionato e desrespeito ao Estatuto do Idoso. São muitos os casos de
fraudes. Primeiramente dos comerciantes, que retém cartões e senhas de
benefícios sociais e aposentadorias como condição para a realização das vendas
à prazo, onde na maioria das vezes as mercadorias são superfaturadas e os
indígenas ficam reféns de dívidas que por não ter noção de valores da moeda,
ficam escravos de dívidas infinitas. A maioria destes comerciantes conveniou
com o BRADESCO e instalou dentro dos comércios terminais de caixa como
correspondente bancário para fazer as transações bancárias com dos indígenas sem
qualquer tipo de fiscalização ou respeito as regras estabelecidas em lei. Por
outro lado, os bancos pára-quedistas que aterrisam nos municípios através de
corretores de empréstimo tem criado um problema maior ainda, pois aliciam os
índios a fazerem empréstimos que não tem noção de valor, prazo de pagamento e
alguns acham que nem precisarão pagar, muitas vezes estes corretores cobram
percentuais dos próprios indígenas em cima do valor emprestado, percentuais que
podem chegar até a 50%.
O
acesso aos municípios da jurisdição é muito complexo, pois são muito distantes
entre si, pela única via de acesso que é o rio, podendo se levar até cinco dias
em embarcação regional, já o acesso as aldeias é mais complexo ainda,
considerando que algumas aldeias localizam-se dentro de igarapés centrais onde
só é possível o acesso em épocas de enchentes e no caso da aldeia Jarinal,
localizada na terra indígena Vale do Javari, da sede municipal de Eirunepé até
a aldeia o tempo de viagem pode chegar a 15 dias, fatores que geram pesados
custos operacionais a entidades e principalmente aos indígenas que são
obrigados a buscar na cidade o que deveriam receber na aldeia. Para a FUNAI
cobrir toda a área no decorrer de um semestre, a única possibilidade é via
aérea para as sedes municipais em seguida por via fluvial para se atingir as
aldeias que muitas delas só em embarcações muito pequenas e com todo um aparato
de apoio, Facões, Machados, Motosserras e outros equipamentos para a
desobstrução das vias de acesso.
Outro
grave problema enfrentado pelos indígenas é a falta de local para se alojarem
nos municípios de Ipixuna, Eirunepé e Envira, quando vem para as sedes a fim de
tratar de interesses particulares (Saque de aposentadorias, Bolsa Família,
Habilitação de Benefícios sociais, tratamento de saúde etc.). Recentemente no
município de Eirunepé foi solicitada à interdição da casa de apoio indígena
(doada pela OPAM) devido às péssimas condições sanitárias e subumanas, esta
construção que apresenta péssimo estado de conservação, esta com a energia
cortada, a rede de esgoto está toda comprometida, Cheia de goteiras,
infiltrações entre outros problemas.
Os
indígenas necessitam com urgência da implementação de projetos de manejo, uso
sustentável dos recursos naturais e produção de alimentos, considerando que
atualmente os povos da região com raras exceções, não praticam mais o
nomadismo, estando assentados em comunidades onde os recursos naturais já não
existem em abundancia nas proximidades, sendo necessárias praticas
agropecuárias para garantir a segurança alimentar através de culturas anuais,
frutíferas e criação de médios e pequenos animais.
Outra
questão emergencial é a na área da educação. Quase nenhuma comunidade indígena
tem escola, as aulas são ministradas nas residências dos professores, por outro
lado em razão das distancias e a logística de deslocamento, a secretaria de
educação não realiza o acompanhamento destes profissionais que na maioria das
vezes deixam muito a desejar em relação à assiduidade, cumprimento do
calendário e qualidade do ensino, a FUNAI também não tem recursos financeiros
para acompanhar a execução destes serviços por parte do poder público e
diminuir o êxodo que já vem acontecendo nas aldeias dado a estas condições. Os
indígenas estão se mudando para a cidade em busca de melhores condições de
vida, mas aqui encontram a falta de oportunidade de trabalho pela
discriminação, o preconceito, o aliciamento para o alcoolismo entre outros
problemas. Abaixo uma pequena amostra do universo de denuncias recebidas na
FUNAI.
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